Andando pelas ruas de Santana, observando seus silenciosos monumentos desprezados, as placas de ruas e os paralelepípedos da João Cordeiro, algumas questões me surgiram: porque Santana tem nomes de ruas de pessoas tão desconhecidas hoje para os santanenses? Porque estes ilustres são tão desconhecidos para as novas gerações?
Calei estas indagações em mim como quem cala o tolo que faz perguntas vãs e incovenientes e segui meu caminho rumo à casa de minha avó que mora na Avenida São João (o mais conhecido dos ilustres com nome de rua).
Contudo, o mencionado pensamento, "em forma de menino incoveniente, insistente e teimoso" me trouxe à memória, como argumento para não desistir da curiosidade de conhecer os ilustres homenageados com nome de rua, o trecho de uma conversa que tive com uma das descendentes de João Cordeiro, que me contou os tantos benefícios que realizara o ancestral.
Persuadido por tão forte argumento fiquei curioso por saber mais sobre este ilustre desconhecido. Pus-me então a caminho.
Primeiro naveguei pela Internet e, no site do Instituto Histórico, Antropológico e Geográfico do Ceará encontrei um artigo que é a transcrição da auto - biografia de João Cordeiro, um dos maiores abolicionistas do Brasil.
Os primeiros parágrafos de sua auto-biografia foram para mim uma grande surpresa:
"Nasceu em 31 de Agosto de 1842, na cidade de Sant'Anna do Acaraú. Filho legítimo de João de Castro Cordeiro e Floriana Angélica da Vera Cruz Cordeiro."
"Nos primeiros annos de sua vida fez o que fazem todos os meninos pobres do sertão.Tomava banho nos rios, andava montado nos carneiros e nos bezerros,corria a cavalo e ia ao roçado buscar milho, feijão e melancias."
"Assim viveu até 11 annos, idade em que foi para uma escola de primeiras letras que frequentou até doze annos."
"Com 13 annos incompletos foi para a cidade de Acaraú, empregado como caixeiro de seu parente Major Francisco Ferreira. (...)"1
O João Cordeiro que eu conhecera de maneira tão indiferente em minhas aulas de história no ensino médio, quando o professor tratava da abolição dos escravos,nasceu em Santana e aqui viveu até os treze quando dela partiu para iniciar sua honrosa carreira de comerciante, político e industrial.
Padre Sadoc, no segundo volume de sua Cronologia Sobralense, afirma que os pais de João Cordeiro casaram-se em 18 de agosto de 1828, indo morar em Santana onde nasceu o Senador João Cordeiro.2
Antônio Bezerra, em seu livro: Notas de Viagem, ao contar o relato de sua passagem por Santana,faz uma referência ao Pai de João Cordeiro:
"Na manhã do dia 10, tendo agradecido ao Sr. Nascimento a generosa hospedagem que me emprestara, abracei o respeitável ancião, pai do cidadão João Cordeiro, o herói do movimento abolicionista, e tornei a Massapê".3
O trecho deste livro nos mostra que os pais de João Cordeiro moraram na sede da cidade e que uma casa histórica importante deve ter sido apagada do mapa arquitetônico da cidade pela louca sanha da modernidade ( ou seria merdonidade?) sem deixar sombra ou lembrança de sua história.
Conhecida a história, ficou em mim o desejo de conhecer o vulto.
A providência veio em meu auxílio quando, visitando o Museu do Ceará, encontrei em uma exposição o retrato do Senador João Cordeiro tendo abaixo uma breve biografia que fazia menção ao seu nascimento em Santana do Acaraú.
Sem nenhum pudor, "saquei" a minha câmera digital e fotografei o retrato do Senador. Graças a esta cópia "proibida" temos hoje no Memorial da Paróquia uma singela reprodução do retrato deste filho ilustre que será agora conhecido, fazendo com que o santanense descubra em sua história motivo de orgulho!
O caminho de descoberta que fiz sobre a vida do Senador João Cordeiro me fez concluir que quando a história se faz mais próxima de quem a estuda ela se torna prazeirosa, fonte de inspiração, de crescimento da auto - estima dos indivíduos e da estima de que um povo tem de si.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 Apontamentos biográficos de João Cordeiro escritos por ele próprio, Revista do Instituto do Ceará, 1945, disponível em www.institutodoceara.org
2 Araújo, Pe.Francisco Sadoc de; Cronologia Sobralense, Volume II, pág. 200, Imprensa Universitária, Sobral - Ce.
3 Bezerra, Antônio; Notas de Viagem, pág.75
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