terça-feira, 30 de agosto de 2011

SOBRE O LIVRO: O MUNICÍPIO DE SANT'ANA

Antes da criação dos Estados nacionais, os homens tinham como Pátria as suas cidades, com as quais se identificavam e apresentavam como referência de sua origem. No italiano a palavra paese significou primeiramente “cidade”, “aldeia”, vindo posteriormente a significar país. Na língua portuguesa esta palavra era usada inicialmente para designar a região onde a pessoa nasceu, com dialeto, costumes e leis próprias.
Na época dos grandes impérios, que pela força da conquista anexavam aos seus domínios povos com costumes, línguas e tradições diversas, as pessoas identificavam-se com algum destes impérios.
Os Estados nacionais surgiram no final do século XVIII substituindo as antigas cidades e impérios, dando origem a grandes grupos populacionais com uma língua, uma cultura mais ou menos homogênea e um território delimitado e contínuo: os países.
Embora a noção de país há muito tempo esteja arraigada em nossos costumes, aquela primeira identificação com o lugar de origem, a cidade, a aldeia, é algo muito forte ainda.
Por esta razão não é incomum o desejo que muitas pessoas têm de conhecer a história de suas cidades. Nem tampouco incomum o desejo de transmitir esta história às futuras gerações de maneira fidedigna.
Diversas são as formas de transmitir esta história. A oralidade, por longas datas, foi a principal forma. A esta, muitas vezes e de maneira não incomum, sucede a forma escrita que, dependendo da época e do nível de instrução a que chegou o povo, terá maior ou menor velocidade de difusão.
Os que, por primeiro empreendem o registro escrito da história de suas pátrias, têm nas mãos um grande poder, uma grande missão e responsabilidade. Têm o poder (e correm o risco) de imprimir uma visão da história que lhes pareça a mais exata, a missão de transmitir esta história e a responsabilidade de “preservar o depósito da oralidade” sendo fiéis à revelação que lhes foi feita.
Creio que este tenha sido o desejo do Magistrado José Mendes Pereira de Vasconcelos quando, em 10 de fevereiro de 1882, fundou o semanário O Município de Sant’Anna, do qual foi redator chefe até 1889, ano em que a publicação foi suspensa em consequência da seca.
Tal semanário tinha sua própria tipografia, localizada em Santana do Acaraú, à Rua Humaitá (atual João Arcanjo de Maria). Seu programa era o seguinte: “lembrar ao povo seus deveres, propugnar pela defesa de seus direitos, apresentar as medidas ao seu alcance, tendente a prosperidade do município sob o tríplice ponto de vista – comercial, social e industrial; evitando as escandescentes questões políticas e pessoais, verberando o vício e aplaudindo a virtude, onde quer que se achem.”
O Barão de Studart em seu Dicionário Bio – bibliográfico cearense afirma que foi através deste veículo que o Dr. José Mendes lutou contra a escravidão em Santana do Acaraú, a qual teve seu fim em 26 de Janeiro de 1884.
Antônio Bezerra esteve em Santana de quatro a dez de outubro de 1884. Em seu livro notas de Viagem, o mesmo dá notícia de dois jornais que circulam na cidade: ‘Município de Sant’Ana’ e ‘A Comarca de Santana’, que começara a circular naquele ano.
O mesmo diz ainda que muitos jornais da Europa eram enviados à sede do Jornal Município de Sant’Ana, que estava situado à Rua Coronel Menescal nº 2.
A tradição oral da cidade dá notícia da publicação, no referido jornal, de um folhetim semanal contando a sua história, à maneira como eram publicados os romances.
Na página sete do livro o autor refere-se a si mesmo como folhetinista:
“Pois bem; para obviar estas e outras dúvidas, de certo já levantadas, é que o folhetinista, dedicando-vos esta página, apressasse, antes de entrar no seu intuito, em declarar que mais antiga, do que se supõe, é a história do seu Município....”
Sabe-se que as páginas do folhetim foram, posteriormente, reunidas em um livro, que recebeu o mesmo título do jornal. Contudo, não se sabe quando e de que maneira.
No trecho do livro, situado à página 190, o autor (ainda desconhecido) faz uma descrição da casa onde funcionava a tipografia deste jornal, dizendo o seguinte: “É a casa de tipografia, onde, quatro vezes por mês se imprimia o nosso jornal – Município de Sant’Anna -, tão modesto quão despretensioso na sua existência.”.
Esta afirmação: “onde, quatro vezes por mês se imprimia o nosso jornal”, indica: uma mudança de sede do jornal (da Rua Humaitá para do Coronel Menescal, confirmada pelo que afirma acima Antônio Bezerra) e que possivelmente a reunião destes folhetins ocorreu depois de 1889.
A senhora Rosa Eronides Pereira, grande memorialista de nossa cidade, tendo ocupado o cargo de secretária paroquial em vários paroquiados, afirma que Dom José Tupinambá da Frota (1º Bispo de Sobral) comprou a Tipografia do Jornal Município de Sant’Anna para constituir o maquinário do Jornal da Diocese Correio da Semana e, para retribuir ao povo Santanense a aquisição, reuniu as páginas do folhetim que contava a história da cidade em um livro que, foi impresso em grande quantidade, e distribuído aos cidadãos letrados.
Dom José Tupinambá da Frota, em sua História de Sobral, diz que o Jornal Correio da Semana foi fundado em 1918 e nenhuma referência faz, na lista de jornais que cita em sua obra, ao Jornal Município de Sant’Anna, tampouco á compra de sua tipografia.

Outro fato que deve ser observado é que só foi legado a Santana do Acaraú o folhetim que conta sua história, ficando outros conteúdos publicados no referido jornal na obscuridade histórica. Tal fato se denota do subtítulo da primeira página:
“Publicado no ‘Município de Sant’Anna’ jornal que circulou por muito tempo naquela cidade.”
A autoria do “folhetim reunido” é questão controversa. A maior parte daqueles que conhecem o livro afirma que o mesmo foi escrito somente pelo Dr. José Mendes. A Senhora Rosa Eronides Pereira afirma que este foi escrito por um Advogado Acarauense chamado Antônio Xavier de Maria Castro, uma vez que o mesmo, em certo trecho do folhetim, faz referência à cidade de Acaraú como sua terra natal e á Santana do Acaraú como terra que muito ama.
Por fim, pode-se afirmar que tanto o Jornal, quanto o folhetim, começou a ser escrito e impresso em 1882 conforme se observa do trecho da página sete, onde o autor afirma que o município (Santana do Acaraú) “conta 20 anos de existência, a datar da criação da sua Vila, em 1862 (...)”.

3 comentários:

  1. Nossa Santana do Acaraú é patrimônio da história do Ceará e do Brasil, sua trajetória é digna de grande respeito, e ainda hoje ela guarda um patrimônio de disperta as memórias dos mais velhos e busca dos mais jovens. Nós Santanenses devemos ter extremo cuidado com nossa história, com nossa identidade, com nossa cultura, portanto, devemos ter cuidado com a nossa casa. Fábio Gomes.

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  2. quis dizer: "e ainda hoje ela guarda um patrimônio que disperta as memórias dos mais velhos e a busca dos mais jovens" . Minhas desculpas.

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