segunda-feira, 17 de outubro de 2011

COMENTÁRIO SOBRE O PRIMEIRO CAPÍTULO DE O MUNICÍPIO DE SANTANA

No primeiro capítulo de o Município de Santana, o leitor deve observar conosco alguns detalhes pequenos e importantes para a compreensão da obra de José Mendes Pereira de Vasconcelos e seus companheiros: a frase do cabeçalho e outra frase do texto que nos indica que corrente historiográfica os mesmos utlizaram.
As frases do cabeçalho assim introduzem o leitor da época ao texto: "Ligeiros traços históricos e topográficos do município de Sant'Anna. Publicado no 'Município de sant'Anna' jornal que circulou por muito tempo naquella cidade."
Àqueles que hão de ler o livro atualmente precisamos explicar que, antes de ser publicado em livro por Dom José Tupinambá em 1926, O Município de Sant'Anna foi publicado em folhetins de 1882 a 1889 em jornal de mesmo nome que circulou na cidade.
O fato de ter sido publicado em folhetins se deve a formação intelectual de seu redator chefe, José Mendes Pereira, toda ela burilada em Recife, na faculdade de direito, em época de grande ascensão cultural e intelectual da mesma, onde não raras eram as associações literárias organizadas por alunos cearenses, cuja presença era marcante.
Mesmo depois que voltou de Recife, Dr. José Mendes recebeu forte influência, na época de deputado provincial, dos circulos sociais dos quais fazia parte em Fortaleza. Em um deles estava Dr. Carlos Studart Filho, grande historiador cearense.
A outra frase do primeiro capítulo é esta:"(...)o seu fim é DESCREVER com verdade os acontecimentos mais notáveis no Município, acompanhando-os de uma descrição topographica mais ou menos fiel."
Esta frase nos mostra que o autor segue uma corrente historiográfica em voga à época: a positivista. Não há em todo o texto a preocupação em problematizar ou discutir questões, mas em DESCREVER fatos da forma mais "imparcial" possível além do território da cidade, suas ruas e principais edificações.
O positivismo esteve presente em toda a formação de José Mendes em Recife como relatamos em outro artigo deste blog.
Neste primeiro capítulo os autores relatam a história da fundação da Capitania do Ceará com o fim de ligar fatos da história desta fundação à história de Santana do Acaraú.
Tratando das invasões holandesas, os autores de o município de Sant'Anna, apontam a guerra com a Holanda como a razão da migração, para o vale do Acaraú, dos primeiros indivíduos brancos que por aqui habitaram, num espaço de tempo de 1630 a 1654,oriundos da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A ocupação do território que corresponderia ao da atual Santana do Acaraú parece, no entanto, ter ocorrido anos depois do período de tempo surgerido pelos autores supracitados.
Os dados que analisamos nos levam a crer que a ocupação deste, que posteriormente seria chamado de Santana do acaraú, se deu por conta da expansão da pecuária que, destruindo as sociedades indígenas, tomou a terra destas e se deu em duas fases: a primeira ou do absenteísmo, ocorrida entre mais ou menos entre 1680 e 1720; e a segunda fase ocorrida a partir de mais ou menos 1720.
A fase inicial carcterizou-se pelas primeiras lutas entre os colonos e os índios, os quais lutavam contra a expropriação de suas terras; e pelo fato de os fazendeiros não residirem diretamente nos sertões, ficando na Zona da Mata Açucareira de Pernambuco e Bahia, obtendo sesmarias e enviando seus vaqueiros para cuidar das mesmas e do gado que para estas enviavam.
Já a segunda fase teve como principais características: a instalação dos donos de fazenda com suas famílias no sertão (graças ao extermínio dos índios), á decadência da Zona da Mata Açucareira e à elevção de alguns vaqueiros à condição de proprietários, muito embora o absenteísmo não tenha sido totalmente abandonado por alguns fazendeiros.
Até agora, com os dados que dispomos, podemos dizer que a maioria dos indivíduos que ocuparam o território que mais tarde os mesmos, ou seus filhos, denominariam de Santana do Acaraú, foram pernambucanos que trouxeram seus gados pela rota do "Sertão de fora" cujo caminho iniciava pelo litoral, seguia pelo Rio Grande do Norte em direção ao Maranhão de onde os vaqueiros alcançavam o interior do Ceará.
A primeira sesmaria concedida no vale do Acaraú foi dada ao pernambucano Manoel de Góes e seus companheiros em 20 de setembro de 1683. Como era comum na época os sesmeiros oficializarem o pedido muitos anos após terem ocupado as terras, não se pode dizer com precisão se Manoel de Goés; o único a ocupar (ou a mandar ocupar) de fato as terras que lhe foram concedidas, chegou aqui nestas plagas precisamente nesta data.
Antônio Bezerra, em seu livro Notas de Viagem assim descreve como Manoel de Góes mediu as terras que conquistara:

"Conta-se que tendo plantado o primeiro marco no lugar Picada, a três léguas do mar, montara um excelente cavalo, e subindo rio acima, com uma ampulheta na mão, onde deu uma hora, sentou o segundo, que denominou de Marco do Serrote".
"Por êsse sitema mediu ainda nove léguas das vinte e uma que lhe pertenciam, colocando no fim de cada hora de viagem novos marcos,os quais são conhecidos sob os nomes de Marquinho, Marco, antônio, Miguel, Poço Branco, Espinhos, Estreito, Tucanos e Pau - Ferrado, com uma légua de largura para cada lado do rio".

Um fato que confirma isso é a expedição do também pernambucano Leonardo de Sá em 1697 que, segundo o Padre Sadoc Araújo,foi a primeira tentativa de colonização da Ribeira do Acaraú por meio da ocupação de terras inexploradas da sesmaria dos Góes. O dito capitão tinha a intenção de reconhecer o território que desejava pedir como sesmaria, além de "domar e civilizar" os aborígenes.
A sesmaria só foi concedida a Leonardo de Sá em 1702. Muitas das terras desta sesmaria passaram a seus herdeiros que durante toda a sua vida tiveram que lidar com litígios. Destas as que mais nos interessam são aquelas que foram herdadas por seu filho Sebastião de Sá: as que vendeu, juntamente com o filho Antonio de Sá, ao Padre e amigo pernambucano Antonio dos Santos da Silveira; e aquelas que lhe foram seqüestradas pelo governo como a fazenda Sapó, sobre a qual falaremos mais adiante.
Outro pernambucano de muita importância para a história santanense é o Capitão Antônio Coelho de Albuquerque,homem influente em toda a Ribeira do Acaraú,era natural do Cabo de Santo Agostinho, filho do português Pedro coelho Pinto ( Natural da Freguesia de São Martinho da Vila de Monte - mor - o - Velho) e da Pernambucana, da cidade de Goiana, Romualda Cavalcante de Albuquerque.
Foi o primitivo dono da fazenda Baía, hoje distrito de Santana do Acaraú. Não podemos precisar se chegou nesta região antes do século XVIII.Seu primeiro casamento ocorreu em 1745 e o segundo em 1769.Deixou numerosa prole, sendo por isso tronco de inúmeras famílias desta região. Dentre os seus filhos destaca-se José Mariano de Albuquerque Cavalcante que foi o 5º presidente da província do Ceará em 1831.
Filho do pernambucano Gonçalo Ferreira da Ponte (tronco das famílias Ferreira da Ponte e Monte, falecido na ribeira do Acaraú aos 83 anos ), o Capitão Francisco Ferreira da Ponte, natural de Boa Vista, casou-se com Madalena de Sá no dia 20 de Setembro de 1738. Ela é uma das sete filhas do Pernambucano Manoel Vaz Carrasco. O Casal morou na Fazenda Curral Grande, hoje localidade pertencente ao Município de Santana.
Cláudio de Sá Amaral, filho de Antonio Henrique de Araújo e Joana de Abreu Quaresma, naturais do Rio Grande do Norte, casou-se com Maria da Cunha no dia 2 de Fevereiro de 1741.
Comprando terras do Padre Antônio dos Santos da Silveira em 1751, nelas residiu. Estas correspondem ao atual território da cidade de Santana.
Nascido na Paraíba em 1692, Cosme Frazão de Figueroa veio residir na fazenda Sapó. Ele é pai de Teresa de Jesus Vasconcelos que, das terceiras núpcias com João Carneiro da Costa, deu origem aos numerosos membros da família Carneiro desta região.
Pelo exposto, vê-se que a ocupção do território que corresponderia ao do municípo de Santana do Acaraú, deu - se em função das entradas do gado pelos sertões em fins do século XVII e meados do século XVIII. Esta é a razão pela qual pede sesmaria Manoel de Góes e seus companheiros, conforme pode observar aquele que se detiver a ler o documento de petição.
José Mendes, ao fazer referência aos indivíduos brancos oriundos da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco como primeiros povoadores do vale do Acaraú, silencia sobre a existência de indígenas na região, neste capítulo, vindo a referi-los, em capítulo que em breve transcreveremos,como bárbaros e selvagens.

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