SOBRADO DO PADRE ARAKÉN, CONSTRUÇÃO DO SÉCULO XIX, ANTIGA CASA DA FAMÍLIA DO REFERIDO PADRE E ATUAL SEDE DO MEMORIAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA SANT'ANNA
As construções com dois andares sempre constituíram, na história das cidades brasileiras, um sinal de grande poder monetário, status social e gosto requintado.
O sobrado do padre Arakén, o único de sua época e o único ainda hoje em seu bairro quanto ao estilo, muito pode contar do ramo da família Frota que habitou e habita a cidade de Santana do Acaraú: a história de “Frotas” orgulhosos de sua raízes portuguesas, de grande status social não só em Santana e com membros de sua família de renome local(Padre Francisco Arakén da Frota), regional(Dom José Tupinambá da Frota) e até nacional(Dom Jerônimo Tomé da Silva, Bispo Primaz do Brasil).
Conforme o Livro O Município de Sant’Anna e um Manuscrito que legou ao Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna a Senhora Rosa Eronides Pereira, o referido sobrado foi construído, na década de 40 do Século XIX, pelo Coronel Manoel da Frota de Maria (avô materno do Padre Arakén acima referido) na rua à época denominada 28 de Setembro, no local onde ficava a casa de taipa da fazenda do Padre Antônio dos Santos da Silveira, fundador da Capela em honra a Santa Ana que deu origem à Igreja matriz.
No relato que faz sobre Santana do Acaraú em seu livro Notas de Viagem, Antônio Bezerra afirma que “A parte norte, onde se acha igreja de N. S. Santana (...) tem os melhores prédios, observando eu, em alguns, certo asseio, comodidade e ricos móveis, que indicam prosperidade ou pelo menos amor de seus proprietários ao luxo.”
Isto nos leva a pensar que a mobília e a organização da casa desta pequena porção da Família Frota não destoavam das demais do Bairro de Santana, nome pelo qual era conhecido o atual bairro da Matriz à época.
Antes de passar, em 2004, pela reforma e pela restauração parcial que lhe resgataria da deterioração que vinha sofrendo há 33 anos, o mesmo tinha uma estrutura interna bem diferente da que hoje se encontra: pisos superiores de madeira, uma escada de madeira que ligava o piso superior à sala contígua à Loja de tecidos do Coronel Manoel da Frota, outra escada em espiral que ligava os pavimentos superiores á cozinha que mais tarde foi dividida e transformada em duas casas que hoje lhe são vizinhas e outra no último piso que o comunicava com um mirante, estrutura para a observação da paisagem circundante.
Conforme o manuscrito supracitado foi neste sobrado que Manoel da Frota de Maria e Constança Maria do Carmo Sousa Lima tiveram seus filhos: Antônio Epaminondas da Frota, Maria Luísa da Frota, José (que morreu ao nascer) e Úrsula Amélia da Frota (mãe do padre Arakén).
Dele saiu Epaminondas com doze anos para estudar em Fortaleza (partindo desta para os Estados Unidos para formar-se em Engenharia Civil) e Maria Luísa quando se casou com José Mendes Pereira de Vasconcelos, Advogado e fundador do Jornal: O Município de Santana.
Nele, muitas vezes, o Senhor Frota recebeu de maneira principesca alguns de seus ilustres parentes: Dr. Manoel Joaquim da Rocha Frota (que operou, com outro colega médico, a prima Úrsula de um mal ovariano), Dom Jerônimo Tomé da Silva(Bispo primaz do Brasil), Monsenhor Diogo José de Sousa Lima(que foi vigário da Meruoca e de Sobral), seu irmão Padre Miguel Francisco da Frota (que foi Pároco de Santana em 1849), Dr. Antônio Plutarco Lima (Advogado de renome em Sobral), dentre tantos outros.
DOM JERÔNIMO TOMÉ DA SILVA
Morrendo os patriarcas, o sobrado ficou aos cuidados de Dona Úrsula Amélia Frota, filha do Senhor Frota que, casando com o primo Manoel Lúcio Carneiro da Frota, ali viveu e gerou o filho Francisco Arakén da Frota.
PADRE FRANCISCO ARAKÉN DA FROTA
Foi no velho sobrado que inúmeras vezes, vestindo as anáguas da mãe como se fossem uma batina, enfeitando pequeninas mesas como se fossem altares, que o menino Arakén brincava de rezar missas que eram assistidas pelos empregados da casa.
Tais brincadeiras eram um prenúncio da vocação e missão Sacerdotal que exerceu durante vinte e quatro anos em sua terra natal e única Paróquia.
Morou o Padre Arakén no velho sobrado de seus avós enquanto com ele viveu a mãe, que faleceu a 22 de Dezembro de 1938 de maneira súbita.
Morrendo a mãe, o mesmo muda para uma casa que era herança de seus pais localizada na esquina oposta à do sobrado.
Anos depois o Padre Arakén cede o sobrado ao Professor Isaías Thomaz para que o mesmo abra o Educandário padre Joaquim Severiano e ao padre Luís Mendes Frota (seu sucessor na direção da paróquia) a sala do andar de cima a fim de que ali funcionasse a sede do Jornal A Defesa que circulou em Santana de 1945 a 1947.
Fechados o Jornal e o Educandário, Padre Joviniano Loiola Sampaio, que foi pároco da cidade de 1947 a 1949 e de 1951 a 1965, utilizou o velho sobrado como espaço para as reuniões de diversos grupos paroquiais.
Saindo da paróquia Padre Joviniano o sobrado tornou-se casa e escola do Maestro José Alberto Silva que teve, dentre seus pupilos o recém falecido maestro José Ataíde e outros companheiros membros de uma das bandas de música mais antigas do Vale do Acaraú.
Partindo da cidade o maestro José Alberto o sobrado permaneceu fechado e em deterioração por 33 anos quando em 2004 passou pela reforma a que nos referimos anteriormente, realizada pelos padres José Valter da Costa e Agnaldo Temóteo da Silveira a fim de que o mesmo lhes servisse de Casa paroquial, uma vez que o Vigário Emérito Padre Francisco José Aragão e Silva, padecendo de profunda depressão não podia mudar da antiga Casa Paroquial.
Falecendo o padre Aragão, os padres Agnaldo e José Valter mudam-se para a antiga Casa Paroquial, ficando o Sobrado reformado mais uma vez como espaço para as reuniões dos grupos e pastorais.
Em 17 de Julho de 2007, Padre Agnaldo Temóteo da Silveira, assumindo o posto de Pároco, inaugura, após um ano de trabalho e pesquisas, juntamente com Francisco Leandro Costa, O Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna, pequenino Museu situado no segundo andar do sobrado.
Esta sucessão de fatos mostra a importância de um edifício histórico como signo da cultura material e imaterial de um povo.
O velho sobrado do padre Arakén, traz em suas paredes e na metamorfose de sua estrutura o testemunho de várias eras da história santanense que pode ser contado às novas gerações como meio para a construção de sua(s) identidade(s).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo; Francisco Sadoc de, Cronologia Sobralense, Imprensa Universitária – UVA, Sobral – Ce, 1985.
Bezerra, Antônio; Notas de Viagem, Pág. 68, Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza – CE, 1965
Pererira, Rosa Eronides, Manuscrito da coleção do Arquivo do memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna.
sábado, 26 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
MEMORIAL DA PARÓQUIA DE SENHORA SANTANA UM INSTRUMENTO DE LUTA PELA PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA DE SANTANA DO ACARAÚ
A história de um povo é parte integrante e fundamental de sua identidade. Conhecer-se possibilita ao ser humano maior autonomia, uma vez que, contemplando sua memória e a de seu povo, o cidadão evita repetir erros do passado, retira dele ricas lições de sabedoria, torna-se mais solidário e mais grato, dentre outros tantos benefícios.
Constatando que as gerações mais novas de Santanenses desconheciam sua história, memória e identidade, Padre Agnaldo Temóteo da Silveira, no ano de 2006, ficou inquieto com tal situação.
Conhecendo num bairro de Fortaleza, um memorial construído e organizado pelo povo, encontrou no exemplo deste, uma opção para o povo Santanense. Um memorial em Santana do Acaraú funcionaria como um instrumento que valorizaria as memórias contadas por seus guardiões e instigaria a curiosidade dos mais novos, tão apegados ao apelo áudio – visual. Além destas razões um Memorial funcionaria como um espaço de preservação de peças que estão impregnadas de história muito mais do que de ouro ou outro qualquer valor material.
Assim, chegando desta frutuosa viagem à Fortaleza, o reverendo padre entrou em contato com Francisco Leandro Costa que, à época, iniciara uma pesquisa sobre índios na história de Santana do Acaraú, embora fosse enfermeiro por formação e lecionasse biologia. Com este o padre partilhou a idéia da organização, no segundo andar do sobrado Padre Arakén (um prédio histórico da cidade que pertence à paróquia), de um memorial que teria em si peças litúrgicas antigas da paróquia, fotos antigas da cidade, do Congresso Eucarístico (um evento onde foram comemorados os cem anos de instalação da Paróquia) e peças históricas de famílias santanenses que quisessem doá-las.
A idéia foi prontamente aceita pelo professor e, o primeiro passo de ambos foi pesquisar sobre a vida dos Párocos e buscar fotos ou retratos (pinturas) destes para montar uma parte fundamental do projeto: uma galeria de fotos e um pequeno livreto contendo suas biografias.
Naquele mesmo ano foi iniciada uma campanha para que objetos sacros que estavam sob a guarda de Santanenses, residentes ou não na cidade, fossem entregues à paróquia de Senhora Santana para constituírem parte do acervo do futuro memorial. Além deste apelo, a campanha incentivou às famílias a doarem fotos antigas, objetos, documentos, dentre outros que também constituiriam parte do referido acervo.
A resposta de muitas famílias Santanenses foi gentil, muitos foram aqueles que doaram peças de sua estima, que contam as histórias de gerações e gerações de membros de suas casas. Devoluções de objetos sacros foram feitas, projetos feitos para o memorial foram doados ao mesmo como uma galeria de fotos do Congresso Eucarístico Santanense e uma maquete em madeira do pavilhão onde se realizavam as solenidades do saudoso evento, além de outras tantas e importantes doações.
Foi com um acervo de peças que a Paróquia ainda possuía, com um relativo número de objetos sacros e litúrgicos devolvidos, com peças antigas doadas por famílias santanenses e com a dedicação altruísta de seus fundadores que o memorial foi aberto ao público em 17 de Julho de 2007 às primeiras visitações públicas.
Aquelas primeiras visitações foram marcadas pelo fazer memória de famílias inteiras que vinham visitar o espaço e reviviam com seus membros mais sábios fatos que ainda hoje têm repercussão em sua vida hodierna. Muitos foram os visitantes naquela ocasião que se emocionaram ao entrar em contato com peças que lhes recordavam sua meninice, sua juventude ou sua luta para vencer na vida.
Hoje, após uma fase onde só podia ser visitado com agendamento prévio, O Memorial da Paróquia de Senhora Sant’Anna encontra-se aberto à visitação pública no turno da tarde, das 14 horas às 16 horas, graças a uma parceria com a Secretaria de Cultura do Município, oferecendo aos santanenses, que ainda não conhecem este maravilhoso projeto, a chance de conhecerem mais a sua história, de reviverem suas memórias e colaborarem com a preservação das mesmas.
O Memorial de nossa cidade, assim como qualquer outro, é um projeto do povo. Nunca será pronto, mas estará sempre em construção, pois se norteia pelo princípio de que cada um de nós faz e é responsável pela história de nosso povo. Assim, é importante que outros se juntem a nós neste movimento e o assumam como seu, uma vez que preservar a memória é preservar a si próprio. Todos podem colaborar com este movimento visitando o Memorial, partilhando pesquisas importantes à Santana conosco, doando peças, sendo voluntário do espaço, elaborando projetos que possam utilizá-lo como instrumento, etc.
Aqueles que desejarem maiores informações podem entrar em contato conosco pelo e-mail: franciscolcosta2006@ig.com.br.
Todos somos atores da história da humanidade e nenhuma ação tem peso insignificante!
Constatando que as gerações mais novas de Santanenses desconheciam sua história, memória e identidade, Padre Agnaldo Temóteo da Silveira, no ano de 2006, ficou inquieto com tal situação.
Conhecendo num bairro de Fortaleza, um memorial construído e organizado pelo povo, encontrou no exemplo deste, uma opção para o povo Santanense. Um memorial em Santana do Acaraú funcionaria como um instrumento que valorizaria as memórias contadas por seus guardiões e instigaria a curiosidade dos mais novos, tão apegados ao apelo áudio – visual. Além destas razões um Memorial funcionaria como um espaço de preservação de peças que estão impregnadas de história muito mais do que de ouro ou outro qualquer valor material.
Assim, chegando desta frutuosa viagem à Fortaleza, o reverendo padre entrou em contato com Francisco Leandro Costa que, à época, iniciara uma pesquisa sobre índios na história de Santana do Acaraú, embora fosse enfermeiro por formação e lecionasse biologia. Com este o padre partilhou a idéia da organização, no segundo andar do sobrado Padre Arakén (um prédio histórico da cidade que pertence à paróquia), de um memorial que teria em si peças litúrgicas antigas da paróquia, fotos antigas da cidade, do Congresso Eucarístico (um evento onde foram comemorados os cem anos de instalação da Paróquia) e peças históricas de famílias santanenses que quisessem doá-las.
A idéia foi prontamente aceita pelo professor e, o primeiro passo de ambos foi pesquisar sobre a vida dos Párocos e buscar fotos ou retratos (pinturas) destes para montar uma parte fundamental do projeto: uma galeria de fotos e um pequeno livreto contendo suas biografias.
Naquele mesmo ano foi iniciada uma campanha para que objetos sacros que estavam sob a guarda de Santanenses, residentes ou não na cidade, fossem entregues à paróquia de Senhora Santana para constituírem parte do acervo do futuro memorial. Além deste apelo, a campanha incentivou às famílias a doarem fotos antigas, objetos, documentos, dentre outros que também constituiriam parte do referido acervo.
A resposta de muitas famílias Santanenses foi gentil, muitos foram aqueles que doaram peças de sua estima, que contam as histórias de gerações e gerações de membros de suas casas. Devoluções de objetos sacros foram feitas, projetos feitos para o memorial foram doados ao mesmo como uma galeria de fotos do Congresso Eucarístico Santanense e uma maquete em madeira do pavilhão onde se realizavam as solenidades do saudoso evento, além de outras tantas e importantes doações.
Foi com um acervo de peças que a Paróquia ainda possuía, com um relativo número de objetos sacros e litúrgicos devolvidos, com peças antigas doadas por famílias santanenses e com a dedicação altruísta de seus fundadores que o memorial foi aberto ao público em 17 de Julho de 2007 às primeiras visitações públicas.
Aquelas primeiras visitações foram marcadas pelo fazer memória de famílias inteiras que vinham visitar o espaço e reviviam com seus membros mais sábios fatos que ainda hoje têm repercussão em sua vida hodierna. Muitos foram os visitantes naquela ocasião que se emocionaram ao entrar em contato com peças que lhes recordavam sua meninice, sua juventude ou sua luta para vencer na vida.
Hoje, após uma fase onde só podia ser visitado com agendamento prévio, O Memorial da Paróquia de Senhora Sant’Anna encontra-se aberto à visitação pública no turno da tarde, das 14 horas às 16 horas, graças a uma parceria com a Secretaria de Cultura do Município, oferecendo aos santanenses, que ainda não conhecem este maravilhoso projeto, a chance de conhecerem mais a sua história, de reviverem suas memórias e colaborarem com a preservação das mesmas.
O Memorial de nossa cidade, assim como qualquer outro, é um projeto do povo. Nunca será pronto, mas estará sempre em construção, pois se norteia pelo princípio de que cada um de nós faz e é responsável pela história de nosso povo. Assim, é importante que outros se juntem a nós neste movimento e o assumam como seu, uma vez que preservar a memória é preservar a si próprio. Todos podem colaborar com este movimento visitando o Memorial, partilhando pesquisas importantes à Santana conosco, doando peças, sendo voluntário do espaço, elaborando projetos que possam utilizá-lo como instrumento, etc.
Aqueles que desejarem maiores informações podem entrar em contato conosco pelo e-mail: franciscolcosta2006@ig.com.br.
Todos somos atores da história da humanidade e nenhuma ação tem peso insignificante!
segunda-feira, 7 de março de 2011
HISTÓRIA DO RELÓGIO DA MATRIZ DE SANTANA
Por Sebastião Azevedo
SENHOR SEBASTIÃO AZEVEDO EM UMA VISTA AO RELÓGIO DA MATRIZ DE SANTANA DO ACARAÚ
O relógio da matriz de Santana do Acaraú veio de Paris, de navio, até Fortaleza; e de Fortaleza até Santana em carro de boi.
Chegou à Santana na tarde do dia 05 de novembro de 1905, sendo recebido e posto na torre da Matriz com grande alegria na mesma tarde.
Foi doado pelo Sr. Francisco de Assis Vasconcelos, custou cinco mil réis e teve como responsáveis por sua corda e manutenção uma sucessão de homens de uma mesma família: os Monte.
Sua primeira corda foi dada pelo Sr. João do Monte, a fim de que o mesmo soasse, nas terras de Senhora Sant’Ana, cinco horas da tarde.
Ficou o Senhor João nesta função por vinte e cinco anos, transmitindo-a ao filho Antônio Tibiriçá do Monte que era conhecido na cidade pelo codinome de mestre caboclo.
Mestre Caboclo exerceu este ofício por 26 anos e o transmitiu ao irmão Joaquim Jacaúna do Monte, que por sua vez, o exerceu durante 25 anos, passando a missão ao filho Sebastião Azevedo que, no mesmo ofício trabalhou durante 18 anos.
Quando Sebastião Azevedo passou o ofício, exercido pelos homens da família a 94 anos, ao filho José Wellington Azevedo, uma determinação paroquial interrompeu esta linha sucessória de guardiões do relógio matriz, passando os cuidados do mesmo ao Sacristão.
SENHOR SEBASTIÃO AZEVEDO EM UMA VISTA AO RELÓGIO DA MATRIZ DE SANTANA DO ACARAÚ
O relógio da matriz de Santana do Acaraú veio de Paris, de navio, até Fortaleza; e de Fortaleza até Santana em carro de boi.
Chegou à Santana na tarde do dia 05 de novembro de 1905, sendo recebido e posto na torre da Matriz com grande alegria na mesma tarde.
Foi doado pelo Sr. Francisco de Assis Vasconcelos, custou cinco mil réis e teve como responsáveis por sua corda e manutenção uma sucessão de homens de uma mesma família: os Monte.
Sua primeira corda foi dada pelo Sr. João do Monte, a fim de que o mesmo soasse, nas terras de Senhora Sant’Ana, cinco horas da tarde.
Ficou o Senhor João nesta função por vinte e cinco anos, transmitindo-a ao filho Antônio Tibiriçá do Monte que era conhecido na cidade pelo codinome de mestre caboclo.
Mestre Caboclo exerceu este ofício por 26 anos e o transmitiu ao irmão Joaquim Jacaúna do Monte, que por sua vez, o exerceu durante 25 anos, passando a missão ao filho Sebastião Azevedo que, no mesmo ofício trabalhou durante 18 anos.
Quando Sebastião Azevedo passou o ofício, exercido pelos homens da família a 94 anos, ao filho José Wellington Azevedo, uma determinação paroquial interrompeu esta linha sucessória de guardiões do relógio matriz, passando os cuidados do mesmo ao Sacristão.
quinta-feira, 3 de março de 2011
ÍNDIOS NA HISTÓRIA DE SANTANA DO ACARAÚ
A historiografia brasileira é marcada por um grave silêncio a cerca dos povos autóctones. Desde muito cedo o colonizador português fez referência a estes como bárbaros e cruéis, chegando a descrevê-los como animais.
O fato de nossas sociedades autóctones não terem deixado nenhum relato escrito sobre seu contato com os europeus e sobre a violência destes sofrida, fez com que as elites produzissem uma idéia de que a colonização brasileira foi mais pacífica que a da América espanhola e que em certa altura da história os índios deixaram de existir ou porque foram dizimados em conflitos armados ou porque deram lugar a indivíduos oriundos da miscigenação (Leonardi,1996).
Isto é observável no que diz respeito a índios denominados Areriús, citados como os primitivos habitantes da ribeira do Acaraú. A historiografia a cerca deles é pontual, imprecisa, como ocorre nos demais casos.
Os Areriús (também chamados de Reriús, Irariús, Irarijús, Arariús, Arearús e por outras mais corruptelas) fazem parte de uma família étnica que inclui em si dez tribos: os Tarairiús. Seu território, conforme Filho (1962), se estendia das extremidades das praias do Rio Grande do Norte até os sertões do Piauí e do Ceará, aonde chegavam a ocupar porções de terra dentro dos territórios dos Tremembé, dos Jês e dos Cariris.
Os Tarairiús praticavam nomadismo dentro de seu próprio território, movidos pelas necessidades do inverno ou da estiagem. Viviam da caça, da pesca, da coleta e do cultivo de alguns legumes. Faziam uso de vasos e outros utensílios de pedra. Podiam ser polígamos, eram endocanibalistas (praticavam canibalismo apenas com os de sua tribo como crianças que nasciam mortas, idosos, com o cacique e o pajé ao morrerem) e extremamente belicosos (FILHO,1962.)
Particularmente os Areriús habitavam as serras distantes oito léguas da Ibiapaba no sentido do nascente, e a bacia do rio Acaraú. Eram governados por quatro chefes e se diferenciavam dos demais Tarairiús por não serem polígamos e nem canibais. Um trecho da carta Ânua do padre Ascenso Gago, de 1695, nos afirma isto:
Já fiz aviso a vossa Reverência como tínhamos agregado à missão a nação tapuia reriú. Habita esta nação outra serra de penedia alta e fragosa, que dista da serra da Ibiapaba oito léguas, porém pequena em comparação dela, porque terá de comprimento seis léguas somente. É esta nação gente de corso. Há entre eles quatro principais pelos quais estão repartidos os vassalos, a saber: o Principal Timicu, o Principal Coió, o Principal Arapá e o Principal Guarará. Descem a fazer suas correrias pelos campos à caça e ao mel, e se tornam a recolher à sua serra. Não comem carne humana, bebem pouco, casam as filhas depois dos quinze anos de idade, costume geral dos Tapuias desta costa, não tem mais que uma mulher, à qual costumam repudiar alguma vez, principalmente se é preguiçosa. É nação belicosa e muito valente (LEITE, 1943).
No ano de 1675, portanto vinte anos antes, os índios Areriús sofreram fortíssima guerra na época de Bento Macedo, sendo muitos deles mortos e seus filhos e mulheres reduzidos ao cativeiro. (ARAÚJO,1979).
Ainda conforme Araújo (2000) estes índios foram aldeados, em 1712, na serra da Meruoca, sob a direção do Padre José Teixeira de Miranda.
No livro O Município de Santana, estes índios aparecem, no contexto de uma rebelião, em 1713, “afligindo” os moradores da ribeira do Acaraú, “expulsando-os de suas fazendas” rumo à Ibiapaba. Embora o autor não cite a fonte da notícia, esta foi retirada de um artigo de Studart Filho para a Revista do Instituto Histórico Antropológico e Geográfico do Ceará: A Rebelião de 1713. Vejamos o que é dito a respeito destes índios no referido artigo:
Tomam armas contra os colonizadores os Acriús e os Tremembés que malgrado a situação de vassalos de S.M. não haviam perdido o ânimo belicoso e seus rancores contra os luso-brasileiros. Amotinaram-se igualmente os Areriús que assolaram os moradores da ribeira do Acaraú e correram seu missionário a tiros.
O desfecho deste conflito para os Areriús é assim descrito por Studart Filho:
Mais animadora, porém, a carta escrita pelo senado da Câmara daquela vila, ao Des. Cristóvão Soares Reimão, em 8 de fevereiro de 1714. Nela se assegura que, no conflito armado, ocorrido no ano anterior entre moradores e Areriús, estes haviam perdido muita gente e deles já poucos existiam.
Como vimos, a historiografia brasileira produziu acerca dos povos autóctones do Brasil muito mais silêncio do que o espaço para que estes contassem sua história. Tal silêncio foi produzido para criar-se a noção de Estado uno tanto no território (conquistado, ao contrário do que muitos pensam, "a ferro, fogo e sangue") quanto no povo, este último oriundo da "mistura de raças", termo criado para silenciar e apagar a identidade dos vários povos autóctones de nossa terra.
Assim sendo, na história do município cearense de Santana do Acaraú, o fenômeno não poderia ser diferente. Quando falamos sobre índios na história da cidade muitos são os que afirmam que cá nunca houve índios e há quem diga que o território do município tenha servido somente como passagem para os índios que moravam nas serras circunvizinhas e nas praias próximas.
Os registros da historia local, contudo, quando reunidos, mesmo que de forma incipiente, contrariam estes pensamentos e mostram que muitos de nossos "avós” indígenas foram escondidos sob um véu silencioso e tecido de interesses dos homens brancos.
O primeiro explorador branco que dá notícia de sua posse de terras no território que mais tarde corresponderia ao de Santana foi Manoel de Góes de Vasconcelos. Na petição de Sesmaria que fez com outros companheiros relata que tomou posse desta terra após sofrer ataque de tapuios Bárbaros como vemos na citação deste trecho da mesma:
"Dizem Manuel de Góes o lesensiado Fernando de Goez Francisco Pereira lima Manoel de almei de Almeida da Ruda o lesensiado Amaro Fernandez de Abreu Estevão de Figueredo Simão de Goez de Vasconcellos, moradorez na capitania de Pernambuco e assistentes nesta Capitania do Ceara que porque não tem na dita Capitania de Pernambuco terras próprias capazes pêra a cantidade de suas criasõins de gado vacum e cavalar os vieram comboiando athesta Capitania por distamsia de duzentas léguoas de matos fechados e terras de Tapuyos bárbaros com muito dispêndio de suas fazendas (...). (DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA CEARENSE- SESMARIAS – n°36 Vol. I)
No livro o Município de Santana, uma compilação de folhetins produzidos pelo jornal dirigido pelo Advogado José Mendes de Vasconcelos, encontram-se duas citações importantes, embora muito pontuais, sobre a presença indígena na história da cidade. Na descrição romanesca que os autores fazem da fazenda do padre Antônio dos Santos da Silveira, fundador da cidade:
"Alli tudo era simples, sêm outro encanto que não fosse o da naturesa: havia uma pequena casa de taipa reconstruida, residencia do proprietário, e um curral de madeiras reedificado; de lado, duas choças cobertas de palhas de carnaúba, em que se albergavam duas famílias de índios domesticados, incumbidos da vaqueirice......"(O Município de Sant'Anna, página 62, 5º parágrafo).
Durante a construção da Capela em honra à Santa Ana conforme vemos em outro trecho:
"Alguns indios se offerecerão para o trabalho; e da sua admnistração se encarregára Antonio Coelho de Albuquerque” (O Município de Sant'Anna, página 69, parágrafo 2º)
Nos registros da Diocese de Sobral encontramos este interessante trecho deste assento de casamento:
Aos vinte e hum de Mayo de mil setecentos e quarenta e oito em a capella de S.Anna corridoz os banhos nesta freguesia sem impedimento em presenza do padre Antonio dos santos de minha licenza se receberão por palavras de presente Antonio do gentio de guinê e Cathirina Tapuya escravos de Antonio Coelho... (Livro um da Diocese de Sobral, casamentos, 1741 - 1769 fls 111vs)
Ora este assento nos mostra três coisas importantes: o casamento "inter-racial" promovido pelos donos de escravos para "miscigenar" e tentar apagar a presença e a identidade dos povos indígenas, mostra-nos Padre Silveira o fundador da cidade realizando um casamento deste gênero na capela que erigiu e que Antônio Coelho de Albuquerque, um influente Capitão (de patente comprada) na cidade de Sobral era senhor de escravos africanos e indígenas.
A família Pereira de Santana do Acaraú, conforme relato de Rosa Eronildes Pereira, membro desta, tem como ancestral mais antiga uma índia de codinome “Capoeira” que se unindo a um português de sobrenome Pereira deu origem a referida família.
O mito passado de geração em geração em sua família é o seguinte: estando o Português Pereira a explorar terras no serrote do Mucuripe, viu a índia banhando-se em uma nascente. Decidindo tê-la por mulher, “caçou-a a dente de cachorro”, amarrou-a, colocou-a em sua montaria e a levou para casa para domesticá-la.
Dona Rosa assim nos descreveu parte da sua árvore genealógica:
(?) Araújo c.c. índia Capoeira.
Filho do casal: Manoel José de Vasconcelos c. c. Theodora Ignácia de Araújo.
Filho de Manoel: José Joaquim de Araújo.
1º casamento deste: José Joaquim de Araújo c. c. Theresa Idalina de Maria Vasconcellos.
2º casamento deste: José Joaquim de Araújo c. c. Maria Catharina de Vaconcellos.
Deste matrimonio nasceu Theodora Cristina de Araújo que casou com José Pereira de Vasconcellos Filho.
Buscando assentos de batismo e casamento dos membros desta árvore genealógica, encontramos os seguintes:
“Aos desesseis de Agosto de mil oitocentos setenta e tres, feitas as denunciações sem impedimento, em presença do Reverendo Francisco Theótime de Maria Vasconcellos, de licença do Reverendo Diôgo José de Sousa Lima, por mim auctorisado, e perante as testemunhas Manoel Ferreira de Vasconcellos e Raymundo Araujo de Maria Vasconcellos, unirão – se em matrimonio José Joaquim de Araujo de Maria, filho legítimo de Manoel José de Vasconcellos, e D. Theodora Ignacia de Araújo, com D. Theresa Idalina de Maria Vasconcellos, filha legítima de João Pedro de Maria Vasconcellos, e D. Maria Lourença da frota ambos naturaes e moradores nesta freguesia e logo lhes deo as bênçãos nupciaes na forma do ritual romano, do que para constar mandei fazer este assento em que me assino.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de casamentos da Diocese de Sobral, freguezia de Santana – Licânia, fl. 308, lv. 02 1852 a 1885).
“Aos oito de janeiro de mil oitocentos e oitenta e um, em minha prezença e sendo testemunhas Raimundo Araújo de Vasconcellos e Miguel Araújo de Vasconcellos contrahio matrimonio José Joaquim de Araújo viúvo que ficou por fallecimento de Thereza Idalina da Frota, com Maria Catharina de Vaconcellos filha legítima de José Mendes de Vasconcelos e de Francisca Soares de Vasconcellos, ambos naturaes e moradores nesta freguezia; despensados do parentesco que os ligavão, e logo lhes foram dadas as bênçãos nupciaes na forma do Ritual, do que para constar mandei fazer este assento que asigno.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de casamentos da Diocese de Sobral, freguezia de Santana – Licânia, fl. 378, lv. 02 1852 a 1885).
“THEODORA, filha legítima de José Joaquim d’Araujo de Vaconcellos e de Maria Catharina d’Araujo , nasceo à vinte nove de janeiro de mil oitocentos e oitenta e dois, e foi por mim solemnente baptizada nesta matriz à cinco de Maio do dito ano; sendo padrinhos Miguel Araújo de Vaconcellos, e Francisca Cândida d’Araújo; do que para constar fiz este assento que assino.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de Batismos de Santana do Acaraú, Diocese de Sobral, fl. 94, lv. 08 1878 a 1885).
Buscando subir pela ascendência desta árvore genealógica não nos foi possível encontrar algum documento relativo ao casal que foi tronco da família Pereira.
Outra memória que nos foi relatada foi a do Senhor Pedro Celestino Santos, conhecido na cidade como Pedro Caboclo, alcunha dada não só a este, mas a toda a sua família a várias gerações.
Sabe-se que o termo Caboclo foi utilizado para apagar, em muitos assentos de batismo e casamentos, os descendentes de indígenas sobre o véu da miscigenação.
O mito sobre a origem de sua família assim nos foi descrito pelo Senhor Pedro: escondendo-se da polícia no Serrote do Mucuripe, seu avô: Miguel de Brito do Nascimento, encontrou uma índia que se banhava nas nascentes do mesmo. Caçando-a “a dente de cachorro”, prendeu-lhe uma argola no tendão do calcanhar, a fim de prendê-la e domesticá-la.
Vindo a casar-se com a mesma, este deu origem à família dos caboclos. Este é o assento de casamento dos mesmos:
Aos vinte e dois dias do mês de Maio do anno de mil oitocentos e noventa as cinco horas da tarde n’esta Igreja parochial da freguesia de Sant’Anna do Bispado do ceará, comparecerão em minha presença os nubentes Miguel Pereira de Brito e Joaquina Maria da Conceição elle filho legítimo de Ignacio Rufino dos Santos, e de Maria Francisca Sousa, falecida, naturais e moradores n’esta Freguesia, em tudo habilitados segundo o direito, elle em idade de vinte e quatro anos, ella de vinte e quatro, e se receberão por marido e mulher, com palavras de presente, e logo lhes dei as bênçãos nupciaes segundo o rito da santa Igreja Catholica, sendo testemunhas Francisco José Monteiro, e Antonio Francisco do Nascimento que conheço pelos próprios. E para constar lavrei este termo, que depois de lido, assigno com as testemunhas. Arrogo Francisco José Monteiro e Antonio ferreira do Nascimento, José Ferreira de Maria e Luiz Brandão.
Vigario collado Francisco Xavier Nogueira
(Livro de casamentos de Santana do Acaraú, 1890 - 1902, Diocese de Sobral)
Não há no referido assento menção aos pais da noiva. Embora a família tenha por alcunha o nome de Caboclo, o termo não aparece no assento.
Uma coisa em comum deve ser observada nas duas histórias familiares: as duas capturas ocorrem no mesmo local: o Serrote do Mucuripe.
A referência discreta e pontual a índios e ao serrote do Mucuripe, também se encontra na obra do escritor Santanense José Alcídes Pinto: Os Verdes Abutres da Colina. O referido autor construiu seu realismo fantástico tendo por base o mito fundador do distrito santanense de Parapuí, localizado ao sopé do referido serrote.
O povo, através da oralidade, conservou a história do Coronel Antônio José Nunes Viana e da sua mulher, índia e cativa.
Este vindo de Portugal em 1820, aos vinte anos, em um navio, como clandestino, foi lançado no mar, na barra do Acaraú, para morrer. Sobrevivendo, porém, encontrou abrigo na casa de um pescador, onde refez as forças e de onde seguiu, após orientação do pescador, para Almofala, aldeamento dos índios Tremembé. Lá, raptou uma índia de dez anos e com esta fugiu para as terras que hoje correspondem ao território do referido distrito Santanense, onde gerou grande prole com a mesma.
Na obra de José Alcídes Pinto vê-se um eco da historiografia, uma reprodução do português como desbravador e explorador, como um novo adão que veio para dar início a civilização numa terra onde tudo estava por começar e que devia ser povoada por gente que trouxesse o gérmen do “garanhão luso”.
Uma última memória que coletamos faz parte da história da localidade Santanense denominada Chora. Moradores idosos desta localidade nos relataram que muitos comboieiros desta, que levavam à Almofala os produtos das fazendas para venda (farinha, rapadura, coalhos, queijo, etc.), casaram - se com índias Tremembé e, mulheres do Chora casaram-se com índios Tremembé.
Perguntando a um casal de índios Tremembé, octogenários: Senhor Geraldo Cabral (Geraldo Biinha) e Maria Cabral (Maria Biinha), moradores na comunidade Tremembé de Mangue Alto, em Almofala, se conheciam um lugar na região chamado Chora, estes nos confirmaram as histórias contadas pelos moradores da localidade santanense e para que não houvesse dúvida se a localidade a que se referia era santanense ou não, nos citou nomes de um casal: Raimunda Nonata Romão, filha de Miguel Lourenço (comboieiro) e Manuel Henriques, reconhecido pela comunidade indígena como Tremembé.
Todo este material supracitado está registrado em entrevista que nos foi concedida pelo referido casal e por moradores do Chora.
A família da noiva, os Romão, é a família da qual faz parte também meu bisavô paterno e minha avó paterna. Esta última razão dá fé suficiente a esta história.
Por esses e outros argumentos, vemos que nossa história precisa ser revisitada e reelaborada para dar voz aos nossos antepassados indígenas e cresça em nós o respeito a esses povos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARAÚJO,Fco Sadoc de, Cronologia Sobralense,Imprensa Universitária UVA Vol I 1979
ARAÚJO,Fco Sadoc de, Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú, UVA Edições, 2000, Sobral – CE
DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA CEARENSE- SESMARIAS – n°36 Vol. I
FILHO,Carlos Studart, Revista do Instituto Histórico do Ceará 1962, p.56 a 62
FILHO,Carlos Studart,A Rebelião de 1713, Revista do Instituto Histórico do Ceará.
Leonardi, Victor; Entre árvores e esquecimentos, história social nos sertões do Brasil Editora UNB,1996
LEITE,Serafim, SJ, História da Companhia de Jesus no Brasil, Vol III, imprensa Nacional, Rio, 1943
Livro 1 da Diocese de Sobral, casamentos, 1741 - 1769, fls 111 vs
Livro 2 da Diocese de Sobral, casamentos, 1852 a 1885, fl. 308
Livro 2 da Diocese de Sobral, casamentos, 1852 a 1885, fl. 378
Livro de Batismos de Santana do Acaraú, Diocese de Sobral, fl. 94, lv. 08, 1878 a 1885
Livro de Casamentos de Santana do Acaraú, 1890 - 1902, Diocese de Sobral
O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA, 1926, Imprensa do Correio Sobralense, págs 62 e 69
O fato de nossas sociedades autóctones não terem deixado nenhum relato escrito sobre seu contato com os europeus e sobre a violência destes sofrida, fez com que as elites produzissem uma idéia de que a colonização brasileira foi mais pacífica que a da América espanhola e que em certa altura da história os índios deixaram de existir ou porque foram dizimados em conflitos armados ou porque deram lugar a indivíduos oriundos da miscigenação (Leonardi,1996).
Isto é observável no que diz respeito a índios denominados Areriús, citados como os primitivos habitantes da ribeira do Acaraú. A historiografia a cerca deles é pontual, imprecisa, como ocorre nos demais casos.
Os Areriús (também chamados de Reriús, Irariús, Irarijús, Arariús, Arearús e por outras mais corruptelas) fazem parte de uma família étnica que inclui em si dez tribos: os Tarairiús. Seu território, conforme Filho (1962), se estendia das extremidades das praias do Rio Grande do Norte até os sertões do Piauí e do Ceará, aonde chegavam a ocupar porções de terra dentro dos territórios dos Tremembé, dos Jês e dos Cariris.
Os Tarairiús praticavam nomadismo dentro de seu próprio território, movidos pelas necessidades do inverno ou da estiagem. Viviam da caça, da pesca, da coleta e do cultivo de alguns legumes. Faziam uso de vasos e outros utensílios de pedra. Podiam ser polígamos, eram endocanibalistas (praticavam canibalismo apenas com os de sua tribo como crianças que nasciam mortas, idosos, com o cacique e o pajé ao morrerem) e extremamente belicosos (FILHO,1962.)
Particularmente os Areriús habitavam as serras distantes oito léguas da Ibiapaba no sentido do nascente, e a bacia do rio Acaraú. Eram governados por quatro chefes e se diferenciavam dos demais Tarairiús por não serem polígamos e nem canibais. Um trecho da carta Ânua do padre Ascenso Gago, de 1695, nos afirma isto:
Já fiz aviso a vossa Reverência como tínhamos agregado à missão a nação tapuia reriú. Habita esta nação outra serra de penedia alta e fragosa, que dista da serra da Ibiapaba oito léguas, porém pequena em comparação dela, porque terá de comprimento seis léguas somente. É esta nação gente de corso. Há entre eles quatro principais pelos quais estão repartidos os vassalos, a saber: o Principal Timicu, o Principal Coió, o Principal Arapá e o Principal Guarará. Descem a fazer suas correrias pelos campos à caça e ao mel, e se tornam a recolher à sua serra. Não comem carne humana, bebem pouco, casam as filhas depois dos quinze anos de idade, costume geral dos Tapuias desta costa, não tem mais que uma mulher, à qual costumam repudiar alguma vez, principalmente se é preguiçosa. É nação belicosa e muito valente (LEITE, 1943).
No ano de 1675, portanto vinte anos antes, os índios Areriús sofreram fortíssima guerra na época de Bento Macedo, sendo muitos deles mortos e seus filhos e mulheres reduzidos ao cativeiro. (ARAÚJO,1979).
Ainda conforme Araújo (2000) estes índios foram aldeados, em 1712, na serra da Meruoca, sob a direção do Padre José Teixeira de Miranda.
No livro O Município de Santana, estes índios aparecem, no contexto de uma rebelião, em 1713, “afligindo” os moradores da ribeira do Acaraú, “expulsando-os de suas fazendas” rumo à Ibiapaba. Embora o autor não cite a fonte da notícia, esta foi retirada de um artigo de Studart Filho para a Revista do Instituto Histórico Antropológico e Geográfico do Ceará: A Rebelião de 1713. Vejamos o que é dito a respeito destes índios no referido artigo:
Tomam armas contra os colonizadores os Acriús e os Tremembés que malgrado a situação de vassalos de S.M. não haviam perdido o ânimo belicoso e seus rancores contra os luso-brasileiros. Amotinaram-se igualmente os Areriús que assolaram os moradores da ribeira do Acaraú e correram seu missionário a tiros.
O desfecho deste conflito para os Areriús é assim descrito por Studart Filho:
Mais animadora, porém, a carta escrita pelo senado da Câmara daquela vila, ao Des. Cristóvão Soares Reimão, em 8 de fevereiro de 1714. Nela se assegura que, no conflito armado, ocorrido no ano anterior entre moradores e Areriús, estes haviam perdido muita gente e deles já poucos existiam.
Como vimos, a historiografia brasileira produziu acerca dos povos autóctones do Brasil muito mais silêncio do que o espaço para que estes contassem sua história. Tal silêncio foi produzido para criar-se a noção de Estado uno tanto no território (conquistado, ao contrário do que muitos pensam, "a ferro, fogo e sangue") quanto no povo, este último oriundo da "mistura de raças", termo criado para silenciar e apagar a identidade dos vários povos autóctones de nossa terra.
Assim sendo, na história do município cearense de Santana do Acaraú, o fenômeno não poderia ser diferente. Quando falamos sobre índios na história da cidade muitos são os que afirmam que cá nunca houve índios e há quem diga que o território do município tenha servido somente como passagem para os índios que moravam nas serras circunvizinhas e nas praias próximas.
Os registros da historia local, contudo, quando reunidos, mesmo que de forma incipiente, contrariam estes pensamentos e mostram que muitos de nossos "avós” indígenas foram escondidos sob um véu silencioso e tecido de interesses dos homens brancos.
O primeiro explorador branco que dá notícia de sua posse de terras no território que mais tarde corresponderia ao de Santana foi Manoel de Góes de Vasconcelos. Na petição de Sesmaria que fez com outros companheiros relata que tomou posse desta terra após sofrer ataque de tapuios Bárbaros como vemos na citação deste trecho da mesma:
"Dizem Manuel de Góes o lesensiado Fernando de Goez Francisco Pereira lima Manoel de almei de Almeida da Ruda o lesensiado Amaro Fernandez de Abreu Estevão de Figueredo Simão de Goez de Vasconcellos, moradorez na capitania de Pernambuco e assistentes nesta Capitania do Ceara que porque não tem na dita Capitania de Pernambuco terras próprias capazes pêra a cantidade de suas criasõins de gado vacum e cavalar os vieram comboiando athesta Capitania por distamsia de duzentas léguoas de matos fechados e terras de Tapuyos bárbaros com muito dispêndio de suas fazendas (...). (DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA CEARENSE- SESMARIAS – n°36 Vol. I)
No livro o Município de Santana, uma compilação de folhetins produzidos pelo jornal dirigido pelo Advogado José Mendes de Vasconcelos, encontram-se duas citações importantes, embora muito pontuais, sobre a presença indígena na história da cidade. Na descrição romanesca que os autores fazem da fazenda do padre Antônio dos Santos da Silveira, fundador da cidade:
"Alli tudo era simples, sêm outro encanto que não fosse o da naturesa: havia uma pequena casa de taipa reconstruida, residencia do proprietário, e um curral de madeiras reedificado; de lado, duas choças cobertas de palhas de carnaúba, em que se albergavam duas famílias de índios domesticados, incumbidos da vaqueirice......"(O Município de Sant'Anna, página 62, 5º parágrafo).
Durante a construção da Capela em honra à Santa Ana conforme vemos em outro trecho:
"Alguns indios se offerecerão para o trabalho; e da sua admnistração se encarregára Antonio Coelho de Albuquerque” (O Município de Sant'Anna, página 69, parágrafo 2º)
Nos registros da Diocese de Sobral encontramos este interessante trecho deste assento de casamento:
Aos vinte e hum de Mayo de mil setecentos e quarenta e oito em a capella de S.Anna corridoz os banhos nesta freguesia sem impedimento em presenza do padre Antonio dos santos de minha licenza se receberão por palavras de presente Antonio do gentio de guinê e Cathirina Tapuya escravos de Antonio Coelho... (Livro um da Diocese de Sobral, casamentos, 1741 - 1769 fls 111vs)
Ora este assento nos mostra três coisas importantes: o casamento "inter-racial" promovido pelos donos de escravos para "miscigenar" e tentar apagar a presença e a identidade dos povos indígenas, mostra-nos Padre Silveira o fundador da cidade realizando um casamento deste gênero na capela que erigiu e que Antônio Coelho de Albuquerque, um influente Capitão (de patente comprada) na cidade de Sobral era senhor de escravos africanos e indígenas.
A família Pereira de Santana do Acaraú, conforme relato de Rosa Eronildes Pereira, membro desta, tem como ancestral mais antiga uma índia de codinome “Capoeira” que se unindo a um português de sobrenome Pereira deu origem a referida família.
O mito passado de geração em geração em sua família é o seguinte: estando o Português Pereira a explorar terras no serrote do Mucuripe, viu a índia banhando-se em uma nascente. Decidindo tê-la por mulher, “caçou-a a dente de cachorro”, amarrou-a, colocou-a em sua montaria e a levou para casa para domesticá-la.
Dona Rosa assim nos descreveu parte da sua árvore genealógica:
(?) Araújo c.c. índia Capoeira.
Filho do casal: Manoel José de Vasconcelos c. c. Theodora Ignácia de Araújo.
Filho de Manoel: José Joaquim de Araújo.
1º casamento deste: José Joaquim de Araújo c. c. Theresa Idalina de Maria Vasconcellos.
2º casamento deste: José Joaquim de Araújo c. c. Maria Catharina de Vaconcellos.
Deste matrimonio nasceu Theodora Cristina de Araújo que casou com José Pereira de Vasconcellos Filho.
Buscando assentos de batismo e casamento dos membros desta árvore genealógica, encontramos os seguintes:
“Aos desesseis de Agosto de mil oitocentos setenta e tres, feitas as denunciações sem impedimento, em presença do Reverendo Francisco Theótime de Maria Vasconcellos, de licença do Reverendo Diôgo José de Sousa Lima, por mim auctorisado, e perante as testemunhas Manoel Ferreira de Vasconcellos e Raymundo Araujo de Maria Vasconcellos, unirão – se em matrimonio José Joaquim de Araujo de Maria, filho legítimo de Manoel José de Vasconcellos, e D. Theodora Ignacia de Araújo, com D. Theresa Idalina de Maria Vasconcellos, filha legítima de João Pedro de Maria Vasconcellos, e D. Maria Lourença da frota ambos naturaes e moradores nesta freguesia e logo lhes deo as bênçãos nupciaes na forma do ritual romano, do que para constar mandei fazer este assento em que me assino.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de casamentos da Diocese de Sobral, freguezia de Santana – Licânia, fl. 308, lv. 02 1852 a 1885).
“Aos oito de janeiro de mil oitocentos e oitenta e um, em minha prezença e sendo testemunhas Raimundo Araújo de Vasconcellos e Miguel Araújo de Vasconcellos contrahio matrimonio José Joaquim de Araújo viúvo que ficou por fallecimento de Thereza Idalina da Frota, com Maria Catharina de Vaconcellos filha legítima de José Mendes de Vasconcelos e de Francisca Soares de Vasconcellos, ambos naturaes e moradores nesta freguezia; despensados do parentesco que os ligavão, e logo lhes foram dadas as bênçãos nupciaes na forma do Ritual, do que para constar mandei fazer este assento que asigno.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de casamentos da Diocese de Sobral, freguezia de Santana – Licânia, fl. 378, lv. 02 1852 a 1885).
“THEODORA, filha legítima de José Joaquim d’Araujo de Vaconcellos e de Maria Catharina d’Araujo , nasceo à vinte nove de janeiro de mil oitocentos e oitenta e dois, e foi por mim solemnente baptizada nesta matriz à cinco de Maio do dito ano; sendo padrinhos Miguel Araújo de Vaconcellos, e Francisca Cândida d’Araújo; do que para constar fiz este assento que assino.”
Vigário collado Francisco Xavier Nogueira.
(Livro de Batismos de Santana do Acaraú, Diocese de Sobral, fl. 94, lv. 08 1878 a 1885).
Buscando subir pela ascendência desta árvore genealógica não nos foi possível encontrar algum documento relativo ao casal que foi tronco da família Pereira.
Outra memória que nos foi relatada foi a do Senhor Pedro Celestino Santos, conhecido na cidade como Pedro Caboclo, alcunha dada não só a este, mas a toda a sua família a várias gerações.
Sabe-se que o termo Caboclo foi utilizado para apagar, em muitos assentos de batismo e casamentos, os descendentes de indígenas sobre o véu da miscigenação.
O mito sobre a origem de sua família assim nos foi descrito pelo Senhor Pedro: escondendo-se da polícia no Serrote do Mucuripe, seu avô: Miguel de Brito do Nascimento, encontrou uma índia que se banhava nas nascentes do mesmo. Caçando-a “a dente de cachorro”, prendeu-lhe uma argola no tendão do calcanhar, a fim de prendê-la e domesticá-la.
Vindo a casar-se com a mesma, este deu origem à família dos caboclos. Este é o assento de casamento dos mesmos:
Aos vinte e dois dias do mês de Maio do anno de mil oitocentos e noventa as cinco horas da tarde n’esta Igreja parochial da freguesia de Sant’Anna do Bispado do ceará, comparecerão em minha presença os nubentes Miguel Pereira de Brito e Joaquina Maria da Conceição elle filho legítimo de Ignacio Rufino dos Santos, e de Maria Francisca Sousa, falecida, naturais e moradores n’esta Freguesia, em tudo habilitados segundo o direito, elle em idade de vinte e quatro anos, ella de vinte e quatro, e se receberão por marido e mulher, com palavras de presente, e logo lhes dei as bênçãos nupciaes segundo o rito da santa Igreja Catholica, sendo testemunhas Francisco José Monteiro, e Antonio Francisco do Nascimento que conheço pelos próprios. E para constar lavrei este termo, que depois de lido, assigno com as testemunhas. Arrogo Francisco José Monteiro e Antonio ferreira do Nascimento, José Ferreira de Maria e Luiz Brandão.
Vigario collado Francisco Xavier Nogueira
(Livro de casamentos de Santana do Acaraú, 1890 - 1902, Diocese de Sobral)
Não há no referido assento menção aos pais da noiva. Embora a família tenha por alcunha o nome de Caboclo, o termo não aparece no assento.
Uma coisa em comum deve ser observada nas duas histórias familiares: as duas capturas ocorrem no mesmo local: o Serrote do Mucuripe.
A referência discreta e pontual a índios e ao serrote do Mucuripe, também se encontra na obra do escritor Santanense José Alcídes Pinto: Os Verdes Abutres da Colina. O referido autor construiu seu realismo fantástico tendo por base o mito fundador do distrito santanense de Parapuí, localizado ao sopé do referido serrote.
O povo, através da oralidade, conservou a história do Coronel Antônio José Nunes Viana e da sua mulher, índia e cativa.
Este vindo de Portugal em 1820, aos vinte anos, em um navio, como clandestino, foi lançado no mar, na barra do Acaraú, para morrer. Sobrevivendo, porém, encontrou abrigo na casa de um pescador, onde refez as forças e de onde seguiu, após orientação do pescador, para Almofala, aldeamento dos índios Tremembé. Lá, raptou uma índia de dez anos e com esta fugiu para as terras que hoje correspondem ao território do referido distrito Santanense, onde gerou grande prole com a mesma.
Na obra de José Alcídes Pinto vê-se um eco da historiografia, uma reprodução do português como desbravador e explorador, como um novo adão que veio para dar início a civilização numa terra onde tudo estava por começar e que devia ser povoada por gente que trouxesse o gérmen do “garanhão luso”.
Uma última memória que coletamos faz parte da história da localidade Santanense denominada Chora. Moradores idosos desta localidade nos relataram que muitos comboieiros desta, que levavam à Almofala os produtos das fazendas para venda (farinha, rapadura, coalhos, queijo, etc.), casaram - se com índias Tremembé e, mulheres do Chora casaram-se com índios Tremembé.
Perguntando a um casal de índios Tremembé, octogenários: Senhor Geraldo Cabral (Geraldo Biinha) e Maria Cabral (Maria Biinha), moradores na comunidade Tremembé de Mangue Alto, em Almofala, se conheciam um lugar na região chamado Chora, estes nos confirmaram as histórias contadas pelos moradores da localidade santanense e para que não houvesse dúvida se a localidade a que se referia era santanense ou não, nos citou nomes de um casal: Raimunda Nonata Romão, filha de Miguel Lourenço (comboieiro) e Manuel Henriques, reconhecido pela comunidade indígena como Tremembé.
Todo este material supracitado está registrado em entrevista que nos foi concedida pelo referido casal e por moradores do Chora.
A família da noiva, os Romão, é a família da qual faz parte também meu bisavô paterno e minha avó paterna. Esta última razão dá fé suficiente a esta história.
Por esses e outros argumentos, vemos que nossa história precisa ser revisitada e reelaborada para dar voz aos nossos antepassados indígenas e cresça em nós o respeito a esses povos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARAÚJO,Fco Sadoc de, Cronologia Sobralense,Imprensa Universitária UVA Vol I 1979
ARAÚJO,Fco Sadoc de, Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú, UVA Edições, 2000, Sobral – CE
DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA CEARENSE- SESMARIAS – n°36 Vol. I
FILHO,Carlos Studart, Revista do Instituto Histórico do Ceará 1962, p.56 a 62
FILHO,Carlos Studart,A Rebelião de 1713, Revista do Instituto Histórico do Ceará.
Leonardi, Victor; Entre árvores e esquecimentos, história social nos sertões do Brasil Editora UNB,1996
LEITE,Serafim, SJ, História da Companhia de Jesus no Brasil, Vol III, imprensa Nacional, Rio, 1943
Livro 1 da Diocese de Sobral, casamentos, 1741 - 1769, fls 111 vs
Livro 2 da Diocese de Sobral, casamentos, 1852 a 1885, fl. 308
Livro 2 da Diocese de Sobral, casamentos, 1852 a 1885, fl. 378
Livro de Batismos de Santana do Acaraú, Diocese de Sobral, fl. 94, lv. 08, 1878 a 1885
Livro de Casamentos de Santana do Acaraú, 1890 - 1902, Diocese de Sobral
O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA, 1926, Imprensa do Correio Sobralense, págs 62 e 69
A CIDADE EM 1884
Uma descrição da cidade de Santana nos idos de 1884 nos chega através do livro O Município de Santana.
Concluímos que a descrição refere-se a esta data porque, como veremos mais adiante, ao fazer referência ao sobrado do comerciante Francisco Leôncio de Andrade, o autor do supracitado livro diz que o mesmo já falecera há doze anos.
Padre Sadoc Araújo em sua Cronologia Sobralense afirma que o dito comerciante faleceu em 1872. Se, portanto, somarmos o ano de falecimento do referido senhor, com a quantidade supracitada teremos o ano a que nos referimos.
Vejamos o que diz a célebre coleção de folhetins.
Segunda a mesma, na época, a cidade: (...). "Divide-se em dois bairros – de S. Anna e S. João – os quaes se acham ligados por uma ponte de sólida construcção que mede 106 metros de comprimento sobre 3 de largura, aberta no centro de 3 arcadas, que proporcionam espaçoso e livre trânsito". (O Município de sant’Anna, página 189, 1º parágrafo)
"Eis-nos chegados, caros leitores, às portas da cidade. Comecemos o nosso passeio pelo bairro de Sant’Anna. A primeira rua, que vemos, denomina-se Humaytá; a sua linha curva segue outra de arvoredos; e alli; naquella casa de apparencia risonha, defronte daquela frondosa cana – fistula, está o Santuário de Guttemberg. Vejamos o que nos diz a sua inscripção: - Foi no dia 10 de Fevereiro do anno de 1882 que o município de Sant’Anna soltou o seu primeiro echo. - É a casa da Typhographia, onde, quatro vezes por mez se imprimia o nosso jornal – Município de Sant’Anna -, tão modesto quão despretensioso na sua existência". (...) (O Município de sant’Anna, página 190, 1º parágrafo)
"Aproximemo-nos um pouco: eis a Rua 28 de setembro que remarca a memorável data das mais sublimes das nossas leis! Aqui começa a iluminação da cidade; os seus combustores de um lado e d’outro o indicão; entremos n’ella: No logar desta casa, que hoje pertence a José Sabino da Costa, existiu, segundo a tradicção, o curral da primeira fazenda de gados que se estabeleceu nesta terra; e alli na esquina, no logar em que se ergue aquelle vistoso sobrado, construído pelo coronel Manoel da Frota de Maria, morava no anno de 1735, em uma casinha de taipa, o segundo possuidor dessa Fazenda, - o padre Antônio dos Santos da Silveira, - venerando fundador da Capella de Sant’Anna, hoje transformada naquella que é a nossa Matriz; e aqui n’esta outra esquina cuja denominação de – travessa dos martyrios, - allude ao maior dos atentados que em seus dias esta cidade podia presenciar, foi onde se celebrou a primeira festa popular do município a 10 de agosto de 1739, por occazião do bemzimento da Capella, a que nos referimos".( O Município de Sant’Anna, página 190, 3º parágrafo)
“Deste ponto observa-se quase toda a praça da Matriz. Esta rua que segue à direita, é dedicada ao major José Ferreira da Costa; e a que se lhe atravessa na extremidade, descrevendo uma linha curva, paralella a do rio, e termina alli, naquella casa de parapeito pertencente a D. Maria da Graça, foi destinada a eternisar o nome do padre Silveira, como tributo de veneração às suas cinzas.” O Município de sant’Anna, página 191, 3º parágrafo)
“Sigamos por esta rua tributada ao Coronel Menescal, e vamos apreciando as frondosas árvores que povoão a nossa praça... Aquele becco, que temos em frente, vai dar ao rio; e aqui onde chegamos; e aqui onde chagamos, entre este estabelecimento do negociante coronel Vicente Sabino Maria da Costa e a sua casa de morada do lado opposto, começa a praça do do tenente coronel Manoel Joaquim. De forma triangular, arborisada, combustores para iluminação, esta praça é o coração da cidade; visitemo-la.” (O Município de sant’Anna, página 192, 1º parágrafo)
"Do centro podemos bem observá-la: frondosos Tamarinos e lindas carnahubeiras arborisão – na, três ruas a encerrão. Ao sul alarga-se bastante em relação a sua extremidade norte, e abre-se em quatro vias de communicação com o resto da cidade; essa ponte deita para o bairro de São João, e aquelle becco, ao poente, para o rio; alli começa a rua 7 de Setembro que se estende até a cadeia, que lá está alvejando na extremidade, e aqui, a leste, a rua da viação. Entremos nella, vamos aspirar seu frescor. Bem espaçosa e extensa é esta rua, Ella corre nos fundos da do Coronel Menesca; este becco é da travessa dos Martyrios, Ella segue, lá está o seu termo; mas daqui sigamos pela Rua do Oriente que estende ao sul na direcção deste becco. Nesta rua, cuja frente deita para o poente só há um quarteirão; aqui termina Ella. Continuemos ao poente pela rua da Bôa Vista". (O Município de sant’Anna, página 192, 2º parágrafo)
“O terreno desocupado que vemos nesta linha já está reservado para edificações; esta rua pouco extensa só tem duas casas, esta de parapeito de João Ribeiro Pessoa Montenegro, e esse sobrado de esquina, do padre Francisco Theotimo de Maria Vasconcellos; Ella dá os fundos para rua da Viração; e esse grande pateo que nos fica à esquerda, arborisado no seguimento desta e da Rua 7 de setembro que se estende ao Sul, com o seu carnaubeiral que tanta graça lhe dá, está destinado para uma praça com a denominação de – Boa Vista - . O seu nome liga-se ao quadro pitoresco da natureza que daqui se descortina.” (O Município de sant’Anna, página 192, 3º parágrafo)
“Atravessemos por este espaçoso beco a rua em frente. Eis o mercado público. O seu pateo interior, quadrilátero encerra-se por quatro ruas de oito quartos cada uma; faltão – lhe apenas quatro quartos do lado do norte. Lá está a ponte que ind’agora vimos; começa daquela casa, a ultima da praça, tenente coronel Manoel Joaquim. Alli mora o nosso digno juiz de Direito Dr. Antônio Sabino do Monte.” (O Município de sant’Anna, página 193, 2º parágrafo)
“Subamos os seus degraos. Como se vê Ella descreve um ângulo obtuzo de linhas desiguaes, esta menor que aquella; e do vértice deste ângulo, no ponto em que nos achamos, descobre-se todo o bairro de São João, e para trás toda auqella praça e a rua do padre Silveira. Desde que a edificação se estenda até aqui, servindo-lhe esta parte de calçada, teremos a ponte em linha reta. – Sigamos; lá vão as linhas dos combustores da iluminação a par de outra de arvoredos que seguem ao longo das ruas por um e outro lado desta praça. Aqui sob os nossos pés estão três arcadas, as águas do rio, nas grandes enchentes, passando por ellas, formão deste lado, à esquerda, uma vasta bacia, onde à tarde, em canoas, por entre aquellas carnaubeiras, as famílias se divertem em agradáveis passeios. Essas duas ruas que avançam,com aquella que se lhe atravessa ao sul e esta que corre aos fundos da rua 7 de Setembro, na maior parte aformoseada de frentes, constituem a praça da Municipalidade”. (O Município de sant’Anna, página 193, 3º parágrafo)
“Aqui, onde começou o nível das calçadas, termina a ponte; vamos pelo meio da praça. Aquelle becco vai ter ao rio, e o sobrado da esquina pertence a D. Theodora Geracina de Andrade, viúva do tenente Francisco Leôncio de Andrade. Este prestimoso cidadão foi o primeiro negociante de seu tempo; o seu movimento comercial elevou-se a oitenta e muitos contos de réis. Haverá dose anos que falleceu, e o seu nome honrado por sua viúva, respeitado por seus dignos filhos, soa ainda em muitos corações, gratos aos seus favores e benefícios; animou o commércio e concorreu muito para o benefício desta praça. Esse magestoso calvário foi obra de Frei Guilherme, missionário Italiano, em 1871, quando aqui pregou com outros companheiros, (...)". (O Município de sant’Anna, página 193, 4º parágrafo)
A bacia a que se refere o autor de “O Município de Sant’Anna” era a conhecida lagoa da caridade que se formava nos tempos de cheia do rio Acaraú. Tal lagoa localizava-se onde hoje está a parte da Praça São João, correspondente ao Mercado Público. Sobre ela, de maneira muito poética nos fala Antônio Bezerra em seu livro notas de viagem:
"Na estação invernosa o rio alaga a planície, e deita as águas além dos últimos degraus do mercado na parte ocidental; e então é belo contemplar a multidão de canoas transportando famílias que em doce recreação passeiam por dentro da cidade.
Pelas noites de luar dizem que é magnífico aquele passatempo, em que não raras vezes a voz melancólica de algum dilletante a gemer suas saudades atrai ao balcão da janela o vulto misterioso de um anjo cismador".
É preciso ter lido Alfred de Musset para avaliar o que são esses deliciosos devaneios de Tizianelo e Beatriz Loredano, que se enleiam no mesmo afeto ao resvalar sutil de uma gôndola nas águas da Riva dei Schiavoni em Veneza".
Suprimimos a ultima parte do parágrafo acima transcrito porque o utilizaremos mais adiante quando tratarmos d prédio da Casa de Câmara onde está situada a prefeitura Municipal.
Concluímos que a descrição refere-se a esta data porque, como veremos mais adiante, ao fazer referência ao sobrado do comerciante Francisco Leôncio de Andrade, o autor do supracitado livro diz que o mesmo já falecera há doze anos.
Padre Sadoc Araújo em sua Cronologia Sobralense afirma que o dito comerciante faleceu em 1872. Se, portanto, somarmos o ano de falecimento do referido senhor, com a quantidade supracitada teremos o ano a que nos referimos.
Vejamos o que diz a célebre coleção de folhetins.
Segunda a mesma, na época, a cidade: (...). "Divide-se em dois bairros – de S. Anna e S. João – os quaes se acham ligados por uma ponte de sólida construcção que mede 106 metros de comprimento sobre 3 de largura, aberta no centro de 3 arcadas, que proporcionam espaçoso e livre trânsito". (O Município de sant’Anna, página 189, 1º parágrafo)
"Eis-nos chegados, caros leitores, às portas da cidade. Comecemos o nosso passeio pelo bairro de Sant’Anna. A primeira rua, que vemos, denomina-se Humaytá; a sua linha curva segue outra de arvoredos; e alli; naquella casa de apparencia risonha, defronte daquela frondosa cana – fistula, está o Santuário de Guttemberg. Vejamos o que nos diz a sua inscripção: - Foi no dia 10 de Fevereiro do anno de 1882 que o município de Sant’Anna soltou o seu primeiro echo. - É a casa da Typhographia, onde, quatro vezes por mez se imprimia o nosso jornal – Município de Sant’Anna -, tão modesto quão despretensioso na sua existência". (...) (O Município de sant’Anna, página 190, 1º parágrafo)
"Aproximemo-nos um pouco: eis a Rua 28 de setembro que remarca a memorável data das mais sublimes das nossas leis! Aqui começa a iluminação da cidade; os seus combustores de um lado e d’outro o indicão; entremos n’ella: No logar desta casa, que hoje pertence a José Sabino da Costa, existiu, segundo a tradicção, o curral da primeira fazenda de gados que se estabeleceu nesta terra; e alli na esquina, no logar em que se ergue aquelle vistoso sobrado, construído pelo coronel Manoel da Frota de Maria, morava no anno de 1735, em uma casinha de taipa, o segundo possuidor dessa Fazenda, - o padre Antônio dos Santos da Silveira, - venerando fundador da Capella de Sant’Anna, hoje transformada naquella que é a nossa Matriz; e aqui n’esta outra esquina cuja denominação de – travessa dos martyrios, - allude ao maior dos atentados que em seus dias esta cidade podia presenciar, foi onde se celebrou a primeira festa popular do município a 10 de agosto de 1739, por occazião do bemzimento da Capella, a que nos referimos".( O Município de Sant’Anna, página 190, 3º parágrafo)
“Deste ponto observa-se quase toda a praça da Matriz. Esta rua que segue à direita, é dedicada ao major José Ferreira da Costa; e a que se lhe atravessa na extremidade, descrevendo uma linha curva, paralella a do rio, e termina alli, naquella casa de parapeito pertencente a D. Maria da Graça, foi destinada a eternisar o nome do padre Silveira, como tributo de veneração às suas cinzas.” O Município de sant’Anna, página 191, 3º parágrafo)
“Sigamos por esta rua tributada ao Coronel Menescal, e vamos apreciando as frondosas árvores que povoão a nossa praça... Aquele becco, que temos em frente, vai dar ao rio; e aqui onde chegamos; e aqui onde chagamos, entre este estabelecimento do negociante coronel Vicente Sabino Maria da Costa e a sua casa de morada do lado opposto, começa a praça do do tenente coronel Manoel Joaquim. De forma triangular, arborisada, combustores para iluminação, esta praça é o coração da cidade; visitemo-la.” (O Município de sant’Anna, página 192, 1º parágrafo)
"Do centro podemos bem observá-la: frondosos Tamarinos e lindas carnahubeiras arborisão – na, três ruas a encerrão. Ao sul alarga-se bastante em relação a sua extremidade norte, e abre-se em quatro vias de communicação com o resto da cidade; essa ponte deita para o bairro de São João, e aquelle becco, ao poente, para o rio; alli começa a rua 7 de Setembro que se estende até a cadeia, que lá está alvejando na extremidade, e aqui, a leste, a rua da viação. Entremos nella, vamos aspirar seu frescor. Bem espaçosa e extensa é esta rua, Ella corre nos fundos da do Coronel Menesca; este becco é da travessa dos Martyrios, Ella segue, lá está o seu termo; mas daqui sigamos pela Rua do Oriente que estende ao sul na direcção deste becco. Nesta rua, cuja frente deita para o poente só há um quarteirão; aqui termina Ella. Continuemos ao poente pela rua da Bôa Vista". (O Município de sant’Anna, página 192, 2º parágrafo)
“O terreno desocupado que vemos nesta linha já está reservado para edificações; esta rua pouco extensa só tem duas casas, esta de parapeito de João Ribeiro Pessoa Montenegro, e esse sobrado de esquina, do padre Francisco Theotimo de Maria Vasconcellos; Ella dá os fundos para rua da Viração; e esse grande pateo que nos fica à esquerda, arborisado no seguimento desta e da Rua 7 de setembro que se estende ao Sul, com o seu carnaubeiral que tanta graça lhe dá, está destinado para uma praça com a denominação de – Boa Vista - . O seu nome liga-se ao quadro pitoresco da natureza que daqui se descortina.” (O Município de sant’Anna, página 192, 3º parágrafo)
“Atravessemos por este espaçoso beco a rua em frente. Eis o mercado público. O seu pateo interior, quadrilátero encerra-se por quatro ruas de oito quartos cada uma; faltão – lhe apenas quatro quartos do lado do norte. Lá está a ponte que ind’agora vimos; começa daquela casa, a ultima da praça, tenente coronel Manoel Joaquim. Alli mora o nosso digno juiz de Direito Dr. Antônio Sabino do Monte.” (O Município de sant’Anna, página 193, 2º parágrafo)
“Subamos os seus degraos. Como se vê Ella descreve um ângulo obtuzo de linhas desiguaes, esta menor que aquella; e do vértice deste ângulo, no ponto em que nos achamos, descobre-se todo o bairro de São João, e para trás toda auqella praça e a rua do padre Silveira. Desde que a edificação se estenda até aqui, servindo-lhe esta parte de calçada, teremos a ponte em linha reta. – Sigamos; lá vão as linhas dos combustores da iluminação a par de outra de arvoredos que seguem ao longo das ruas por um e outro lado desta praça. Aqui sob os nossos pés estão três arcadas, as águas do rio, nas grandes enchentes, passando por ellas, formão deste lado, à esquerda, uma vasta bacia, onde à tarde, em canoas, por entre aquellas carnaubeiras, as famílias se divertem em agradáveis passeios. Essas duas ruas que avançam,com aquella que se lhe atravessa ao sul e esta que corre aos fundos da rua 7 de Setembro, na maior parte aformoseada de frentes, constituem a praça da Municipalidade”. (O Município de sant’Anna, página 193, 3º parágrafo)
“Aqui, onde começou o nível das calçadas, termina a ponte; vamos pelo meio da praça. Aquelle becco vai ter ao rio, e o sobrado da esquina pertence a D. Theodora Geracina de Andrade, viúva do tenente Francisco Leôncio de Andrade. Este prestimoso cidadão foi o primeiro negociante de seu tempo; o seu movimento comercial elevou-se a oitenta e muitos contos de réis. Haverá dose anos que falleceu, e o seu nome honrado por sua viúva, respeitado por seus dignos filhos, soa ainda em muitos corações, gratos aos seus favores e benefícios; animou o commércio e concorreu muito para o benefício desta praça. Esse magestoso calvário foi obra de Frei Guilherme, missionário Italiano, em 1871, quando aqui pregou com outros companheiros, (...)". (O Município de sant’Anna, página 193, 4º parágrafo)
A bacia a que se refere o autor de “O Município de Sant’Anna” era a conhecida lagoa da caridade que se formava nos tempos de cheia do rio Acaraú. Tal lagoa localizava-se onde hoje está a parte da Praça São João, correspondente ao Mercado Público. Sobre ela, de maneira muito poética nos fala Antônio Bezerra em seu livro notas de viagem:
"Na estação invernosa o rio alaga a planície, e deita as águas além dos últimos degraus do mercado na parte ocidental; e então é belo contemplar a multidão de canoas transportando famílias que em doce recreação passeiam por dentro da cidade.
Pelas noites de luar dizem que é magnífico aquele passatempo, em que não raras vezes a voz melancólica de algum dilletante a gemer suas saudades atrai ao balcão da janela o vulto misterioso de um anjo cismador".
É preciso ter lido Alfred de Musset para avaliar o que são esses deliciosos devaneios de Tizianelo e Beatriz Loredano, que se enleiam no mesmo afeto ao resvalar sutil de uma gôndola nas águas da Riva dei Schiavoni em Veneza".
Suprimimos a ultima parte do parágrafo acima transcrito porque o utilizaremos mais adiante quando tratarmos d prédio da Casa de Câmara onde está situada a prefeitura Municipal.
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