Uma descrição da cidade de Santana nos idos de 1884 nos chega através do livro O Município de Santana.
Concluímos que a descrição refere-se a esta data porque, como veremos mais adiante, ao fazer referência ao sobrado do comerciante Francisco Leôncio de Andrade, o autor do supracitado livro diz que o mesmo já falecera há doze anos.
Padre Sadoc Araújo em sua Cronologia Sobralense afirma que o dito comerciante faleceu em 1872. Se, portanto, somarmos o ano de falecimento do referido senhor, com a quantidade supracitada teremos o ano a que nos referimos.
Vejamos o que diz a célebre coleção de folhetins.
Segunda a mesma, na época, a cidade: (...). "Divide-se em dois bairros – de S. Anna e S. João – os quaes se acham ligados por uma ponte de sólida construcção que mede 106 metros de comprimento sobre 3 de largura, aberta no centro de 3 arcadas, que proporcionam espaçoso e livre trânsito". (O Município de sant’Anna, página 189, 1º parágrafo)
"Eis-nos chegados, caros leitores, às portas da cidade. Comecemos o nosso passeio pelo bairro de Sant’Anna. A primeira rua, que vemos, denomina-se Humaytá; a sua linha curva segue outra de arvoredos; e alli; naquella casa de apparencia risonha, defronte daquela frondosa cana – fistula, está o Santuário de Guttemberg. Vejamos o que nos diz a sua inscripção: - Foi no dia 10 de Fevereiro do anno de 1882 que o município de Sant’Anna soltou o seu primeiro echo. - É a casa da Typhographia, onde, quatro vezes por mez se imprimia o nosso jornal – Município de Sant’Anna -, tão modesto quão despretensioso na sua existência". (...) (O Município de sant’Anna, página 190, 1º parágrafo)
"Aproximemo-nos um pouco: eis a Rua 28 de setembro que remarca a memorável data das mais sublimes das nossas leis! Aqui começa a iluminação da cidade; os seus combustores de um lado e d’outro o indicão; entremos n’ella: No logar desta casa, que hoje pertence a José Sabino da Costa, existiu, segundo a tradicção, o curral da primeira fazenda de gados que se estabeleceu nesta terra; e alli na esquina, no logar em que se ergue aquelle vistoso sobrado, construído pelo coronel Manoel da Frota de Maria, morava no anno de 1735, em uma casinha de taipa, o segundo possuidor dessa Fazenda, - o padre Antônio dos Santos da Silveira, - venerando fundador da Capella de Sant’Anna, hoje transformada naquella que é a nossa Matriz; e aqui n’esta outra esquina cuja denominação de – travessa dos martyrios, - allude ao maior dos atentados que em seus dias esta cidade podia presenciar, foi onde se celebrou a primeira festa popular do município a 10 de agosto de 1739, por occazião do bemzimento da Capella, a que nos referimos".( O Município de Sant’Anna, página 190, 3º parágrafo)
“Deste ponto observa-se quase toda a praça da Matriz. Esta rua que segue à direita, é dedicada ao major José Ferreira da Costa; e a que se lhe atravessa na extremidade, descrevendo uma linha curva, paralella a do rio, e termina alli, naquella casa de parapeito pertencente a D. Maria da Graça, foi destinada a eternisar o nome do padre Silveira, como tributo de veneração às suas cinzas.” O Município de sant’Anna, página 191, 3º parágrafo)
“Sigamos por esta rua tributada ao Coronel Menescal, e vamos apreciando as frondosas árvores que povoão a nossa praça... Aquele becco, que temos em frente, vai dar ao rio; e aqui onde chegamos; e aqui onde chagamos, entre este estabelecimento do negociante coronel Vicente Sabino Maria da Costa e a sua casa de morada do lado opposto, começa a praça do do tenente coronel Manoel Joaquim. De forma triangular, arborisada, combustores para iluminação, esta praça é o coração da cidade; visitemo-la.” (O Município de sant’Anna, página 192, 1º parágrafo)
"Do centro podemos bem observá-la: frondosos Tamarinos e lindas carnahubeiras arborisão – na, três ruas a encerrão. Ao sul alarga-se bastante em relação a sua extremidade norte, e abre-se em quatro vias de communicação com o resto da cidade; essa ponte deita para o bairro de São João, e aquelle becco, ao poente, para o rio; alli começa a rua 7 de Setembro que se estende até a cadeia, que lá está alvejando na extremidade, e aqui, a leste, a rua da viação. Entremos nella, vamos aspirar seu frescor. Bem espaçosa e extensa é esta rua, Ella corre nos fundos da do Coronel Menesca; este becco é da travessa dos Martyrios, Ella segue, lá está o seu termo; mas daqui sigamos pela Rua do Oriente que estende ao sul na direcção deste becco. Nesta rua, cuja frente deita para o poente só há um quarteirão; aqui termina Ella. Continuemos ao poente pela rua da Bôa Vista". (O Município de sant’Anna, página 192, 2º parágrafo)
“O terreno desocupado que vemos nesta linha já está reservado para edificações; esta rua pouco extensa só tem duas casas, esta de parapeito de João Ribeiro Pessoa Montenegro, e esse sobrado de esquina, do padre Francisco Theotimo de Maria Vasconcellos; Ella dá os fundos para rua da Viração; e esse grande pateo que nos fica à esquerda, arborisado no seguimento desta e da Rua 7 de setembro que se estende ao Sul, com o seu carnaubeiral que tanta graça lhe dá, está destinado para uma praça com a denominação de – Boa Vista - . O seu nome liga-se ao quadro pitoresco da natureza que daqui se descortina.” (O Município de sant’Anna, página 192, 3º parágrafo)
“Atravessemos por este espaçoso beco a rua em frente. Eis o mercado público. O seu pateo interior, quadrilátero encerra-se por quatro ruas de oito quartos cada uma; faltão – lhe apenas quatro quartos do lado do norte. Lá está a ponte que ind’agora vimos; começa daquela casa, a ultima da praça, tenente coronel Manoel Joaquim. Alli mora o nosso digno juiz de Direito Dr. Antônio Sabino do Monte.” (O Município de sant’Anna, página 193, 2º parágrafo)
“Subamos os seus degraos. Como se vê Ella descreve um ângulo obtuzo de linhas desiguaes, esta menor que aquella; e do vértice deste ângulo, no ponto em que nos achamos, descobre-se todo o bairro de São João, e para trás toda auqella praça e a rua do padre Silveira. Desde que a edificação se estenda até aqui, servindo-lhe esta parte de calçada, teremos a ponte em linha reta. – Sigamos; lá vão as linhas dos combustores da iluminação a par de outra de arvoredos que seguem ao longo das ruas por um e outro lado desta praça. Aqui sob os nossos pés estão três arcadas, as águas do rio, nas grandes enchentes, passando por ellas, formão deste lado, à esquerda, uma vasta bacia, onde à tarde, em canoas, por entre aquellas carnaubeiras, as famílias se divertem em agradáveis passeios. Essas duas ruas que avançam,com aquella que se lhe atravessa ao sul e esta que corre aos fundos da rua 7 de Setembro, na maior parte aformoseada de frentes, constituem a praça da Municipalidade”. (O Município de sant’Anna, página 193, 3º parágrafo)
“Aqui, onde começou o nível das calçadas, termina a ponte; vamos pelo meio da praça. Aquelle becco vai ter ao rio, e o sobrado da esquina pertence a D. Theodora Geracina de Andrade, viúva do tenente Francisco Leôncio de Andrade. Este prestimoso cidadão foi o primeiro negociante de seu tempo; o seu movimento comercial elevou-se a oitenta e muitos contos de réis. Haverá dose anos que falleceu, e o seu nome honrado por sua viúva, respeitado por seus dignos filhos, soa ainda em muitos corações, gratos aos seus favores e benefícios; animou o commércio e concorreu muito para o benefício desta praça. Esse magestoso calvário foi obra de Frei Guilherme, missionário Italiano, em 1871, quando aqui pregou com outros companheiros, (...)". (O Município de sant’Anna, página 193, 4º parágrafo)
A bacia a que se refere o autor de “O Município de Sant’Anna” era a conhecida lagoa da caridade que se formava nos tempos de cheia do rio Acaraú. Tal lagoa localizava-se onde hoje está a parte da Praça São João, correspondente ao Mercado Público. Sobre ela, de maneira muito poética nos fala Antônio Bezerra em seu livro notas de viagem:
"Na estação invernosa o rio alaga a planície, e deita as águas além dos últimos degraus do mercado na parte ocidental; e então é belo contemplar a multidão de canoas transportando famílias que em doce recreação passeiam por dentro da cidade.
Pelas noites de luar dizem que é magnífico aquele passatempo, em que não raras vezes a voz melancólica de algum dilletante a gemer suas saudades atrai ao balcão da janela o vulto misterioso de um anjo cismador".
É preciso ter lido Alfred de Musset para avaliar o que são esses deliciosos devaneios de Tizianelo e Beatriz Loredano, que se enleiam no mesmo afeto ao resvalar sutil de uma gôndola nas águas da Riva dei Schiavoni em Veneza".
Suprimimos a ultima parte do parágrafo acima transcrito porque o utilizaremos mais adiante quando tratarmos d prédio da Casa de Câmara onde está situada a prefeitura Municipal.
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