sábado, 26 de março de 2011

O SOBRADO DO PADRE ARAKÉN

SOBRADO DO PADRE ARAKÉN, CONSTRUÇÃO DO SÉCULO XIX, ANTIGA CASA DA FAMÍLIA DO REFERIDO PADRE E ATUAL SEDE DO MEMORIAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA SANT'ANNA
As construções com dois andares sempre constituíram, na história das cidades brasileiras, um sinal de grande poder monetário, status social e gosto requintado.
O sobrado do padre Arakén, o único de sua época e o único ainda hoje em seu bairro quanto ao estilo, muito pode contar do ramo da família Frota que habitou e habita a cidade de Santana do Acaraú: a história de “Frotas” orgulhosos de sua raízes portuguesas, de grande status social não só em Santana e com membros de sua família de renome local(Padre Francisco Arakén da Frota), regional(Dom José Tupinambá da Frota) e até nacional(Dom Jerônimo Tomé da Silva, Bispo Primaz do Brasil).
Conforme o Livro O Município de Sant’Anna e um Manuscrito que legou ao Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna a Senhora Rosa Eronides Pereira, o referido sobrado foi construído, na década de 40 do Século XIX, pelo Coronel Manoel da Frota de Maria (avô materno do Padre Arakén acima referido) na rua à época denominada 28 de Setembro, no local onde ficava a casa de taipa da fazenda do Padre Antônio dos Santos da Silveira, fundador da Capela em honra a Santa Ana que deu origem à Igreja matriz.
No relato que faz sobre Santana do Acaraú em seu livro Notas de Viagem, Antônio Bezerra afirma que “A parte norte, onde se acha igreja de N. S. Santana (...) tem os melhores prédios, observando eu, em alguns, certo asseio, comodidade e ricos móveis, que indicam prosperidade ou pelo menos amor de seus proprietários ao luxo.”
Isto nos leva a pensar que a mobília e a organização da casa desta pequena porção da Família Frota não destoavam das demais do Bairro de Santana, nome pelo qual era conhecido o atual bairro da Matriz à época.
Antes de passar, em 2004, pela reforma e pela restauração parcial que lhe resgataria da deterioração que vinha sofrendo há 33 anos, o mesmo tinha uma estrutura interna bem diferente da que hoje se encontra: pisos superiores de madeira, uma escada de madeira que ligava o piso superior à sala contígua à Loja de tecidos do Coronel Manoel da Frota, outra escada em espiral que ligava os pavimentos superiores á cozinha que mais tarde foi dividida e transformada em duas casas que hoje lhe são vizinhas e outra no último piso que o comunicava com um mirante, estrutura para a observação da paisagem circundante.
Conforme o manuscrito supracitado foi neste sobrado que Manoel da Frota de Maria e Constança Maria do Carmo Sousa Lima tiveram seus filhos: Antônio Epaminondas da Frota, Maria Luísa da Frota, José (que morreu ao nascer) e Úrsula Amélia da Frota (mãe do padre Arakén).
Dele saiu Epaminondas com doze anos para estudar em Fortaleza (partindo desta para os Estados Unidos para formar-se em Engenharia Civil) e Maria Luísa quando se casou com José Mendes Pereira de Vasconcelos, Advogado e fundador do Jornal: O Município de Santana.
Nele, muitas vezes, o Senhor Frota recebeu de maneira principesca alguns de seus ilustres parentes: Dr. Manoel Joaquim da Rocha Frota (que operou, com outro colega médico, a prima Úrsula de um mal ovariano), Dom Jerônimo Tomé da Silva(Bispo primaz do Brasil), Monsenhor Diogo José de Sousa Lima(que foi vigário da Meruoca e de Sobral), seu irmão Padre Miguel Francisco da Frota (que foi Pároco de Santana em 1849), Dr. Antônio Plutarco Lima (Advogado de renome em Sobral), dentre tantos outros.
DOM JERÔNIMO TOMÉ DA SILVA
Morrendo os patriarcas, o sobrado ficou aos cuidados de Dona Úrsula Amélia Frota, filha do Senhor Frota que, casando com o primo Manoel Lúcio Carneiro da Frota, ali viveu e gerou o filho Francisco Arakén da Frota.
PADRE FRANCISCO ARAKÉN DA FROTA
Foi no velho sobrado que inúmeras vezes, vestindo as anáguas da mãe como se fossem uma batina, enfeitando pequeninas mesas como se fossem altares, que o menino Arakén brincava de rezar missas que eram assistidas pelos empregados da casa.
Tais brincadeiras eram um prenúncio da vocação e missão Sacerdotal que exerceu durante vinte e quatro anos em sua terra natal e única Paróquia.
Morou o Padre Arakén no velho sobrado de seus avós enquanto com ele viveu a mãe, que faleceu a 22 de Dezembro de 1938 de maneira súbita.
Morrendo a mãe, o mesmo muda para uma casa que era herança de seus pais localizada na esquina oposta à do sobrado.
Anos depois o Padre Arakén cede o sobrado ao Professor Isaías Thomaz para que o mesmo abra o Educandário padre Joaquim Severiano e ao padre Luís Mendes Frota (seu sucessor na direção da paróquia) a sala do andar de cima a fim de que ali funcionasse a sede do Jornal A Defesa que circulou em Santana de 1945 a 1947.
Fechados o Jornal e o Educandário, Padre Joviniano Loiola Sampaio, que foi pároco da cidade de 1947 a 1949 e de 1951 a 1965, utilizou o velho sobrado como espaço para as reuniões de diversos grupos paroquiais.
Saindo da paróquia Padre Joviniano o sobrado tornou-se casa e escola do Maestro José Alberto Silva que teve, dentre seus pupilos o recém falecido maestro José Ataíde e outros companheiros membros de uma das bandas de música mais antigas do Vale do Acaraú.
Partindo da cidade o maestro José Alberto o sobrado permaneceu fechado e em deterioração por 33 anos quando em 2004 passou pela reforma a que nos referimos anteriormente, realizada pelos padres José Valter da Costa e Agnaldo Temóteo da Silveira a fim de que o mesmo lhes servisse de Casa paroquial, uma vez que o Vigário Emérito Padre Francisco José Aragão e Silva, padecendo de profunda depressão não podia mudar da antiga Casa Paroquial.
Falecendo o padre Aragão, os padres Agnaldo e José Valter mudam-se para a antiga Casa Paroquial, ficando o Sobrado reformado mais uma vez como espaço para as reuniões dos grupos e pastorais.
Em 17 de Julho de 2007, Padre Agnaldo Temóteo da Silveira, assumindo o posto de Pároco, inaugura, após um ano de trabalho e pesquisas, juntamente com Francisco Leandro Costa, O Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna, pequenino Museu situado no segundo andar do sobrado.
Esta sucessão de fatos mostra a importância de um edifício histórico como signo da cultura material e imaterial de um povo.
O velho sobrado do padre Arakén, traz em suas paredes e na metamorfose de sua estrutura o testemunho de várias eras da história santanense que pode ser contado às novas gerações como meio para a construção de sua(s) identidade(s).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo; Francisco Sadoc de, Cronologia Sobralense, Imprensa Universitária – UVA, Sobral – Ce, 1985.
Bezerra, Antônio; Notas de Viagem, Pág. 68, Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza – CE, 1965
Pererira, Rosa Eronides, Manuscrito da coleção do Arquivo do memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant’Anna.

Um comentário:

  1. Muito interessante a história. O padre Arakén realizou o casamento dos meus bisavós em 1928.

    ResponderExcluir