SENHOR CLAUDER ARCANJO NO MOMENTO DE AUTÓGRAFOS DE SEU LIVRO
No dia 23 de Julho, no buffet Beth festas, por ocasião do lançamento, em Santana do Acaraú, do livro Novenário de Espinhos, do escritor santanense Clauder Arcanjo, o Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana expôs uma parte de sua galeria de fotos da festa de cem anos da Paróquia de Senhora Santana (de Santana do Acaraú - Ce)realizada de 25 a 29 de Agosto de 1948: O Congresso Eucarístico de Santana - Licânia.
Algumas das pessoas que visitaram a galeria de fotos vivenciaram momentos do Congresso Eucarístico de 1948 como o senhor Francisco Evangelista Chaves (Chico Pequeno, doador da galeria de fotos), Senhor Galvino Arcanjo, o Poeta Carneiro do Sertão que nos contou ter feito naquela ocasião sua Primeira Eucaristia; dentre outros.
PROFESSOR GALVINO ARCANJO E O SENHOR FRANCISCO DAS CHAGAS BRANDÃO VISITANDO A GALERIA DE FOTOS DO CONGRESSO EUCARÍTICO
O SENHOR JOSÉ BOSCO ARCANJO (SENHOR ZEQUINHA) VISITANDO AS FOTOS DO CONGRESSO DE 1948
Também muitos foram os santanenses das 'novas gerações' que puderam conhecer o trabalho desenvolvido pelo Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana e que ficaram supresos ao saber que sua cidade dispunha de tal aparelho cultural.
O Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana agradece ao senhor Clauder Arcanjo o convite para participar do lançamento de seu livro Novenário de Espinhos e a oportunidade de expormos as fotos do Congresso de 1948 em ocasião tão solene.
terça-feira, 26 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
A PROPÓSITO DA CARTA DE FREI CRISTÓVÃO TRANSCRITA NO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANT’ANNA.
Prática institucional e ordinária entre os missionários, as cartas, dando notícia da situação das missões, cruzavam os oceanos com as gentes e as mercadorias que iam e vinham à Metrópole Portuguesa.
Tendo Frei Cristóvão os encargos de que estava investido: Visitador Eclesiástico, prelado do Santo Ofício, Custódio da Missão dos Capuchos de São Luís do Maranhão e Administrador das missões indígenas de sua circunscrição eclesiástica; cabia ao mesmo dar notícias com frequência à Corte Portuguesa.
Não era rara a situação em que uma carta com mesmo teor tinha que ser enviada mais de uma vez ou em mais de uma via em razão das condições de transporte e como precaução em caso de acidentes marítimos.
Nas pesquisas que até agora empreendemos em busca da fonte de onde foi retirada a carta que o autor de O Município de Sant’Anna transcreveu e afirma ser de Frei Cristóvão de Lisboa, encontramos publicadas somente três cartas deste Frade a seu irmão Manuel Severim de Faría na Revista do Instituto do Ceará (RIC).
Comparando o conteúdo destas ao da referida carta transcrita nada encontramos de semelhança. Contudo, alguns trechos das cartas publicadas na RIC apontam uma razão a mais de porque Frei Cristóvão empreendeu a viagem ao Fortim do Amparo por terra e mostram que, do Ceará, Frei Cristóvão escreveu ao irmão.
Os estudos que temos consultado até agora só fazem referência a duas visitas de Frei Cristóvão ao Ceará. A primeira em Julho de 1624 e a segunda em Junho de 1626. A que interessa a história de Santana do Acaraú é esta última, uma vez que ainda se atribui a Frei Cristóvão a autoria da Carta transcrita no livro O Município de Sant’Anna.
A carta de O Município de Sant’Anna principia dizendo que Frei Cristóvão foi por terra ao Fortim do Amparo, partindo do Maranhão, no dia 13 de maio de 1626. Todos os autores que consultamos: Filho (1955), Willeke (1977), Théberge (1971) e Frei Vicente do Salvador em sua História do Brasil são unanimes em afirmar que Frei Cristóvão empreendeu viagem de um mês ao Fortim do Amparo em 1626.
Venâncio Willeke (1977) afirma que Frei Cristóvão partiu de São Luís com sua comitiva em duas canoas no dia 18 de Maio de 1626. Achando o mar depois da Barra do Rio Periá muito bravo, decidiu prosseguir por terra. Filho (1955), citando um trecho de Anais da História do Maranhão escritos por Berredo, afirma que Frei Cristóvão e sua comitiva vieram caminhando desde a foz do Periá através das parias arenosas do meio norte, por 30 dias.
Na carta de dois de Outubro de 1626, publicada na RIC, encontramos o seguinte trecho onde Frei Cristóvão refere-se a embaraços que lhe foram impostos por bento Maciel e pelo padre Luís Figueira:
‘(...), deixo muitos, e grandes agravos que fez aos religiosos enquanto estive eu no Pará, por que como não são diretamente contra liberdade da Igreja não trato diretamente deles, nem as invenções que fez para me negar o barco que sua Majestade me mandava para ir fazer a vista de Seará, pois por Visitador geral me mandava El Rei dar passagem e mantimento, e eu só pedia passagem, teve intento nisto de não ir eu fazer a visita, ou morrer no caminho indo por terra inda que não quebrei com ele dissimulei tantos agravos, ele, e Luís Figueira temião bravamente minha ida porque receavão que ou fosse ao Rei dar conta das exorbitâncias de ambos, ou menos segurasse as cartas e as escrevesse (...).
Na carta de O Município de Sant’Anna afirma-se que a Serra da Ibiapaba, a Leste, foi o rumo primeiramente planejado por Frei Cristóvão, do qual teve que desviar por conta de índios que perseguiam a comitiva, atacando-os em número de 90, em certo trecho do caminho.
Os autores que já citamos não fazem referência à Ibiapaba. Contudo, se observarmos os mapas da época e os de agora perceberemos que a Ibiapaba é o acidente geográfico que está na fronteira entre os Estados do Ceará e do Piauí, sendo desnecessário citá-lo como ponto de referência dos viajantes.
Quanto ao ataque dos índios os autores supracitados também são unânimes em relação ao fato, ao número de índios e a maneira como os indivíduos armados da comitiva os repreenderam, corroborando o que é afirmado na carta de O Município de Sant’Anna. Filho (1955) afirma que tal ataque promovido por 90 Tapuias de corso, ocorreu após caminharem trinta dias pelas praias arenosas da região do meio norte. A este ataque os homens armados da comitiva responderam com tanta bravura que os Tapuias lhes pediram que fossem feitas as pazes (fato citado por Frei Cristóvão na sua carta de outubro de 1626 em relação aos Tremembé). Willeke (1977) afirma que tal ataque ocorreu em vésperas de São João, foi promovido por índios Tapuia, Arechi e Uruatim e, só não foi pior, porque alguns soldados portugueses, quinze índios da comitiva, Frei Cristóvão, Frei João da Cruz e um sacerdote secular (possivelmente Padre Baltazar João Correia) tomaram armas e os combateram de modo assaz.
Fato curioso desta viagem é a presença, na comitiva, do Padre Baltazar João Correia, sacerdote secular que morava desde 1611 na região do Forte São Sebastião porque vindo da Bahia ao Ceará por solicitação dos Potiguares, de Martin Soares Moreno e nomeação de D. Diogo de Menezes Siqueira como Capelão do Presídio.
Filho (1955) afirma que tal sacerdote era conhecedor de muitas estradas circunvizinhas por não ficar somente na Capela de Nossa Senhora do Amparo, realizando seu trabalho catequético nas aldeias da região. Isto nos leva a concluir que o desvio que fizeram da rota inicialmente planejada foi muito grande para se perderem, como afirma Frei Cristóvão na sua carta de outubro de 1626.
O resto da descrição do caminho: da ponta norte da Ibiapaba ao rio Coreaú (antigo Camocim), deste ao sopé da Meruoca, deste ao Rio Acaraú, do Rio Acaraú ao Serrote do Olho D’Água e deste ao Fortim do Amparo, não a encontramos ainda em nenhum documento que nos aponte existir carta de Frei Cristóvão que a contenha.
Também com relação à promessa do Frade a Santa Ana, a quem atribuiu a graça de ter se salvado da perseguição dos índios, não encontramos documentos que a confirmem ainda. Contudo, esta foi a motivação central para que o Padre Antônio dos Santos da Silveira construísse em 1738 a primitiva capela de Taipa que deu origem à Matriz da cidade.
Porém, trechos das duas cartas de Frei Cristóvão ao irmão Manuel Severim, publicados na RIC, deixam ainda muita margem para pesquisa:
“Da capitania do Seará vos escrevi largamente inda que cheguei lá mais morto que vivo e em três folhas de papel vos relatei tudo o que me tinha sucedido (...)”.
“Do Seará vos escrevi largamente depois de chegar aqui por índias de Castella mas porque estas cartas tem muito que correr antes que cheguem as vossas mãos e porque o alivio que tenho é escreververvos faço esta pelo Brazil, e por três vias, e como as cartas são tantas e as mais por minhas mãos escriptas, e eu estou mal disposto, serei neste mais breve do que quiesera não vos faço menção do que passei, porque estas vão em companhias das de El Rei em que digo o necessário para coligirdes o que cá passo (...).”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTLIZADAS NAS POSTAGENS SOBRE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA
FILHO, Carlos Studart; Dados para uma história eclesiástica do Ceará (1603 – 1750), Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, Fortaleza – Ceará, 1955.
FONSECA, Luísa da; Maranhão e Frei Cristóvão de Lisboa, introdução presente em edição de História dos animais e árvores do Maranhão, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1968.
O MUNICÍPIO DE SANTANA, Papelaria e Tipografia Correio da Semana, Sobral – Ceará, 1926
SALVADOR, Frei Vicente do; História do Brasil, disponível em www.dominiopublico.gov.br
TRÊS CARTAS DE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA, Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, Fortaleza, 1909.
THÉBERGE, Pedro; Esboço Histórico sobre a Província do Ceará, Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará,Fortaleza, 1971.
WILLEKE, Frei Venâncio; Franciscanos na história do Brasil, Petrópolis, Ed. Vozes, 1977
Tendo Frei Cristóvão os encargos de que estava investido: Visitador Eclesiástico, prelado do Santo Ofício, Custódio da Missão dos Capuchos de São Luís do Maranhão e Administrador das missões indígenas de sua circunscrição eclesiástica; cabia ao mesmo dar notícias com frequência à Corte Portuguesa.
Não era rara a situação em que uma carta com mesmo teor tinha que ser enviada mais de uma vez ou em mais de uma via em razão das condições de transporte e como precaução em caso de acidentes marítimos.
Nas pesquisas que até agora empreendemos em busca da fonte de onde foi retirada a carta que o autor de O Município de Sant’Anna transcreveu e afirma ser de Frei Cristóvão de Lisboa, encontramos publicadas somente três cartas deste Frade a seu irmão Manuel Severim de Faría na Revista do Instituto do Ceará (RIC).
Comparando o conteúdo destas ao da referida carta transcrita nada encontramos de semelhança. Contudo, alguns trechos das cartas publicadas na RIC apontam uma razão a mais de porque Frei Cristóvão empreendeu a viagem ao Fortim do Amparo por terra e mostram que, do Ceará, Frei Cristóvão escreveu ao irmão.
Os estudos que temos consultado até agora só fazem referência a duas visitas de Frei Cristóvão ao Ceará. A primeira em Julho de 1624 e a segunda em Junho de 1626. A que interessa a história de Santana do Acaraú é esta última, uma vez que ainda se atribui a Frei Cristóvão a autoria da Carta transcrita no livro O Município de Sant’Anna.
A carta de O Município de Sant’Anna principia dizendo que Frei Cristóvão foi por terra ao Fortim do Amparo, partindo do Maranhão, no dia 13 de maio de 1626. Todos os autores que consultamos: Filho (1955), Willeke (1977), Théberge (1971) e Frei Vicente do Salvador em sua História do Brasil são unanimes em afirmar que Frei Cristóvão empreendeu viagem de um mês ao Fortim do Amparo em 1626.
Venâncio Willeke (1977) afirma que Frei Cristóvão partiu de São Luís com sua comitiva em duas canoas no dia 18 de Maio de 1626. Achando o mar depois da Barra do Rio Periá muito bravo, decidiu prosseguir por terra. Filho (1955), citando um trecho de Anais da História do Maranhão escritos por Berredo, afirma que Frei Cristóvão e sua comitiva vieram caminhando desde a foz do Periá através das parias arenosas do meio norte, por 30 dias.
Na carta de dois de Outubro de 1626, publicada na RIC, encontramos o seguinte trecho onde Frei Cristóvão refere-se a embaraços que lhe foram impostos por bento Maciel e pelo padre Luís Figueira:
‘(...), deixo muitos, e grandes agravos que fez aos religiosos enquanto estive eu no Pará, por que como não são diretamente contra liberdade da Igreja não trato diretamente deles, nem as invenções que fez para me negar o barco que sua Majestade me mandava para ir fazer a vista de Seará, pois por Visitador geral me mandava El Rei dar passagem e mantimento, e eu só pedia passagem, teve intento nisto de não ir eu fazer a visita, ou morrer no caminho indo por terra inda que não quebrei com ele dissimulei tantos agravos, ele, e Luís Figueira temião bravamente minha ida porque receavão que ou fosse ao Rei dar conta das exorbitâncias de ambos, ou menos segurasse as cartas e as escrevesse (...).
Na carta de O Município de Sant’Anna afirma-se que a Serra da Ibiapaba, a Leste, foi o rumo primeiramente planejado por Frei Cristóvão, do qual teve que desviar por conta de índios que perseguiam a comitiva, atacando-os em número de 90, em certo trecho do caminho.
Os autores que já citamos não fazem referência à Ibiapaba. Contudo, se observarmos os mapas da época e os de agora perceberemos que a Ibiapaba é o acidente geográfico que está na fronteira entre os Estados do Ceará e do Piauí, sendo desnecessário citá-lo como ponto de referência dos viajantes.
Quanto ao ataque dos índios os autores supracitados também são unânimes em relação ao fato, ao número de índios e a maneira como os indivíduos armados da comitiva os repreenderam, corroborando o que é afirmado na carta de O Município de Sant’Anna. Filho (1955) afirma que tal ataque promovido por 90 Tapuias de corso, ocorreu após caminharem trinta dias pelas praias arenosas da região do meio norte. A este ataque os homens armados da comitiva responderam com tanta bravura que os Tapuias lhes pediram que fossem feitas as pazes (fato citado por Frei Cristóvão na sua carta de outubro de 1626 em relação aos Tremembé). Willeke (1977) afirma que tal ataque ocorreu em vésperas de São João, foi promovido por índios Tapuia, Arechi e Uruatim e, só não foi pior, porque alguns soldados portugueses, quinze índios da comitiva, Frei Cristóvão, Frei João da Cruz e um sacerdote secular (possivelmente Padre Baltazar João Correia) tomaram armas e os combateram de modo assaz.
Fato curioso desta viagem é a presença, na comitiva, do Padre Baltazar João Correia, sacerdote secular que morava desde 1611 na região do Forte São Sebastião porque vindo da Bahia ao Ceará por solicitação dos Potiguares, de Martin Soares Moreno e nomeação de D. Diogo de Menezes Siqueira como Capelão do Presídio.
Filho (1955) afirma que tal sacerdote era conhecedor de muitas estradas circunvizinhas por não ficar somente na Capela de Nossa Senhora do Amparo, realizando seu trabalho catequético nas aldeias da região. Isto nos leva a concluir que o desvio que fizeram da rota inicialmente planejada foi muito grande para se perderem, como afirma Frei Cristóvão na sua carta de outubro de 1626.
O resto da descrição do caminho: da ponta norte da Ibiapaba ao rio Coreaú (antigo Camocim), deste ao sopé da Meruoca, deste ao Rio Acaraú, do Rio Acaraú ao Serrote do Olho D’Água e deste ao Fortim do Amparo, não a encontramos ainda em nenhum documento que nos aponte existir carta de Frei Cristóvão que a contenha.
Também com relação à promessa do Frade a Santa Ana, a quem atribuiu a graça de ter se salvado da perseguição dos índios, não encontramos documentos que a confirmem ainda. Contudo, esta foi a motivação central para que o Padre Antônio dos Santos da Silveira construísse em 1738 a primitiva capela de Taipa que deu origem à Matriz da cidade.
Porém, trechos das duas cartas de Frei Cristóvão ao irmão Manuel Severim, publicados na RIC, deixam ainda muita margem para pesquisa:
“Da capitania do Seará vos escrevi largamente inda que cheguei lá mais morto que vivo e em três folhas de papel vos relatei tudo o que me tinha sucedido (...)”.
“Do Seará vos escrevi largamente depois de chegar aqui por índias de Castella mas porque estas cartas tem muito que correr antes que cheguem as vossas mãos e porque o alivio que tenho é escreververvos faço esta pelo Brazil, e por três vias, e como as cartas são tantas e as mais por minhas mãos escriptas, e eu estou mal disposto, serei neste mais breve do que quiesera não vos faço menção do que passei, porque estas vão em companhias das de El Rei em que digo o necessário para coligirdes o que cá passo (...).”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTLIZADAS NAS POSTAGENS SOBRE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA
FILHO, Carlos Studart; Dados para uma história eclesiástica do Ceará (1603 – 1750), Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, Fortaleza – Ceará, 1955.
FONSECA, Luísa da; Maranhão e Frei Cristóvão de Lisboa, introdução presente em edição de História dos animais e árvores do Maranhão, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1968.
O MUNICÍPIO DE SANTANA, Papelaria e Tipografia Correio da Semana, Sobral – Ceará, 1926
SALVADOR, Frei Vicente do; História do Brasil, disponível em www.dominiopublico.gov.br
TRÊS CARTAS DE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA, Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, Fortaleza, 1909.
THÉBERGE, Pedro; Esboço Histórico sobre a Província do Ceará, Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará,Fortaleza, 1971.
WILLEKE, Frei Venâncio; Franciscanos na história do Brasil, Petrópolis, Ed. Vozes, 1977
domingo, 10 de julho de 2011
A CARTA DE FREI CRISTÓVÃO TRANSCRITA EM O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA
Eleito para custódio do Maranhão, a cujo estado se acha ligado o território do Ceará, empreendi por terra ao Fortim do Amparo esta viagem; e parti dali no dia 13 de maio passado, em companhia de 4 padres e 25 homens de armas...
A Serra da Ibiapaba a leste foi meu primeiro rumo; do qual forçoso me foi desviar, descendo ao norte, para evitar o gentio que nos embaraça o passo!
Já havíamos vencido as escabrosidades que o terreno nas suas imediações nos oferecia; já nos preparávamos para levantar nossas tendas, e repousar de fadigas, quando um acontecimento extraordinário veio nos surpreender, ao por do Sol!... Um bando de 90 tapuias, com inconcebível algazarra, acometeu-nos com tal violência que na sua fúria, nos faria sucumbir, se Deus, a quem dirigi meus rogos, não tivesse encorajado os homens que nos defendiam.
Nessa luta tremenda e desesperada, fomos vitoriosos! Os Tapuias fugirão!... Porem, ocultando-se na mata, de quando em vez nos despediam suas flechas que passavam por sobre as nossas cabeças, ora caindo além!
Não podemos, portanto, levantar as tendas! A jornada continuou no meio da noite, que se aumentava de trevas na espessura do emaranhado do bosque que atravessamos!
Caminhamos toda noite; e no dia seguinte, tendo descido mais ao Norte, aquela ponta da Ibiapaba de que fugíamos se mostrava ao longe verdejante, admiravelmente viçosa.
Estávamos a três léguas mais ou menos distantes; eram 9 horas da manhã, quando uma chapada se nos abriu adiante, ai levantamos nossas tendas para nos refazer de forças... Os nossos homens saíram a bater as serranias, explorando o inimigo; e de volta, duas horas depois, nos trouxeram água e com eles um índio que conduzia às costas um fardo envolto em peles de veado!... Vestia, apenas ceroulas de algodão, tendo ao lado pendente um arco e seu carcaz deposito de inúmeras e mortíferas setas! A sua fisionomia, conquanto desconfiada, era amigueira!.. Falava mal o português, mas ajudado, dos gestos se fazia entender.
Era da tribo dos Potiguares, natural do Rio Grande do Norte, d’onde partira em Maio de 1603, fazendo parte, com Martin Soares Moreno, de uma expedição, que Pedro Coelho de Sousa conduzia de Pernambuco a Maranhão.
As suas revelações são de todo importantes; entre outras, que por extensas omito, mencionarei as seguintes: - Que essa expedição naquele mesmo tempo, de passagem, tocara na costa do Mucuripe, a uma légua do qual Coelho levantara um forte, que denominou – São Tiago; - sendo a batizada pelos da tribo sua, com o nome de Ceará;
- Que Coelho, ali, pouco se demorou. Seguiu a sua derrota; e do maranhão partira com forças expedicionárias até a Ibiapaba, aonde em 1604, pretendeu se estabelecer.
- Que os Tapuias o receberão mal; revoltaram –se os índios aliados do francês Mambille, sendo ultimamente rechaçado em cruenta guerra, por Mel – Redondo, chefe dos Tabajaras, e por Jaryparyguassú, chefes do Turamambéres, vendo-se obrigado a fugir!...
- Que ele, ferido, não pudera acompanhá-lo; e ali se demorou sendo vigiado pelos índios, até 1608, quando se evadira em companhia do missionário Luiz Figueira, que também fugia conduzindo os restos mortais do padre Francisco Pinto, vítima dos Tapuias!...
- Que chegando ao Ceará, um ano depois, se juntara a Martin Soares Moreno, nomeado Capitão – mór, e como seu afeiçoado, com ele seguira, em 1613; para ao Forte do Rosário, no Jeriquaquara, onde não tendo Moreno voltado de uma viagem rápida ao Maranhão, ele continuava a esperá-lo, constituindo-se na sua ausência, chefe dos índios Camocins, que aderiram à causa portuguesa;
- Que, finalmente, por ali, onde o encontramos, andava concitando os ânimos dos seus aliados para opor embaraço aos Holandeses, que em grandes navios bordejavam em frente aos portos de Camocim e Jeriquaquara.
Soubemos então que aquele violento acometimento dos Tapuias procedia ainda do ódio que votavam a Pedro Coelho; e compreendemos o estado de nossa desgraçada situação!
Desanimados, não sabíamos deliberar! Íamos fazer conselho, quando o índio, debruçando-se no chão, um minuto depois, rápido como a onça, que se lança a presa, saltou nas suas armas dizendo: - silêncio! Nem mais um instante... Partamos!...
Cegamente obedecemos aquele homem, a quem o susto fizera seguir sem reflexão!... A marcha era apressada, no rumo de Nordeste; e ele caminhava na frente abrindo a mata, cujos ramos pareciam flexíveis ao contato dos seus reforçados ombros!
Duas horas depois de uma marcha sempre ativa e fatigante, chegamos a um ribeiro, que o nosso guia chamou – Camocim – ali, estáticos assistimos a uma cerimônia que não pudemos compreender! O índio, apanhando na margem um grande lagarto atravessou-o pelas costas com um farpão de flecha, guarnecida com plumas de guará; e depois fincou-a no leito, como baliza sobre um banco de areia!
Tudo aquilo foi rápido!... continuamos a nossa derrota; e a cem passos dali, paramos porque o índio parou!
A nossa inquietação era excessiva! Já nos levava a pedir explicações ao índio; quando um rugido pavoroso, atroador, retumbando na floresta, fez estremecer a terra que pisávamos!
De joelhos caímos todos... E orávamos fervorosos, quando o índio que ficara sentado, levantando-se, nos disse em tom calmo e gracejador: rezar é bom, amigos, melhor será ainda depois que tivermos ceiado!...
Pareceu-me aquilo uma blasfêmia!... O índio afigurou-se –me naquele momento, em que a morte tínhamos certa, a imagem de Satã que nos queria distrair da oração!... Não lhe respondemos; e então ele alçando a voz, continuou: - Nada tendes a temer... Aquilo que, vos aterroriza, é justamente o que deve vos alegrar!... _ Uma infinidade de índios, contra os quais nada poderiam fazer os vossos homens de armas, marchava em vossa procura quando debruçado no chão, ouvi-lhes o tropel! Foi então que vos aconselhei que fugísseis... Eles seguiram na nossa batida, mas deparando com a minha flecha, surpresos bramiram de raiva, não podendo passar além... Eles conhecem os índios da costa e sabem o quanto vale o chefe Camocim... Leram no símbolo que lhes deixei – a guerra na cor encarnada da pluma da flecha -, e a morte, até de emboscada, no lagarto que pelas costas espetei.
- Aquela flecha foi um marco que lhes estacou o passo: Eles já voltaram... Estais salvos... Vamos à ceia que ainda não comi. E de fato, um instante depois novo ruído atroou os ares, e se foi repetindo ao longe, ecoando de vez em quando, aos ouvidos, até que afinal desapareceu de todo!
No dia seguinte partimos: foi – nos preciso evitar as cercanias da Ibiapaba, que estendia ao sueste; e tomamos o rumo de Nordeste.
Seguimos; e adiante uma serra redonda, que o índio chamou Meruoca ou das moscas, se erguia a distância... Fizemos uma meia volta, e paramos ao norte daquela serra.
A sua verdura foi objeto de nossa admiração! Magnifica era a sua perspectiva!... Soberbos cabeços se elevavam aos céus!... Eram vicejantes até as suas extremidades!
Parecia um ninho de frescura, que Deus em sua alta sabedoria, ali construíra para reagir nos desvios das estações!...
Entre nós e aquela serra estendia – se um serrote do qual um pouco pedregoso se erguia às alturas. Pousávamos na planície junto a um olho d’água, que, em borbulhões, dependia uma torrente límpida, abundante!
Dali seguimos no rumo de Sueste, ladiando a Serra.
Já tínhamos caminhado muitas léguas e nos dispúnhamos ao descanço quando ouvimos na mata, a pequena distância, uma algazarra que parecia um choro infernal! O índio tirou a camisa e para lá se dirigiu...
Soubemos então na sua volta, que ali havia uma taba de tapuias inofensivos, e que choravam a morte de seu velho chefe Cocó chyny... Agitados, pernoitamos na mata dos tapuias; e ao alvorecer da manhã partimos no rumo de Leste. Em seguida atravessamos um ribeiro que nascia daquela serra, tendo-nos antes demorado à sua margem até que nos desse passagem... ao longe vimos um Serrote: - Ali, disse o índio – descansareis dos vossos sustos, porque os tapuias não vos perseguirão mais... O Rio Acaracú é uma linha que os divide entre os Areriús. – Naquele serrote assentaram os chefes de uma e outra tribo nessa convenção, como entre nós no rio Camocim: entre os índios há leis que se cumprem religiosamente.
A esperança começou a renascer em nossos corações desde aquele ribeiro, cuja passagem celebrizamos, comparando-a, na nossa peregrinação com a do mar vermelho... Veio-nos a ideia de salvação!
A sofreguidão para alcançar o Serrote indicado animava a comitiva; e o nosso passo era apressado! Ao meio dia chegamos a margem de um outro ribeiro.
Ali parou o índio, dizendo-nos! Eis o Rio Acaracú, ou Rio das Garças, na língua indígena.
Atravessamos aquele rio, cujas águas desviando dos montões de areia que haviam no leito, abeiravam-se das margens, onde corriam com pequena largura, apenas nos cobriam os pés.
O serrote demorava-se à meia – légua daquele sitio: seguimos na sua direção, ofegantes, cheios de emoções!
A uma hora chegamos as suas cercanias...
À esquerda uma cordilheira pedregosa e à direita o serrote majestosamente se erguia coberto de vicejante floresta!
Entramos entre ambos, numa espécie de vale, e passamos à sua raiz, onde gigantescas árvores entrelaçando as suas frondosas copas formavam, à considerável altura, uma abóboda verdejante derramando sobra e frescura naquele recinto, cujo pavimento se cobria de um verde e macio tapete de relvas!
Maravilhoso espetáculo! – Ali penedia talhava-se precipite do nosso lado, e, na altura de 15 palmos, uma laje sobreposta, destacando-se dela, avançava nos espaço para nós, meio inclinada, formando um dossel original! No fundo debaixo daquela laje, três largas pedras, que pareciam servi-lhe de contraforte, sobrepondo-se umas as outras apresentavam dois degraus regularmente dispostos: de um lado, pela fenda de uma rocha, como se ali houvera uma torneira ou um tubo d’água, com o diâmetro de uma polegada, saiu em jorro precipitando-se numa cavidade, que a natureza caprichosamente fizera na pedra, à imitação de uma Pia! – a todo apresentava um altar, que nos convidava á oração! Ligeira foi a sua contemplação! O quadro sugeriu a todos a mesma ideia, e fomos colocar ali as imagens que trazíamos...
Foi então que vimos com surpresa a de Cristo despedaçada!...
Salvara-se, porém, intacta a imagem da senhora Sant’Anna, que tinha nos braços a da santíssima virgem... E sobre aquele tosco trono, já ornado de folhas e flores silvestres, a colocamos ajoelhando-nos a seus pés.
Oramos... E naquela hora em que o coração compenetrando-se dos mais puros sentimentos de religiosidade, faria voar o pensamento aos artigos da celestial mansão, prometi àquela Santa em troca dos seus favores, erigir-lhe uma capela naquela solidão, onde, mais tarde, os fiéis fizessem eternizar o seu culto e adorações sob a denominação de Nossa Senhora Sant’Anna do Olho D’água!... Eis senhores o voto que ontem fiz, chegando aqui depois de trinta dias de perigosa viagem!...
Hoje prosseguiremos a nossa jornada, e como não é certo chegarmos ao seu termo, apresso-me a escrever estas linhas que um dia dadas as minhas provisões, a Providência os fará receber!...
No cumprimento desse voto, se ele me for vedado, obtereis a proteção Divina; e na sua execução, esquadrinhando o solo que vos descrevo, colhereis frutos e proventos que compensarão vosso trabalho...
Terminada a nossa oração, à convite do índio subi ao Monte... dificilmente chegamos ao seu ponto culminante! Dali se via ao Norte, os morros de areia da praia na distância de 20 ou mais léguas!
Encantador era o painel, que se ostentava aos olhos naquela vastidão, eriçada de um e outro lado por uma cadeia de Serrania, que se terminava no horizonte! Depois o índio voltando-se ao poente disse – ali, a uma légua deste morro, mais ao Sul, um Monte que se cobre de pedras pretas, encerra no seu seio uma jazida de prata, cujo pó alvíssimo é abundante.... – Os seus produtos poderão concorrer para a realização da promessa que fizeste...
E voltando-se, finalmente, para Leste apontou – lá vai o seu caminho... Segue à direita daquelas serras, fugindo às suas imediações...
Ele calou-se; beijou-me a mão, e veloz como o gamo, desceu a penedia, escorreu pelos talhados, e sumiu-se sem o menor estrépito!...
Serrote do Olho D’Água 16 de Junho de 1626.
Frei Cristóvão de Lisboa
A Serra da Ibiapaba a leste foi meu primeiro rumo; do qual forçoso me foi desviar, descendo ao norte, para evitar o gentio que nos embaraça o passo!
Já havíamos vencido as escabrosidades que o terreno nas suas imediações nos oferecia; já nos preparávamos para levantar nossas tendas, e repousar de fadigas, quando um acontecimento extraordinário veio nos surpreender, ao por do Sol!... Um bando de 90 tapuias, com inconcebível algazarra, acometeu-nos com tal violência que na sua fúria, nos faria sucumbir, se Deus, a quem dirigi meus rogos, não tivesse encorajado os homens que nos defendiam.
Nessa luta tremenda e desesperada, fomos vitoriosos! Os Tapuias fugirão!... Porem, ocultando-se na mata, de quando em vez nos despediam suas flechas que passavam por sobre as nossas cabeças, ora caindo além!
Não podemos, portanto, levantar as tendas! A jornada continuou no meio da noite, que se aumentava de trevas na espessura do emaranhado do bosque que atravessamos!
Caminhamos toda noite; e no dia seguinte, tendo descido mais ao Norte, aquela ponta da Ibiapaba de que fugíamos se mostrava ao longe verdejante, admiravelmente viçosa.
Estávamos a três léguas mais ou menos distantes; eram 9 horas da manhã, quando uma chapada se nos abriu adiante, ai levantamos nossas tendas para nos refazer de forças... Os nossos homens saíram a bater as serranias, explorando o inimigo; e de volta, duas horas depois, nos trouxeram água e com eles um índio que conduzia às costas um fardo envolto em peles de veado!... Vestia, apenas ceroulas de algodão, tendo ao lado pendente um arco e seu carcaz deposito de inúmeras e mortíferas setas! A sua fisionomia, conquanto desconfiada, era amigueira!.. Falava mal o português, mas ajudado, dos gestos se fazia entender.
Era da tribo dos Potiguares, natural do Rio Grande do Norte, d’onde partira em Maio de 1603, fazendo parte, com Martin Soares Moreno, de uma expedição, que Pedro Coelho de Sousa conduzia de Pernambuco a Maranhão.
As suas revelações são de todo importantes; entre outras, que por extensas omito, mencionarei as seguintes: - Que essa expedição naquele mesmo tempo, de passagem, tocara na costa do Mucuripe, a uma légua do qual Coelho levantara um forte, que denominou – São Tiago; - sendo a batizada pelos da tribo sua, com o nome de Ceará;
- Que Coelho, ali, pouco se demorou. Seguiu a sua derrota; e do maranhão partira com forças expedicionárias até a Ibiapaba, aonde em 1604, pretendeu se estabelecer.
- Que os Tapuias o receberão mal; revoltaram –se os índios aliados do francês Mambille, sendo ultimamente rechaçado em cruenta guerra, por Mel – Redondo, chefe dos Tabajaras, e por Jaryparyguassú, chefes do Turamambéres, vendo-se obrigado a fugir!...
- Que ele, ferido, não pudera acompanhá-lo; e ali se demorou sendo vigiado pelos índios, até 1608, quando se evadira em companhia do missionário Luiz Figueira, que também fugia conduzindo os restos mortais do padre Francisco Pinto, vítima dos Tapuias!...
- Que chegando ao Ceará, um ano depois, se juntara a Martin Soares Moreno, nomeado Capitão – mór, e como seu afeiçoado, com ele seguira, em 1613; para ao Forte do Rosário, no Jeriquaquara, onde não tendo Moreno voltado de uma viagem rápida ao Maranhão, ele continuava a esperá-lo, constituindo-se na sua ausência, chefe dos índios Camocins, que aderiram à causa portuguesa;
- Que, finalmente, por ali, onde o encontramos, andava concitando os ânimos dos seus aliados para opor embaraço aos Holandeses, que em grandes navios bordejavam em frente aos portos de Camocim e Jeriquaquara.
Soubemos então que aquele violento acometimento dos Tapuias procedia ainda do ódio que votavam a Pedro Coelho; e compreendemos o estado de nossa desgraçada situação!
Desanimados, não sabíamos deliberar! Íamos fazer conselho, quando o índio, debruçando-se no chão, um minuto depois, rápido como a onça, que se lança a presa, saltou nas suas armas dizendo: - silêncio! Nem mais um instante... Partamos!...
Cegamente obedecemos aquele homem, a quem o susto fizera seguir sem reflexão!... A marcha era apressada, no rumo de Nordeste; e ele caminhava na frente abrindo a mata, cujos ramos pareciam flexíveis ao contato dos seus reforçados ombros!
Duas horas depois de uma marcha sempre ativa e fatigante, chegamos a um ribeiro, que o nosso guia chamou – Camocim – ali, estáticos assistimos a uma cerimônia que não pudemos compreender! O índio, apanhando na margem um grande lagarto atravessou-o pelas costas com um farpão de flecha, guarnecida com plumas de guará; e depois fincou-a no leito, como baliza sobre um banco de areia!
Tudo aquilo foi rápido!... continuamos a nossa derrota; e a cem passos dali, paramos porque o índio parou!
A nossa inquietação era excessiva! Já nos levava a pedir explicações ao índio; quando um rugido pavoroso, atroador, retumbando na floresta, fez estremecer a terra que pisávamos!
De joelhos caímos todos... E orávamos fervorosos, quando o índio que ficara sentado, levantando-se, nos disse em tom calmo e gracejador: rezar é bom, amigos, melhor será ainda depois que tivermos ceiado!...
Pareceu-me aquilo uma blasfêmia!... O índio afigurou-se –me naquele momento, em que a morte tínhamos certa, a imagem de Satã que nos queria distrair da oração!... Não lhe respondemos; e então ele alçando a voz, continuou: - Nada tendes a temer... Aquilo que, vos aterroriza, é justamente o que deve vos alegrar!... _ Uma infinidade de índios, contra os quais nada poderiam fazer os vossos homens de armas, marchava em vossa procura quando debruçado no chão, ouvi-lhes o tropel! Foi então que vos aconselhei que fugísseis... Eles seguiram na nossa batida, mas deparando com a minha flecha, surpresos bramiram de raiva, não podendo passar além... Eles conhecem os índios da costa e sabem o quanto vale o chefe Camocim... Leram no símbolo que lhes deixei – a guerra na cor encarnada da pluma da flecha -, e a morte, até de emboscada, no lagarto que pelas costas espetei.
- Aquela flecha foi um marco que lhes estacou o passo: Eles já voltaram... Estais salvos... Vamos à ceia que ainda não comi. E de fato, um instante depois novo ruído atroou os ares, e se foi repetindo ao longe, ecoando de vez em quando, aos ouvidos, até que afinal desapareceu de todo!
No dia seguinte partimos: foi – nos preciso evitar as cercanias da Ibiapaba, que estendia ao sueste; e tomamos o rumo de Nordeste.
Seguimos; e adiante uma serra redonda, que o índio chamou Meruoca ou das moscas, se erguia a distância... Fizemos uma meia volta, e paramos ao norte daquela serra.
A sua verdura foi objeto de nossa admiração! Magnifica era a sua perspectiva!... Soberbos cabeços se elevavam aos céus!... Eram vicejantes até as suas extremidades!
Parecia um ninho de frescura, que Deus em sua alta sabedoria, ali construíra para reagir nos desvios das estações!...
Entre nós e aquela serra estendia – se um serrote do qual um pouco pedregoso se erguia às alturas. Pousávamos na planície junto a um olho d’água, que, em borbulhões, dependia uma torrente límpida, abundante!
Dali seguimos no rumo de Sueste, ladiando a Serra.
Já tínhamos caminhado muitas léguas e nos dispúnhamos ao descanço quando ouvimos na mata, a pequena distância, uma algazarra que parecia um choro infernal! O índio tirou a camisa e para lá se dirigiu...
Soubemos então na sua volta, que ali havia uma taba de tapuias inofensivos, e que choravam a morte de seu velho chefe Cocó chyny... Agitados, pernoitamos na mata dos tapuias; e ao alvorecer da manhã partimos no rumo de Leste. Em seguida atravessamos um ribeiro que nascia daquela serra, tendo-nos antes demorado à sua margem até que nos desse passagem... ao longe vimos um Serrote: - Ali, disse o índio – descansareis dos vossos sustos, porque os tapuias não vos perseguirão mais... O Rio Acaracú é uma linha que os divide entre os Areriús. – Naquele serrote assentaram os chefes de uma e outra tribo nessa convenção, como entre nós no rio Camocim: entre os índios há leis que se cumprem religiosamente.
A esperança começou a renascer em nossos corações desde aquele ribeiro, cuja passagem celebrizamos, comparando-a, na nossa peregrinação com a do mar vermelho... Veio-nos a ideia de salvação!
A sofreguidão para alcançar o Serrote indicado animava a comitiva; e o nosso passo era apressado! Ao meio dia chegamos a margem de um outro ribeiro.
Ali parou o índio, dizendo-nos! Eis o Rio Acaracú, ou Rio das Garças, na língua indígena.
Atravessamos aquele rio, cujas águas desviando dos montões de areia que haviam no leito, abeiravam-se das margens, onde corriam com pequena largura, apenas nos cobriam os pés.
O serrote demorava-se à meia – légua daquele sitio: seguimos na sua direção, ofegantes, cheios de emoções!
A uma hora chegamos as suas cercanias...
À esquerda uma cordilheira pedregosa e à direita o serrote majestosamente se erguia coberto de vicejante floresta!
Entramos entre ambos, numa espécie de vale, e passamos à sua raiz, onde gigantescas árvores entrelaçando as suas frondosas copas formavam, à considerável altura, uma abóboda verdejante derramando sobra e frescura naquele recinto, cujo pavimento se cobria de um verde e macio tapete de relvas!
Maravilhoso espetáculo! – Ali penedia talhava-se precipite do nosso lado, e, na altura de 15 palmos, uma laje sobreposta, destacando-se dela, avançava nos espaço para nós, meio inclinada, formando um dossel original! No fundo debaixo daquela laje, três largas pedras, que pareciam servi-lhe de contraforte, sobrepondo-se umas as outras apresentavam dois degraus regularmente dispostos: de um lado, pela fenda de uma rocha, como se ali houvera uma torneira ou um tubo d’água, com o diâmetro de uma polegada, saiu em jorro precipitando-se numa cavidade, que a natureza caprichosamente fizera na pedra, à imitação de uma Pia! – a todo apresentava um altar, que nos convidava á oração! Ligeira foi a sua contemplação! O quadro sugeriu a todos a mesma ideia, e fomos colocar ali as imagens que trazíamos...
Foi então que vimos com surpresa a de Cristo despedaçada!...
Salvara-se, porém, intacta a imagem da senhora Sant’Anna, que tinha nos braços a da santíssima virgem... E sobre aquele tosco trono, já ornado de folhas e flores silvestres, a colocamos ajoelhando-nos a seus pés.
Oramos... E naquela hora em que o coração compenetrando-se dos mais puros sentimentos de religiosidade, faria voar o pensamento aos artigos da celestial mansão, prometi àquela Santa em troca dos seus favores, erigir-lhe uma capela naquela solidão, onde, mais tarde, os fiéis fizessem eternizar o seu culto e adorações sob a denominação de Nossa Senhora Sant’Anna do Olho D’água!... Eis senhores o voto que ontem fiz, chegando aqui depois de trinta dias de perigosa viagem!...
Hoje prosseguiremos a nossa jornada, e como não é certo chegarmos ao seu termo, apresso-me a escrever estas linhas que um dia dadas as minhas provisões, a Providência os fará receber!...
No cumprimento desse voto, se ele me for vedado, obtereis a proteção Divina; e na sua execução, esquadrinhando o solo que vos descrevo, colhereis frutos e proventos que compensarão vosso trabalho...
Terminada a nossa oração, à convite do índio subi ao Monte... dificilmente chegamos ao seu ponto culminante! Dali se via ao Norte, os morros de areia da praia na distância de 20 ou mais léguas!
Encantador era o painel, que se ostentava aos olhos naquela vastidão, eriçada de um e outro lado por uma cadeia de Serrania, que se terminava no horizonte! Depois o índio voltando-se ao poente disse – ali, a uma légua deste morro, mais ao Sul, um Monte que se cobre de pedras pretas, encerra no seu seio uma jazida de prata, cujo pó alvíssimo é abundante.... – Os seus produtos poderão concorrer para a realização da promessa que fizeste...
E voltando-se, finalmente, para Leste apontou – lá vai o seu caminho... Segue à direita daquelas serras, fugindo às suas imediações...
Ele calou-se; beijou-me a mão, e veloz como o gamo, desceu a penedia, escorreu pelos talhados, e sumiu-se sem o menor estrépito!...
Serrote do Olho D’Água 16 de Junho de 1626.
Frei Cristóvão de Lisboa
FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA - CAPÍTULO III: A VIAGEM MISSIONÁRIA DE 1626
Da primeira viagem missionária ao Ceará a comitiva de Frei Cristóvão seguiu para o Maranhão onde chegou a 6 de agosto de 1624.
Logo que chegou, vendo as péssimas condições do pequeno convento dos capuchinhos franceses, tratou logo de mandar construir um novo convento, muito mais espaçoso, que seria o centro das futuras missões do Maranhão.
Terminadas as obras do convento, realizadas tantas outras obras espirituais no Maranhão, Frei Cristóvão empreendeu viagens missionárias para, em outras áreas de sua circunscrição eclesiástica, prover as almas do pasto espiritual necessário.
A que nos interessa para a história de Santana do Acaraú é a de 1626, onde Frei Cristóvão partiu de São Luís com destino ao Fortim do Amparo.
Segundo Willeke, após chegar da viagem missionária ao Pará e após visitas missionárias na cidade de São Luís, Frei Cristóvão embarcou com os irmãos em duas canoas rumo ao Fortim do Amparo em Fortaleza. Estando, porém, o mar bravo depois da barra do rio Periá, o frade decidiu prosseguir a viagem por terra.
Após 35 dias de viagem, em vésperas do dia de São João, a comitiva foi atacada por cerca de 90 índios que se apoderaram de sua bagagem e os ameaçaram de morte. Tal fato só não se consumou graças a resistência oferecida por alguns soldados e quinze índios da comitiva que a todos defenderam apesar do saldo de três deles mortos e dois padres feridos: Frei João da Cruz e um sacerdote secular.
Frei Vicente do Salvador, em seu livro História do Brasil, relata que esta comitiva missionária chegou no dia 25 de Junho de 1626 a Fortaleza após dias de penosa e extenuante viagem.
No livro o Município de Santana so autores transcreveram uma carta que dizem ser de Frei Cristóvão e que relata com mais detalhes esta viagem. Como o livro foi escrito em folhetins de 1882 a 1884 e só depois os folhetins foram reunidos em um livro em 1926 por Dom José Tupinambá da Frota, não há citação da fonte de onde foi retirada a tal carta.
Luísa da Fonseca, em introdução à edição de História dos Animais e Árvores do Maranhão publicada pela Universidade Federal do Paraná, refere-se a uma carta de Frei Cristóvão a Frei Antônio da Merceana cujo relato achamos muito parecido com o da carta a que nos referimos acima:
A carta ao padre Frei Antônio da Merceana é toda cheia de queixas contra os que se opunham à sua actuação. Nesta descreve dois recontros com os índios tapuias e os trabalhos que passaram de fome de sede, perdidos no caminho, andando um mês e seis dias e morrendo mais nove pessoas de sua companhia. Refere-se também a um recontro com os índios Tremembez
A descrição do tempo da viagem é o mesmo de outras fontes, contudo, só poderíamos ter certeza se a carta transcrita em o Município de Sant'Anna é a que foi destinada a Frei antõnio da Merceana se tivésemos fontes mais aprofundadas ou contato com o original.
Na próxima postagem transcreveremos a carta que se encontra no livro O Município de Sant'Anna.
Logo que chegou, vendo as péssimas condições do pequeno convento dos capuchinhos franceses, tratou logo de mandar construir um novo convento, muito mais espaçoso, que seria o centro das futuras missões do Maranhão.
Terminadas as obras do convento, realizadas tantas outras obras espirituais no Maranhão, Frei Cristóvão empreendeu viagens missionárias para, em outras áreas de sua circunscrição eclesiástica, prover as almas do pasto espiritual necessário.
A que nos interessa para a história de Santana do Acaraú é a de 1626, onde Frei Cristóvão partiu de São Luís com destino ao Fortim do Amparo.
Segundo Willeke, após chegar da viagem missionária ao Pará e após visitas missionárias na cidade de São Luís, Frei Cristóvão embarcou com os irmãos em duas canoas rumo ao Fortim do Amparo em Fortaleza. Estando, porém, o mar bravo depois da barra do rio Periá, o frade decidiu prosseguir a viagem por terra.
Após 35 dias de viagem, em vésperas do dia de São João, a comitiva foi atacada por cerca de 90 índios que se apoderaram de sua bagagem e os ameaçaram de morte. Tal fato só não se consumou graças a resistência oferecida por alguns soldados e quinze índios da comitiva que a todos defenderam apesar do saldo de três deles mortos e dois padres feridos: Frei João da Cruz e um sacerdote secular.
Frei Vicente do Salvador, em seu livro História do Brasil, relata que esta comitiva missionária chegou no dia 25 de Junho de 1626 a Fortaleza após dias de penosa e extenuante viagem.
No livro o Município de Santana so autores transcreveram uma carta que dizem ser de Frei Cristóvão e que relata com mais detalhes esta viagem. Como o livro foi escrito em folhetins de 1882 a 1884 e só depois os folhetins foram reunidos em um livro em 1926 por Dom José Tupinambá da Frota, não há citação da fonte de onde foi retirada a tal carta.
Luísa da Fonseca, em introdução à edição de História dos Animais e Árvores do Maranhão publicada pela Universidade Federal do Paraná, refere-se a uma carta de Frei Cristóvão a Frei Antônio da Merceana cujo relato achamos muito parecido com o da carta a que nos referimos acima:
A carta ao padre Frei Antônio da Merceana é toda cheia de queixas contra os que se opunham à sua actuação. Nesta descreve dois recontros com os índios tapuias e os trabalhos que passaram de fome de sede, perdidos no caminho, andando um mês e seis dias e morrendo mais nove pessoas de sua companhia. Refere-se também a um recontro com os índios Tremembez
A descrição do tempo da viagem é o mesmo de outras fontes, contudo, só poderíamos ter certeza se a carta transcrita em o Município de Sant'Anna é a que foi destinada a Frei antõnio da Merceana se tivésemos fontes mais aprofundadas ou contato com o original.
Na próxima postagem transcreveremos a carta que se encontra no livro O Município de Sant'Anna.
terça-feira, 5 de julho de 2011
FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA - CAPÍTULO II
Sobre a petição de Frei Cristóvão acerca das questões das admnistrações leigas dos índios, a corte de Madri pediu o parecer de Gaspar de Sousa que fora governador do Brasil. Este anuiu com o relato manifestado na petição, testemunhando muitas situações, por ele mesmo vividas, onde os índios eram explorados com vil desumanidade.
Diante do parecer de Gaspar de Sousa, Felipe II atendeu ao requerimento dos franciscanos, embora o tenha feito somente no dia 15 de março de 1624 com o acréscimo da oferta Ordinária anual: vinho de missa, farinha de trigo, , azeite e cera para ao culto divino.
No tocante aos poderes necessários para a futura missão, Frei Cristóvão foi investido dos seguintes poderes:Custódio de uma circunscrição eclesiástica que continha em si os territórios do Ceará, Maranhão,Piauí, Pará e parte do Amazonas (território que hoje corresponde a 45 dioceses e prelazias), qualificador e revedor do Santo Ofício (combater heresias era algo importante em um território que havia sido conquistado outrora pelos franceses)Visitador Eclesiástico e detentor da admnistração dos índios da referida área.
Frei Cristóvão partiu de Portugal a 25 de Março de 1624, conforme determinação da Corte, na comitiva do novo governador do Maranhão Francisco Coelho de Carvalho, com dez confrades, sendo conhecidos somente os nomes dos seguintes: Frei Sebastião de Coimbra, Frei Luís da Assunção, Frei Antônio da Trindade, Frei agostinho das Chagas e Frei Francisco do Presépio.
No Brasil, a comitiva do Governador e os missionários chegaram no dia 4 de Maio em Olinda, onde Francisco Coelho de Carvalho, ciente da invasão holandesa na Bahia, adiou a vaigem ao Maranhão para ajudar na proteção desta cidade.
Nela os Missionários ficaram até o dia 12 de Julho de 1624 quando partiram para o Ceará, chegando em Fortaleza no dia 18 de Junho do mesmo ano em Fortaleza, onde foi recebido por Martim Soares Moreno.
Durante os quinze dias que permaneceram em Fortaleza, os franciscanos dedicaram-se à caterquese dos índios e à "Cura d'alma entre os portugueses".
Diante do parecer de Gaspar de Sousa, Felipe II atendeu ao requerimento dos franciscanos, embora o tenha feito somente no dia 15 de março de 1624 com o acréscimo da oferta Ordinária anual: vinho de missa, farinha de trigo, , azeite e cera para ao culto divino.
No tocante aos poderes necessários para a futura missão, Frei Cristóvão foi investido dos seguintes poderes:Custódio de uma circunscrição eclesiástica que continha em si os territórios do Ceará, Maranhão,Piauí, Pará e parte do Amazonas (território que hoje corresponde a 45 dioceses e prelazias), qualificador e revedor do Santo Ofício (combater heresias era algo importante em um território que havia sido conquistado outrora pelos franceses)Visitador Eclesiástico e detentor da admnistração dos índios da referida área.
Frei Cristóvão partiu de Portugal a 25 de Março de 1624, conforme determinação da Corte, na comitiva do novo governador do Maranhão Francisco Coelho de Carvalho, com dez confrades, sendo conhecidos somente os nomes dos seguintes: Frei Sebastião de Coimbra, Frei Luís da Assunção, Frei Antônio da Trindade, Frei agostinho das Chagas e Frei Francisco do Presépio.
No Brasil, a comitiva do Governador e os missionários chegaram no dia 4 de Maio em Olinda, onde Francisco Coelho de Carvalho, ciente da invasão holandesa na Bahia, adiou a vaigem ao Maranhão para ajudar na proteção desta cidade.
Nela os Missionários ficaram até o dia 12 de Julho de 1624 quando partiram para o Ceará, chegando em Fortaleza no dia 18 de Junho do mesmo ano em Fortaleza, onde foi recebido por Martim Soares Moreno.
Durante os quinze dias que permaneceram em Fortaleza, os franciscanos dedicaram-se à caterquese dos índios e à "Cura d'alma entre os portugueses".
domingo, 3 de julho de 2011
FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA - CAPÍTULO I
A história de Santana do Acaraú oferece um importante elo para ligá-la a das missões religiosas que desbravaram o interior do Brasil "dilatando a fé e ampliando o Reino" português: a missão de Frei Cristóvão de Lisboa.
Tal missão começou a ser preparada em uma época em que as casas reais potuguesa e espanhola estavam ligadas por laços cosangüíneos na pessoa de Felipe II. Tal época ficou conhecida como União Ibérica.
Segundo Willeke (1977) em 1622 o referido Rei deu à Província Franciscana de Santo Antônio a incumbência de itensificar as atividades missionárias na Amazônia e, sobretudo no Maranhão, onde em 1612 os franceses se instalram e construiram a cidade de São Luís e onde, após a expulsão dos mesmos, dois frades Franciscanos de Olinda, Frei Cosme de São Damião e Frei Manuel da Piedade haviam conquistado a simpatia dos índios, pregando-lhes a Boa - nova e assitindo-lhes em uma epidemia que ali grassou.
Foi nessa época que o Frade Cristóvão de Lisboa apresentou-se como voluntário para tal Missão, apesar da repreensão de amigos e familiares por conta de sua precária saúde.
Mas, antes de adentrarmos nos detalhes da eleição de Frei Cristóvão conheçamos um pouco de sua história pessoal.
CRSITÓVÃO SEVERIM DE FARÍA
FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA
Antes de receber o nome religioso de Frei Cristóvão de Lisboa, tinha por nome de Batismo Cristóvão Severim de Faria, terceiro filho do executor - mor Gaspar Gil Severim e de sua mulher Dona Juliana de Faria.
Nasceu aos 25 de Julho de 1583, no dia de São Cristóvão, razão pela qual os pais lhe puseram o nome de Cristóvão, uma vez que eram devotos do santo.
A CATEDRAL DE ÉVORA
Aos dez anos de idade foi com o irmão mais velho Manuel para a cidade de Évora para fazer o Curso de Humanidades na casa do tio Padre Baltasar de Faria Severim (chantre da catedral de Évora).
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
Tal curso Cristóvão continuou na Universidade de Évora, uma vez que tinha esperança de suceder ao tio na função de Chantre, porém, largando tudo, ingressou no Covento Franciscano de Portalegre aos 23 de Fevereiro de 1602, pedindo admissão na Província da Piedade.
Continuou em 1603 o curso filosófico interrompido em Évora. Contudo, o clima áspero da região que lhe prejudicava a saúde fez com que seus superiores lhe aconselhassem a ir para as regiões mais amenas da provícia franciscana de Santo Antônio, onde, admitido, concluiu o curso de teologia e ordenou-se sacerdote por volta de 1609.
A MISSÃO
Aceitando o Governo da Província Franciscana a oferta de Frei Cristóvão para ir em missão a terras do Maranhão, Pará, Ceará e Amazônia, nomeou a este como primeiro custódio da Missão, cedendo-lhe seis confrades para o Maranhão e quatro para o Pará.
No dia 30 de Abril de 1622, participando à Corte a resolução do Governo da Provícia Franciscana, os Missionários pediram a Coroa o auxílio financeiro de 350$000, antes mesmo da confirmação oficial da escolha do Custódio a 9 de junho do mesmo ano, em virtude do padroado; e antes da confirmação de seu nome como custódio e dos nomes de seus companheiros de missão pelo Capítulo Provincial Franciscano a 7 de maio de 1623.
Antes de sua partida Frei Crsitóvão procurou informar-se sobre o futuro território da missão e conhecer outras experiências de confrades que ali estiveram.
Tal precaução não era infundada, muitos eram os portugueses que voltavam a pátria com as mãos cheias de insucessos após terem vendido tudo e terem partido com sua casa e família, em busca de enriquecimento e honras, para o Brasil, bem como muitos eram os religiosos que regressavam sem pouco ou nada terem feito, por conta de conflitos com indígenas ou com os patrícios.
Luísa da Fonseca, em introdução de uma edição da obra História dos Animais e Árvores do Maranhão, publicada pela Universidade Federal do Paraná em 1968 assim descreve o quadro:
"Arrsicavam -se os portugueses a travessia do Oceano, arrostando com as tempestades e com os assaltos dos piratas; vendiam tudo quanto tinham e partiam com sua 'casa e família', muitas vezes para naufragarem ou para serem mortos pelos índiosnas praias onde se julgavam salvos. Era necessário ter rija têmpera para penetrar os sertões, lutar com os índios aguerridos e aguentar o choque do clima. Só os aventureiros ou os impelidos por missão superior se atreviam a tais perigos. Era humano que os primeiros procurassem recompensar explorando as riuquezas da terra. Parece-me, por isso, perfeitamente justo que, quando os padres capuchos acoselhavam para dirigir temporalmente os índios um ministro desinteressado que governasse sem ambição, sem ódio e sem afeição particular, o Procurador da Coroa respondesse:'Tenho por imposível haver um homem destas qualidades que queira ir ao Maranhão com tanto trabalho e tão pouco lucro'.
O ato de recuperar-se do prejuízo muitas vezes se fazia por meio da opressão aos indígenas, tomando-lhes a terra, violentando suas mulhrees e filhas, e impedindo os mesmos de cultivar suas roças, com as quais davam subsistência ao seu povo e ao invasor português.
Por essa razão Frei Cristóvão buscou "familiarizar-se" com a situação da missão próxima a Belém, onde quatro irmãos seráficos viviam desde 1617 entre os Tupinambá de Una; buscou saber das experiências vividas, nos momentos de doutrina, por seus confrades, nas missões que a província de santo Antônio mantivera entre as Alagoas e a Paraíba dos anos de 1585 a 1619, e as razões que concorreram para a entrega definitiva das mesmas.
A escuta das experiências destes frades evidenciou a Frei Cristóvão a exploração e a violência que os indígenas sofriam por parte dos portugueses. Tal violência levava os indígenas a buscarem refúgio nos sertões e a reagirem a intervenção portuguesa para colonizar a terra.
Luísa da Fonseca, aqui já citada, afirma:
"A toleraância e a paz com os indpigenas eram os pricípios basilares da colonização portuguesa, porém, aventureiros gananciosos na pressa de enriquecerem provocavam muitas vezes graves conflitos. E é verdade também que nem todos os índios estavam dispostos a confraternizar com os estrangeirso invasores de suas terras(...)."
Por esta razão o Capítulo Provincial Franciscano dirigiu à Corte de Madri um requerimento em 7 de Maio de 1623 pedindo "a normalização das condições, no seu futuro campo de missões e especialmente a abolição das admnistrações leigas dos índios."
Tal missão começou a ser preparada em uma época em que as casas reais potuguesa e espanhola estavam ligadas por laços cosangüíneos na pessoa de Felipe II. Tal época ficou conhecida como União Ibérica.
Segundo Willeke (1977) em 1622 o referido Rei deu à Província Franciscana de Santo Antônio a incumbência de itensificar as atividades missionárias na Amazônia e, sobretudo no Maranhão, onde em 1612 os franceses se instalram e construiram a cidade de São Luís e onde, após a expulsão dos mesmos, dois frades Franciscanos de Olinda, Frei Cosme de São Damião e Frei Manuel da Piedade haviam conquistado a simpatia dos índios, pregando-lhes a Boa - nova e assitindo-lhes em uma epidemia que ali grassou.
Foi nessa época que o Frade Cristóvão de Lisboa apresentou-se como voluntário para tal Missão, apesar da repreensão de amigos e familiares por conta de sua precária saúde.
Mas, antes de adentrarmos nos detalhes da eleição de Frei Cristóvão conheçamos um pouco de sua história pessoal.
CRSITÓVÃO SEVERIM DE FARÍA
FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA
Antes de receber o nome religioso de Frei Cristóvão de Lisboa, tinha por nome de Batismo Cristóvão Severim de Faria, terceiro filho do executor - mor Gaspar Gil Severim e de sua mulher Dona Juliana de Faria.
Nasceu aos 25 de Julho de 1583, no dia de São Cristóvão, razão pela qual os pais lhe puseram o nome de Cristóvão, uma vez que eram devotos do santo.
A CATEDRAL DE ÉVORA
Aos dez anos de idade foi com o irmão mais velho Manuel para a cidade de Évora para fazer o Curso de Humanidades na casa do tio Padre Baltasar de Faria Severim (chantre da catedral de Évora).
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
Tal curso Cristóvão continuou na Universidade de Évora, uma vez que tinha esperança de suceder ao tio na função de Chantre, porém, largando tudo, ingressou no Covento Franciscano de Portalegre aos 23 de Fevereiro de 1602, pedindo admissão na Província da Piedade.
Continuou em 1603 o curso filosófico interrompido em Évora. Contudo, o clima áspero da região que lhe prejudicava a saúde fez com que seus superiores lhe aconselhassem a ir para as regiões mais amenas da provícia franciscana de Santo Antônio, onde, admitido, concluiu o curso de teologia e ordenou-se sacerdote por volta de 1609.
A MISSÃO
Aceitando o Governo da Província Franciscana a oferta de Frei Cristóvão para ir em missão a terras do Maranhão, Pará, Ceará e Amazônia, nomeou a este como primeiro custódio da Missão, cedendo-lhe seis confrades para o Maranhão e quatro para o Pará.
No dia 30 de Abril de 1622, participando à Corte a resolução do Governo da Provícia Franciscana, os Missionários pediram a Coroa o auxílio financeiro de 350$000, antes mesmo da confirmação oficial da escolha do Custódio a 9 de junho do mesmo ano, em virtude do padroado; e antes da confirmação de seu nome como custódio e dos nomes de seus companheiros de missão pelo Capítulo Provincial Franciscano a 7 de maio de 1623.
Antes de sua partida Frei Crsitóvão procurou informar-se sobre o futuro território da missão e conhecer outras experiências de confrades que ali estiveram.
Tal precaução não era infundada, muitos eram os portugueses que voltavam a pátria com as mãos cheias de insucessos após terem vendido tudo e terem partido com sua casa e família, em busca de enriquecimento e honras, para o Brasil, bem como muitos eram os religiosos que regressavam sem pouco ou nada terem feito, por conta de conflitos com indígenas ou com os patrícios.
Luísa da Fonseca, em introdução de uma edição da obra História dos Animais e Árvores do Maranhão, publicada pela Universidade Federal do Paraná em 1968 assim descreve o quadro:
"Arrsicavam -se os portugueses a travessia do Oceano, arrostando com as tempestades e com os assaltos dos piratas; vendiam tudo quanto tinham e partiam com sua 'casa e família', muitas vezes para naufragarem ou para serem mortos pelos índiosnas praias onde se julgavam salvos. Era necessário ter rija têmpera para penetrar os sertões, lutar com os índios aguerridos e aguentar o choque do clima. Só os aventureiros ou os impelidos por missão superior se atreviam a tais perigos. Era humano que os primeiros procurassem recompensar explorando as riuquezas da terra. Parece-me, por isso, perfeitamente justo que, quando os padres capuchos acoselhavam para dirigir temporalmente os índios um ministro desinteressado que governasse sem ambição, sem ódio e sem afeição particular, o Procurador da Coroa respondesse:'Tenho por imposível haver um homem destas qualidades que queira ir ao Maranhão com tanto trabalho e tão pouco lucro'.
O ato de recuperar-se do prejuízo muitas vezes se fazia por meio da opressão aos indígenas, tomando-lhes a terra, violentando suas mulhrees e filhas, e impedindo os mesmos de cultivar suas roças, com as quais davam subsistência ao seu povo e ao invasor português.
Por essa razão Frei Cristóvão buscou "familiarizar-se" com a situação da missão próxima a Belém, onde quatro irmãos seráficos viviam desde 1617 entre os Tupinambá de Una; buscou saber das experiências vividas, nos momentos de doutrina, por seus confrades, nas missões que a província de santo Antônio mantivera entre as Alagoas e a Paraíba dos anos de 1585 a 1619, e as razões que concorreram para a entrega definitiva das mesmas.
A escuta das experiências destes frades evidenciou a Frei Cristóvão a exploração e a violência que os indígenas sofriam por parte dos portugueses. Tal violência levava os indígenas a buscarem refúgio nos sertões e a reagirem a intervenção portuguesa para colonizar a terra.
Luísa da Fonseca, aqui já citada, afirma:
"A toleraância e a paz com os indpigenas eram os pricípios basilares da colonização portuguesa, porém, aventureiros gananciosos na pressa de enriquecerem provocavam muitas vezes graves conflitos. E é verdade também que nem todos os índios estavam dispostos a confraternizar com os estrangeirso invasores de suas terras(...)."
Por esta razão o Capítulo Provincial Franciscano dirigiu à Corte de Madri um requerimento em 7 de Maio de 1623 pedindo "a normalização das condições, no seu futuro campo de missões e especialmente a abolição das admnistrações leigas dos índios."
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