CONFORME PROMETEMOS POSTAGENS ATRÁS, CONTINUAMOS A TRANSCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS DO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA, FAZENDO, APÓS A PUBLICAÇÃO DOS MESMOS, COMENTÁRIOS QUE TÊM POR BASE A MODERNA HISTORIOGRAFIA.
NESTAS TRANSCRIÇÕES MANTEMOS O PORTUGUÊS DA ÉPOCA.
CORRIA O ANNO DE 1655
O Brasil livra-se do poder Hollandez; e o Ceará, desannexado do Estado do Maranhão, voltou a fazer parte, como d'antes, da Capitania de Pernambuco.
Restituido pois, ao seu primitivo estado de colonisação o Ceará já bastante rico de gados, foi elevado à cathegoria de capitania subalterna à de Pernambuco, a 16 de Setembro de 1668.
As condições de seu engrandecimento já se faziam nota; e então por carta regia de 13 de Fevereiro de 1699 se ordenou a creação de uma Villa junto a Fortaleza, que , n'esse tempo, era o centro capital da florescente colonia.
Grande foi o contentamento que produzio a publicação daquella ordem; os seus efeitos não se fizeram esperar!No anno seguinte, a 25 de Janeiro de 1700, se procedeo à eleição da sua primeira Camara, sendo escolhido para sede o sitio Aquiraz, d'onde a 24 de Março do mesmo anno, foi transferida para a povoação de Fortaleza.
Começou então o governo civil.Com a Camara foram eleitos dis juizes ordinarios, que logo assumirão o exercício das respectivas funções.
O acontecimento auspicioso da inauguração da Villa foi logo perturbado com a transferência da sua Séde! E, d'ahi, nascendo a intriga, serias discordias depois atropellarão os interesses reaes da nova capitania!
Existião a esse respeito dois partidos, e o do Aquiraz, sempre pertinaz no seu intento, conseguio por fim, passados 13 annos, a volta da Séde da Villa para seu seio, a 27 de Junho de 1713.
A discordia no poder publico foi sempre fatal aos interesses do povo! Nesse mesmo anno enqunato lutavam os homens do governo pela quaetão da Séde, abandonados gemião so moradores do Acarahú sob a pressão dos índios Areriús, que se havião levantado!
Nada de soccorro!...A fuga tornou-se indispensavel; e foi nella que encontrarão os meios de salvação, sendo aliás bem recebidos na Ibiapaba pelos Tabajaras, que, ainda fieis, se deixavam dirigir pelo Padre Ascenso Gago.
Continuava a pendencia; e outros interesses palpitantes da Capitania ficarão de lado! Nesse mesmo anno - 1713 - e, segundo a chronica do Conseheiro Araripe, até 1716, apenas existia na Capitania uma só Freguesia!
Permanecião, pois, as cousas neste estado, quando para obsta-las o governo ultramarino, por solicitação do governador geral do Pernambuco - Manoel Rolim de Moura - por provisão de 11 de Março de 1725 elevou à Villa a Povoação de Fortaleza. A 13 de Abril do anno seguinte (1726) teve logar a sua installação; e ficou servindo de séde do governo civil da capitania; terminando-se assim, aquella questão, que tão maos effeitos produzio!
Por esse tempo quando apenas havia a Freguesia do Aquirás, e, talvez, a da Fortaleza, desmambrada daquella, já existia um antigo curato no Acarahú. O seu território comprehendia todo o litoral desde o mundahú até a Parayba; d'ahi estendia-se a tá a Ibiapaba, abrangendo em forma de circulo a Serra dos Côcos e as Ribeiras do Aracaty - assú o Mundahú. para esse ponto devem convergir as atenções do leitor:
E se curato foi devido a intervenção de Frei Christovão de Lisboa, quando em 1626, exercia o cargo de custódio do Maranhão; e a sua história alludida: por mais dois minutos a sua benevolência.
Unida esta à capitania de Pernambuco desde 1655, ficou o Ceará dependente della pelo Alvará de 17 de Janeiro de 1779.
O seu 1º governador foi o chefe de esquadra Bernardo Manoel de Vasconcelos, sendo Rolim o último em 1822.
Crescida, e já bastante populosa, a sua Villa foi elevada a cathegoria de cidade em 1823. Erão já decorridos 322 annos da descoberta do Brasil quando uma nova aurora bafejando-o em hora propícia, veio estabelecer uma nova ordem de cousas, mudar a face da governança!
Constituindo-se o Brasil independente, creada a Constituição politica do Imperio, e jurada a 25 de Março de 1824, passou a Capitania à Província; e o seu primeiro presidente foi o Tenente Coronel Pedro José da Costa Barros.
AO LEITOR
A exposição feita, benevolo leitor, que começou em 1611, e como se vê ainda deste número, terminou em 1824, de certo vos terá fatigado a paciência, tomando-vos, por fim,vacilante a cerca da applicação que ela possa ter em relação ao onjeto de sua proposição...
De facto; quem conhece o municipio, e sabe que ele apenas conta com 20 annos de existência, a datar da creação de sua Villa, em 1826, a primeira vista não poderá compreender como elle, tão recente, se possa prender a factos tão remotos, que quasi se perdem na noite dos tempos!
Pois bem; para obviar estas e outras duvidas, de certo já levantadas, é que o folhetinista, dedicando-vos esta página apressa-se, antes de entrar em seu intuito, em declarar que mais antiga, do que se suppõe, é a história do seu Município...Os aconecimentos que lhe dizem respeito, datão de 1626, 15 annos depois da fundação da Colonia Cearense no sitio Aquirás, em 1611: e nestas condições, tratando da sua história, paezar do título a ella dado, entendeo que não devia simplesmente limitar-se aos factos ocorridos da creação do Município a esta parte.
A história de uma localidade, como a de um Paiz, deve descer à sua origem, e d'ahi subir por detalhes até as condições, em que actualmente se achar.
Pensando assim, não duvidou o que ora vos dirige estas linhas, fazer aquella ligeira exposição, que aliás vos offerece como uma introdução da história a que se propõe.
Justifiquem, pois, etas palavras o que até aqui se tem publicado, e permita o complcente leitor que o folhetinista, calouro nesta matéria, e, alem disto, destitutido de conhecimentos literários, tenha algu8ma liberdade em seu estylo, perdoando - se - lhe o seu dezaro em atenção do que se dedica.
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Acarahu, rio das garças, na lingua indigena.
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