sábado, 12 de novembro de 2011

QUEM NÃO SE LEMBRA DO PADRE ARAKÉM!

FOMOS AGRACIADOS NESTE MÊS POR UM TEXTO DE PADRE VALDERY DA ROCHA SOBRE PADRE ARAKÉN.
ELE O PRODUZIU PARA O JORNAL A VOZ DE MORRINHOS, MAS NOS PERMITIU PUBLICÁ-LO AQUI
COMO TODA MEMÓRIA, ESTA É PRECIOSA E ÚNICA.
NOSSOS AGRADECIMENTOS AO PADRE VALDERY.



Morrinhos deve muito a um padre já falecido, há 42 anos. Convidado a escrever algo para a Voz de Morrinhos, lembrei-me de prestar a ele minha homenagem, para que não fique no esquecimento ou sem o conhecimento das gerações mais jovens. Ele foi um daqueles testemunhos de sacerdote de que o mundo carece, como falou Bento XVI, na abertura do Ano Sacerdotal que vivemos dois anos atrás. Falo do padre Francisco Arakém da Frota, que chamávamos padre Arakém.


FUI BATIZADO POR ELE

Fui batizado poe ele, ainda quando era vigário de Santana. Conheci-o nas suas andanças por Morrinhos, quando já não era mais Vigário, mas apenas colaborava no pastoreio. Na época, Morrinhos pertencia à paróquia de Marco, fundada no final do ano de 1941. Guardo lembrança do seu jeito simples e humilde de viver. Menino, eu prestava atenção às conversas dele com as pessoas em volta. sempre que se referia ao Valdecy Vasconcelos, aquele do IAPC, de quem era padrinho, dizia que ele era " a quarta pessoa da Santíssima Trindade". Ele o tinha como filho espiritual, a quem queria muito bem. Em Santana, padre Arakém era assíduo à casa dos pais dele, Oscar vasconcelos e Rita.
Ouvi-o várias vezes contando histórias do Seminário e, humilde, dizer que era tão "rude" que seu professores deixavam-no ir em frente nos estudos, só olhando o exemplo do Cura d'Ars que, também quando seminarista na França, era intelectualmente incapaz de assumir o sacerdócio. Admirável. Ele, padre Arakém, nas pegadas de São João batista Vianney, Cura d'Ars, hoje patronop dos sacerdotes e dos Párocos...!
Tudo o que se disser aqui sobre padre Arakém pode ser até novidade para os leitores. Pesquisando a melhor coletânea de biografias que temos sobre os padres do Ceará, desde 1700 a 2004, incorpradas na coleção "Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará" (Editora Premius, 2004), de Aureliano Diamantino da Silveira (Padre), sobre ele encontrei apenas seis linhas, tão resumidas que até omitem a data de seu falecimento, ocorrido em Santana a 5 de Setembro de 1969, com 75 anos. Estão assim escritas: " Nasceu em S.Ana, a 27 de Junho de 1894. Foi solenemente batizado na igreja matriz de S. Ana a 17 de Julho de do mesmo ano. Recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de D. José Tupinambá da Frota, Bispo Dioceasano, no dia 4 de Janeiro de 1920. Vigário de S.Ana, (posse 22 de agosto), de 1920 a 1941. Pais: Manoel Lúcio Carneiro da Frota e D. Úrsula anália da Frota. construiu as capelas de Bom Jesus e Sítio". Só isso.

QUEM ACHOU O SACO DO CASSACO?

o poeta e escritor José Alcídes Pinto, já falecido e que era de Estreito, já escreveu sobre ele, de forma fictícia, em um de seus romances, personificado com o nome de Padre Tibúrcio. Mas suas histórias, seus "causos" reais, deixo que so conte João Lourival Rocha, no livro de suas memórias, a ser publicado em 2014, por ocasião do centenário de nascimento de meu pai. Ali há um capítulo intitulado: " Quem não se lembra do padre Arakém!", do qual transcrevo aqui uma pequena parte:

"Morrinhos era capela de Santana, sendo, portanto, pastoreada pelo Padre Arakém, vigário da Paróquia. Meu avô Joaquim Coriolano era o procurador da capela e o padre se hospedava em sua casa.
Padre Arakém era filho de pais abastados e viveu tão pobremente que, no final de seus dias, sustentou-o a caridosa e fraterna iniciativa do Pároco de Santana que lhe mandava a alimentação. Sempre de batina preta, sofria da coluna. As viagens de um lugar para outro, também nos chamados para confissões dos enfemros, fosse aonde fosse, eram feitas a cavalo.
Tímido e alegre, mas "brabo" no jeito de reclamar. Sua brabeza era só "se fazendo", no dizer popular. Mostrava-se mais assim com as mulheres, e dizia, brincando, que só falava com elas, por que a mãe dele era mulher. Quando ele estava irritado e alguém lhe pedia para se confessar, ele dizia "não vou....não vou". repetia isso, mas indo, tortinho e andando apressadinho, para o confessionário. Era baixinho. Todos os que conhecemos, o tínhamos como homem piedoso, admirado e santo.
Ele gostava de Morrinhos. Aqui havia pouco trabalho para o Vigário, a não ser em tempos de festas da Matriz e nas capelas que eram poucas, mas distantes. Não havia o que chamamos hoje de "comunidades". O trabalho era a Missa, algumas confissões, ou chamado para alguma Extrema - Unção, hoje Unção dos Enfermos. Os padres não faziam tantas reuniões como hoje. a Missa era sempre celebrada pela manhã, e logo cedinho, pois não era permitido missa na parte da tarde ou da noite. só até mais ou menos nove horas da manhã, pois o padre e os fiéis que iam comungar tinham que ficar em jejum, e sem tomar qulaquer líquido, nem água, até a hora da comunhão. Todos obedeciam.
Se por descuido comessem ou bebessem alguma coisa, não podiam comungar. Muita gente, por exemplo, "quebrou" a corrente das nove sextas - feiras por ter tomado água.
O único passatempo e diversão do Padre Arakém era jogar baralho, ou gamão, junto com os filhos do Doca silveira e o genro do meu tio Joaquim Criolano, Francisco Plínio. Era também parceiro dele o tio Francisco Coriolano. Quando o padre ganhava dava muitas risadas; risadas tão compridas que aprecia até estar ele engasgado. Quando perdia no jogo, a gente notava que ele ficava trsitezinho... Os filhos do Doca e o Chico Plínio "se combinaram", de modo a que o padre perdesse poucas vezes. O Jogo era "apostado". Só que o dinheiro envolvido era só uma "mixaria". Quem perdesse, perdia uma rapadura e quem ganhasse. ganhava outra, por exemplo. Era somente para divertir e ajudar ao vigário.
Ele era tão acostumado ao gamão que, quando vinha de Santana a Morrinhos, chageando no final da tardinha, sesus companheiros de jogo já estavam a postos na calçada. Ao descer do cavavlo, nem chegava a entrar na casa, sentando-se nas cadeiras já postas na calçada para a diversão, aliás, bem apreciada por muitas pessoas de Morrinhos.
Quando havia gente "peruando" o jogo, o padre Arakém dizia: - "Olhe, jogar a dinheiro é pecado. Eu jogo porque sou pecador, mas eu me confesso e aconselho que ninguém jogue, pois é pecado!"
Na época, os padres só faziam pregação aos domingos. Padre Arakém só raramente. Sua voz era fraquinha e um pouco fanhosa. Não tinham as igrejas microfone ou som para a amplificação da voz.
Era no tempo da seca. O governo mandou fazer a estrada de piçarra Morrinhos - Acaraú para dar serviço e emprego ao povo. Havia muitos trabalhadores vindo de todos os lugares. Eram chamados de " cassacos do Governo", pois fugiam das agruras da seca. Meu irmão Otacílio, com graça, conta que, certo dia, padre Arakém já tendo descido do latar para a oração de despedida do final da missa, de repente, subiu novamente os batentes e voltou-se para o povo pedindo: "Atenção!" A fala causou admiração. " O que será que ele vai pregar?!". Pensaram as pessoas. Em silêncio, todos puderam ouvir o que ele pusadamente falou: " Uma cassaco perdeu um saco. Quem achou o saco do cassaco, entregue o saco ao cassaco. Quem não tem saco, o que é que quer com o saco do cassaco....?" Só isso! E foi para a Sacristia.

2 comentários:

  1. Nesses tempos passados haviam muitas dificuldades, mas todos eram puros e felizes o bastante para continuar a luta e viver, com fé e perseverança, essa preciosa história mostra que Padre Arakém era muito próximo ao povo que atendia, não só para pregar, mas também como amigo. Como santanense que sou, também o meu muito obrigado ao Padre Valdery por essa relíquia!

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  2. Como é bom saber histórias que acabam cruzando a nossa própria história. O padre Arakén foi quem realizou o casamento dos meus bisavós em 1928.

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