quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A CAPELA DE SANTANA DO OLHO D’ÁGUA E ALMAS

IGREJA MATRIZ DE SANTANA DO ACARAÚ APÓS A REFORMA E A RESTAURAÇÃO FEITA NO PAROQUIATO DE PADRE AGNALDO TEMÓTEO DA SILVEIRA
O mito fundador da cidade fala da promessa de Frei Cristóvão de Lisboa feita a Santa Ana em gratidão por ter escapado, no Serrote das Rolas, da perseguição de índios Tapuias quando vinha de São Luís do maranhão em viagem missionária iniciada em Maio de 1626.
Prometeu o Frade construir ali um local de veneração à Santa. Contudo tal promessa só foi cumprida anos mais tarde pelo padre escrivão do Cura da Caiçara: Antônio dos Santos da Silveira em 1739 em local bem distante daquele pensado pelo Frade, embora tal local ficasse dentro dos limites das terras que o referido Padre comprou do Coronel Sebastião de Sá e de seu irmão Antônio de Sá Barroso de quem era amigo particular conforme vemos neste trecho do livro O Município de Sant’Anna:
¹ Em vista, pois, de taes disposições animarão-se os seus amigos à lhe offerecerem as suas terras e Fasendas do sertão, que elle finalmente comprou do mesmo modo porque se achão<< extremadas>> desde tal..no citado capítulo; sendo uma legoa denominada Olho d’agua, ao Coronel Sebastião e sua Mulher D. Cosma Ribeiro da França, por escritura passada pelo Tabelião – Manoel dos Santos Fradique, no dia 1 de Desembro de 1735; e meia legoa ao Sargento – mor Antonio de Sá Barroso e sua mulher Ignez de Araújo e Vasconcellos, cuja escriptura só teve logar a 21 de Fevereiro de 1747, no Cartorio do Tabelião José de Chaves Furna. Compradas estas terras, o Padre Silveira incorporou-as, denominando-as do Olho d’agua; sitiou-se na antiga posse do Sargento – mor Antonio de Sá Barroso, no logar chamado de Curral Velho, onde se acha edificada esta cidade.
IGREJA MATRIZ AINDA SEM OS BRAÇOS LATERAIS
Começavão, como sabemos, essas, do Pau ferrado e testadas do sitio Pedras de Fogo, então propriedade do Capitão Matheu Conde de Almada, seguindo o Rio Acaraú acima até alem do Serrote da Rola, por indicação de Jeronymo de Albuquerque, que assim denominou em 1735, na petição, em que requerêo a data, hoje conhecida por Sipoal, que d’alli começa, a partir do Olho d’agua chamado do Ferreiro, situado do outro lado e ao Sul do mesmo serrote.
(O Município de Sant’Anna, pág. 46 parágrafos 5 e 6)
Para a construção da capela o reverendo Padre Silveira convocou alguns amigos para planejar com ele como e onde se daria a construção da Capela:
O Sitio em que se tinha estabelecido compunha-se de um território desigual aqui e alli eriçado de saliências, sobrepostas a uma camada, misto de terra argilosa e pedra quebradiça, um pouco elevadas em relação ao ponto em que se achava a casa da Fasenda.
Elle, pois, escolheu uma dessas elevações, preferindo a que lhe ficava ao poente, a 20 braças pouco mais ou menos da sua residência, e destinou-a para a situação da Capella, que se propunha a erigir.
O acto era de summa importância, e não devia passar despercebido: Assim, para dar-lhe uma certa solemnidade, elle, três dias antes, convidara para assisti-lo o Coronel Sebastião, Sargento – mor Antonio de Sá Barrroso, Capitão Fonteles(segundo Sadoc de Araújo, trata-se de Manuel Ferreira Fonteles que o mesmo intitula de o “Adão do Vale do Acaraú”), Claudio de Sá e Amaral e Antonio Coelho de Albuquerque, proprietários na vizinhança, que se apresentarão no dia aprazado.
Faltavão artistas; e n’ausencia destes cada um dos convidados emitio a sua opinião; e depois de longa discussão, o plano da obra foi traçado da forma e proporções seguintes: - Vinte e cinco palmos de largura sobre trinta e cinco de fundo, com trinta de altura nas empenas; duas portas, sendo uma lateral, frente para o Noroeste e construção de taipa>>
(O Município de sant’Anna, página 68, parágrafos de 7 a 10)
A construção da capela teve início em nove de Novembro de 1738, tendo índios escravos de Antônio Coelho de Albuquerque como pedreiros, concluída em 31 de Julho de 1739 e a primeira Missa celebrada no dia 10 de agosto do mesmo ano. (O Município de sant’Anna página 69 e 70)
No primeiro livro de Tombo da Paróquia encontra-se transcrita pelo Padre Francisco Xavier Nogueira uma descrição da estrutura da primitiva Capela de Sant’Anna:
De um manuscripto, que nos legou o Reverendo Padre João Ribeiro Pessôa, cura da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, encontramos a descripção da fundação da Capella dedicada à Nossa Senhora Santa Anna, da maneira seguinte: -
“A Capella de Nossa Senhora Sant’Anna, quinta da Fregresia de Nossa Senhora da Conceição da Caicára, foi erecta no anno de 1738, por provisão do Reverendo Cura Vigário da Vara Padre Elias Pinto de Asevedo, por ordem do ilustríssimo e Reverendíssimo Dom José Fialho, Bispo de Olinda, como se vê no princípio do livro desta Capella.
Esta fica situada, no Rio Acaracú, para parte do sul seis léguas abaixo da Matriz, em meia légua de terra, doada pelo Padre Antônio dos Santos da Silveira, com cincoenta vacas e um touro, para patrimônio da mesma Capella, como se vê de uma escriptura , que se acha inserta no dito livro à folhas; e porque o tal patrimônio não estava julgado por titulo canônico, agora o julgou n’esta visita o muito Reverendo Doutor José Pereira d’Asevedo, como se vê de sua sentença de folhas 14 do dito livro.
É tradição, que a primitiva Capella era de pequena dimensão, constando, apenas, das paredes do arco do cruzeiro para cima, com um altar de madeira, onde estava collocado o Orágo, e lhe erão annexas, tão bem, pela parte oriental, as paredes de um telheiro, que servia de sacristia, e nada mais.
Já se havia passado um século, que a devoção à gloriosa Sant’Anna, se tinha innoculado nos corações dos habitantes do pequeno povoado deste ----------------------já a -------------da capella as necessidades do culto e a afluência dos fiéis, o procurador do patrimônio José Ferreira da Costa emprehendeo alguns trabalhos, e com a coadjuvação dos povos, e com os rendimentos existentes conseguio em 1838, ampliar mais a primitiva capella, pelo lado inferior com cerca de vinte palmos, destinada para o throno; e do arco do cruseiro para diante edificou as paredes do corpo da Igreja, com um corredor marginal, pelo lado oriental, obra, que, não obstante a solidez, e fortaleza da construcção, ressentio-se dos defeitos de freguesia altura e de não ter a capella mor sahida pelo lado ocidental. Fabricarão – se mais dois alteres lateraes, além do altar – mor, más não tinhão elles ornato algum, que os destinguisse, e nem imagens collocadas.”


(Primeiro Livro de Tombo da Paróquia de Sant’Anna, folha 1, 1879).
Foi nos arredores desta capela que nasceu a cidade. Da sua administração surgiram as organizações sociais que foram o gérmen das máquinas política e administrativa que temos hoje bem como o berço onde gerações de homens ilustres tornaram-se hábeis na arte de administrar e organizar-se.
Criada a vila de Acaraú, embora desligada a Freguesia de Santana da do Acaraú, os homens detentores do poder nesta última sentiram-se inconformados com a submissão à Villa do Acaraú e a sucessão de fatos administrativos da Capela de Santana tornou-se o bojo para a criação da Vila de Santana como bem descreve o autor de O município de Santana na segunda parte deste.
Pelo que podemos concluir da leitura desta parte, Santana não nasceu do acaso da construção de casarões e casas simples de devotos da padroeira no entorno de sua Capela, mas do planejamento deliberado dos que possuíam algum poder para livrar-se da submissão à Vila do Acaraú.

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