sábado, 17 de dezembro de 2011

COMENTÁRIO SOBRE O CAPÍTULO I DE O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA: O DEPÓSITO

Este trecho é um "hino" nacionalista, dentre outros tantos presentes no livro.
Rememorando as lutas que a Coroa Portuguesa travou com a França e a Holanda; utlizando de linguagem romântica e bucólica, o autor mostra o território cearense pela descrição de sua topografia,vegetação e limites. O território conquistado e batizado pelo nome de Ceará é definido como um troféu conquistado e nação de um só povo.
Toda esta descrição é feita para contextualizar a Lagoa Encantada, Cenário do território da Vila do Aquiraz onde ocorrerá o encontro entre o Ouvidor Antônio Loureiro de Medeiros e a mítica figura da índia Messejana.
Absorto na contemplação da referida lagoa, o Ouvidor Loureiro é surpreendido pela aparição da centenária indígena que, a princípio, pareceu-lhe muito mais um espectro daquelas matas do que um ser humano.
A primeira descrição da nativa mostra toda a estranheza do colonizador ante a alteridade da índia:

"Esbranquiçados cabellos, estirados como as cerdas do Javali, pendião - lhe da cabeça até a cinta; e o corpo vergado, fasendo-os cahir sobre a fronte, deixava ver nelles uma toalha branca meio esfumada, que lhe envolvia o rosto.
O resto do corpo era coberto por uma saia curta tecida de penas de pássaros, preza as costelas ocultando-lhe as mamas, e sustentada por duas largas embiras, que enlaçavão os hombros: as espaduas e os braços estavam nús".

Neste primeiro momento a figura da nativa idosa, encurvada e seminua é mítica e anacrônica, símbolo de uma era anterior à criação da "Nação Brasileira", marcada pela "selvageria", por "elementos diabólicos e pagãos".
A reação do ouvidor a esta figura que se lhe aproxima com passos firmes e ligeiros, e lhe dirige a palavra em fluente português é sacar da bainha um punhal, para indicar a distãncia que esta deveria ficar dele.
Por seu turno, a resposta da índia descrevendo as armas e os "soldados" que lhe guardavam, no discurso nacionalista do texto, longe de ser uma descrição da Alteridade do povo Tabajara, é um conjunto de figuras de linguagem utilizado para dizer ao colonizador que a "Nação Brasileira" tem condições de reagir ás ofensas portuguesas e de caminhar sem os auspícios de Portugal.
Ameaçado pela possibilidade de ser alvejado por flechas, Loureiro escuta Messejana que, inicia seu discurso de heroína nacionalista rememorando a dor de Antônio Felipe Camarão, em seu leito de morte, ao perceber que apoiara a um conquistador que traíra seu povo e a muitos outros povos indígenas submetendo-os à escravidão.
Emocionada em certa altura do discurso, a índia solta um grito de dor em meio a convulsivo pranto que, assustando o Ouvidor, leva-o a novamente sacar o punhal e a ser surpreendido com o disparo de flechas que caindo entrecruzadas servem de arrimo á índia.
Estava provado o que a índia dissera ao Ouvidor no início do encontro e, o sentido do gesto das flechas entrecruzadas tem seu sentido ampliado na fala nobre e profética que o autor atribui á personagem:

"Neste momento, senhor, eu sou a imagem da Pátria, que acabrunhada de opressões, reage contra ti, que symbolisas o poder... "
"O espetaculo que ora se dá, será reproduzido no futuro: Um grito, como o que se exahlou do meu peito, arrebatará este Paiz às garras de Portugal!...a nação abatida se erguerá!...As suas armas assustarão o despotismo, e a libreddade assumirá os seus direitos."

A nobreza da fala da índia reflete um dos objetivos da corrente do romantismo da época: A BUSCA DE UM HERÓI NACIONAL, que seja o símbolo de uma nação independente e única.
A parte seguinte à esta tem como fio condutor a idéia de que "o homem não é propriedade do homem."
A defesa da liberdade, que "sai da boca" da heroína do folhetim não é um mero desenvolvimento de uma idéia reproduzida a partir de algo que o Autor aprendeu na Faculdade de Direito do Recife.
José Mendes Pereira, como advogado e deputado provincial, particpou de vários momentos da campanha abolicionista cearense. Um dos mais importantes foi aquele onde, propondo uma emenda ao Projeto de Lei do Deputado Raimundo Carlos da silva Peixoto, consegue que este seja aprovado, elevando o valor da taxa de exportação de escaravos, conforme relata Raimundo Girão em seu livro A Abolição no Ceará.
Logo, o discurso sobre a liberdado proclamado por Messejana, foi elaborado neste contexto e com o propósito de apoiar o movimento para derrubar o sistema escravocrata: um dos pilares do Império de Dom pedro II.
Acreditamos que os folhetins não eram destoantes dos artigos publicados no Jornal. Studart Filho, em biografia do Dr José Mendes Publicada em seu dicionário Bio - bibliográfico cearense, afirma que o mesmo utilizou o jornal como instrumento de libertação dos escravos da cidade.
Porém, neste capítulo, os exemplos de agressão á liberdade são referentes aos indígenas muito mais por uma questão de preservação da imagem de um cidadão brasileiro que está sendo construída do que dos índios em si mesmos, com suas identidades: Tabajara,Calabaça, Cariú, etc.
As entrelinhas deste argumento final trazem a seguinte idéia: não se pode construir uma nação com indivíduos autênticos sob a mancha da escravidão que é uma ameaça à sua soberania.
Messejana proclama todo este discurso ao Ouvidor Loureiro por acreditar ser o mesmo homem de bons propósitos e capaz de promover a luta por liberdade que ela lhe surgeriu.
Para atestar ao Ouvidor, esperado e escolhido entre tantos, que era "criatura evoluída" e possuídora de bons propósitos, afirma ser "cearense" e "cristã".
Estas afirmações foram a senha necessária para que o Ouvidor, dali em diante mais tranqüilo, aceitasse acolher o segundo propósito da índia: entregar-lhe um depósito (espécie de pequena urna feita de uma cabaça e atada com fios de fibra vegetal)que o tio - avô Dom Felipe Camarão pediu que fosse entregue em mãos de um ouvidor de boa índole.
As entrelinhas nos comprovam que nem a índia e tampouco o Ouvidor sabiam que ali estava um manuscrito de Frei Cristóvão de Lisboa, sobre o qual falaremos mais adiante.

sábado, 19 de novembro de 2011

149° de Santana

POR OCASIÃO DAS COMEMORAÇÕES DO 149º ANIVERSÁRIO DE EMANCIAPAÇÃO POLÍTICA DE SANTANA DO ACARAÚ, FOI CELEBRADA UMA MISSA NO DIA 3 DE NOVEMBRO, PRESIDIDA PELO PADRE RENATO WELTON F. BÔTO.
O MESMO PROFERIU UMA HOMILIA QUE CONSIDERAMOS PROFUNDA, NORTEADORA E NECESSÁRIA PARA SE PENSAR OS CAMINHOS DOS PRÓXIMOS ANOS DE EXISTÊNCIA DA CIDADE.
ATENDENDO O NOSSO PEDIDO ELE A TRANSCREVEU PARA NÓS E NOS PERMITIU AQUI PUBLICÁ-LA




O então povoado Santana do Olho d’Água logo após ter sido elevado à categoria de Vila por determinação da Lei nº 1.012 de 03 de novembro de 1862; tendo instalada em 27 de junho de 1863 a sua primeira legislatura, recebeu o título de Município com a Lei nº 1.740 de 30 de agosto de 1876, demoninado-se assim Santana.
Obviamente uma história assim tão antiga e rica é impossível de ser transmitida em poucas linhas e não é o caso de o fazermos, pois nos falta de um lado, seja a competência para tanto bem, como – um traço distinto neste momento, diria – a pertença quanto à origem a esta terra. Por isto mesmo nos detemos à parte e, de um modo simples, lançamos um pequeno olhar visionário à história de um berço de gente que hoje completa cento e quarenta e nove anos de existência. E para tanto gostaríamos de partir das origens. Não das origens desta terra, desta cidade, mas das origens do próprio conceito de cidade e, consequentemente, do povo que a compõem.
Bem se sabe que nossa ideia de cidade tem sua origem na concepção grega da assim chamada Polis, palavra da qual deriva Popolus, isto é, uma reunião, conjunto de pessoas. Polis, populus, persona, ou seja, pessoa; é esta a parte indivisível que encontramos na origem de uma cidade, de um povo, a pessoa. À esta pessoa – ou conjunto delas – se atribui o Múnus, as prerrogativas, o poder que nos leva consequentemente a uma outra palavra importante, Município, lugar onde os cidadãos exercem seus poderes e funções em prol do lugar onde vivem.
O grande filósofo grego, Aristóteles (384-322 a.C.) já afirmou em uma de suas obras que “o homem é um animal político por natureza”; ou seja, é próprio do caráter humano a capacidade de interagir uns com os outros criando meios e modos com os quais governa e estabelece uma relação com o meio onde vive. Vale lembrar, porém, que na cultura grega a participação da vida política da chamada polis era restrita e permitida somente a algumas categorias de pessoas, ficando excluídos, por exemplo, os escravos, mulheres, crianças, anciãos, etc. O mais importante a se saber é que no centro da chamada política encontrava-se o homem – mesmo que isso significasse apenas algumas categorias! O homem, a pessoa, era o centro dessa vida política e, em torno dela, a polis deveria estabelcer seus meios.
A democracia – outro legado da cultura grega – tem como base exatamente a participação de todos num processo ligado ao bem estar de cada um dos indivíduos da polis, da cidade. A elevação e a promoção da polis significava ao mesmo tempo a elevação e promoção do homem. A identificação de tal fato era tão real que muitos dos grandes pensadores da história tornaram-se imortais graças, também, ao nome dos lugares de onde provinham e que os identificavam diretamente com a sua terra: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Parmênides de Eléia, Eratóstenes de Cirenia, etc.
Já a concepção pós-moderna da polis, da cidade, possui básica e fundamentalmente três aspectos: econômico, ideológico e político. Com a chegada da modernidade e dos grandes meios de produção e geração de lucro, que se deu particularmente a partir da Revolução Industrial, o centro da história passou a ser o próprio capital e não mais o homem. Já não era mais o lucro em função do homem, mas o contrário e, tal descentralização, causou a alienação do próprio homem, pois a economia, o lucro, passou a ser a grande roda que faz girar o mundo.
A ideologia que marca o centro de cada poder econômico tornou-se a religião dominante, centrada não em Deus, mas nas próprias vantagens do sistema.
E, por fim, a política corrompeu-se deixando de lado a sua maior função, o bem estar do homem, para transformar-se numa engrenagem de métodos com os quais se deseja obter os bens almejados, manteve a distância de classes e continuou distanciando-se daquele que é o seu cuidado primeiro: o ser humano.
O resultado de todo esse processo nós o sentimos e vemos no nosso quotidiano, basta ligarmos a televisão. Trata-se de uma realidade que atinge todo lugar civilizado. E não é diferente na nossa realidade santanense. O homem, infelizmente, tem sido vítima sempre mais de um sistema que, uma vez nascido para ele, agora procura abortá-lo. É preciso haver um resgate.
Hoje celebramos não somente os cento e quarenta e nove anos de história política – e religiosa – de Santana do Acaraú. Celebramos hoje os cento e quarenta e nove anos de milhares e milhares de histórias, de milhares e milhares de pessoas que formaram e formam a história deste lugar. São eles indivíduos ilustres e anônimos, sobretudo anônimos. Ilustres como seus primeiros legisladores, políticos, deputados, prefeitos, vereadores, doutrores, padres – dos quais citamos simplesmente um, Pe. Antônio Tomás, o príncipe dos poetas cearenses. Não o citamos somente por ser um padre, mas porque – e acima de tudo, e talvez mesmo por isso – entendeu mais do que ninguém a matéria da qual o homem era formado, uma realidade terrena e divina. Dentre tantos outros nomes ilustres existem aqueles que destacam-se pelo ilustre anonimato. São eles tantos Josés, tantas Marias, tantos Antônios, tantas Antônias, Franciscos, Franciscas, Socorros, Anas, Joãos, etc., cada um, autor de sua própria história escondida dentro desses quase cento e cinquenta anos e quem sem dúvida preenchem os espaçoes brancos dos livros históricos que não registram seus nomes.
Dizer-se santanense é já professar o seu lugar, é já professar a sua fé e a sua identidade, pois esta mesma cidade, mais do que administrativamente fundada, cresceu e ganhou vida no seio de outra realidade que era presente nesta terra a bem mais de centro e quarenta e nove anos, isto é, a fé! Santana é filha da mais autêntica e original fé católica e por ela vidas foram sacrificadas. Por isso mesmo é salutar lembrar hoje na solenidade de tal recorrência civil que Santana traz em si, antes de tudo, não uma história política, mas religiosa, pois foi de uma simples capelinha dedicada à mãe da Mãe de Jesus que surgiu a cidade hoje celebrada. Ignorar este fato é ignorar a própria história. Não conhecer nossa origem histórica é já o princípio da extinção e da própria existência humana e o fim de todas as demais memórias.
No Evangelho que proclamamos (Jo 17) vimos a conhecida oração pela unidade proferida por Jesus. Nela emerge um profundo desejo do Cristo: que todos sejam um, como Ele e o Pai são um.
Pois bem, reconhecer-se membros de uma mesma realidade religiosa e civil é reconhecer-se numa unidade que nos acumuna: nossa terra, nosso chão, nossa cidade, nossa gente, nossas histórias.
Santana, como inúmeras outras cidades no nosso Brasil, do nosso Nordeste e do nosso Ceará, é vítima de tantas mazelas sociais e de tantas diferenças. Mas é preciso reconhecer também tantos méritos. Santana está dentre as maiores cidades brasileiras que mais possuem universitários, que mais formam médicos, professores e outros profissionais nas mais variadas areas. Possui uma lista imensa de nomes ilutres que desfilam nos mais variados setores da vida pública, mas é verdade também que talvez tanta história e tanta riqueza esteja se perdendo nos meandros da ignorância e do esquecimento e na falta do devido valor a que se deve atribuir tamanha riqueza.
Somos chamados hoje, celebrando uma data tão importante, a resgatarmos juntos todo um arsenal de capítulos dessa história que talvez há tanto tempo já se tenha esquecido. Somos chamados a resgatarmos a unidade do povo para constituir novamente uma identidade ainda mais forte, dinâmica e concreta a fim de que a cidade se reconheça em cada um de seus filhos e que em cada um de seus filhos a cidade seja reconhecida, superar diferenças e somar forças para nos reconhecermos todos membros de uma mesma origem. Porque lá onde estará um santanense estará a própria Santana. O homem é a sua terra, o seu berço, pois sempre quando se eleva o homem há também de elevar-se a sua terra, o seu chão, a sua casa.
Parabéns, Santana do Acaraú.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CENTRO DE ARTES, ESPORTES E CULTURA - CAEC E MEMORIAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA SANTANA: DOIS BRAÇOS DE UMA MESMA LUTA



Buscando cumprir a vontade de Cristo de favorecer que os filhos de Deus tenham vida e vida em abundância, a Paróquia de Nossa Senhora Santana criou neste ano uma Associação Comunitária que tem por objetivo proporcionar às crianças de bairros carentes da cidade de Santana do Acaraú momentos educativos através da arte, do esporte e da cultura: O Centro de Artes, Esportes e Cultura da Paróquia de Nossa Senhora Santana - CAEC.


SALA DA CASA AMARELA ONDE AS CRIANÇAS TÊM AS AULAS DE MÚSICA
Situado no Bairro do Jericó, numa casa conhecida como Casa Amarela,o CAEC, por enquanto, somente oferta aulas de música: violão, flauta e canto e, tendo o Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana como parte de seu projeto de oferecer outras oportunidades de aprendizado, proporciona às crianças aulas de educação patrimonial, de aprendizado da história local, para construção do conhecimento da Cultura Santanense, de uma identidade e autonomia.
Ambos os projetos ainda dão passos iniciais e incipientes, mas alguns frutos mostram que o povo Santanense é dono de um grande potencial para as artes e tem interesse em conhecer sua história e identidade.
O Vídeo acima, que retrata uma das apresentações dos corais de flautas e de vozes na Igreja Matriz da cidade; e as fotos, exemplificam o que dissemos:


CRIANÇAS DO CAEC NA PRELEÇÃO ANTES DA VISITA AO MEMORIAL - SOBRADO PADRE ARAKÉN



MOMENTO DA VISITA À PRIMEIRA SALA DO MEMORIAL



DIANTE DO PAINEL DE FOTOS ANTIGAS DA CIDADE NA SEGUNDA SALA

domingo, 13 de novembro de 2011

O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA: CAPÍTULO I O DEPÓSITO

Corria o anno de 1729

Era Capitão - Mór do Ceará João Baptista Furtado, e Ouvidor - Antônio Loureiro de Medeiros.____ Só duas Villas existião, só duas câmaras funcionavão na capitania __ a do Aquirás e a de Fortaleza!
Magnanimos esforços, cruentas pelejas precederão a este acontecimento!
O programa era vencer, apoderar-se do Paiz; mas a pervesidade, com o intuito na ganancia, empalideceo os feitos que podião enobrecer seus autores!...
A princípio o Ceará, bravo como um leão, ao sujeitar-se ao poder estrangeiro, lutou com heroismo! Depois porém... arrazada a sua muralha constituida nos largos e possantes peitos de seus filhos, uns estrangulados e outros redusidos a escravidão, vencido... humilde como um cordeiro, entregou-se aos braços do vencedor!
Livre, portanto, dessas cenas sangrentas, que por muitos annos o enlutaram o Ceará começou a florescer; e os seus pontos prinipaes, bem conhecidos, já erão mais ou menos povoados na epocha, a que nos referimos. e foi então que se sotentou com todos so seus encantos aos olhos do observador, que em extase admirava a magnificencia do solo e a fertilidade de sua vegetação!
Seculares e gigantescas árvores, que constituião uma mata espessa e cerrada, cobrião o seu território, apenas interceptado aqui e alli por taboleiros e varzeas, largos e espaçosos campos de pingues pastagens.
Situado em um terreno geralmente desigual, cuja face, baixa e quazi alagada na costa, se eleva, gradualmente, até a cordilheira da Ibiapaba, à 3000 pés acima do nível do mar, cortva-se de diversos rios que, contorneando uma infinidade de serrotes e outeiros distanciados, rolavão por longas voltas suas volumosas águas, que ião receber as areias da praia.
Altas e majestosas serras se erguião às alturas os seus alcantilados e verdejantes picos, como que procurando nas regiões aéreas absorver o frescor das vaporosas emanações de suas crystalinas águas, que me largos e prateados fios, deslisando de suas fontes pela sinerosidade das penedias, corrião precipitadas até as vicejantes planícies.
O solo, que havia descançado por quatro annos, preterido no seu desenvolvimento, desde 1724 até 1728, pela deveastadora secca, que lhe fechára os povos, refizera de força na estação invernosa de 1729; e os germens, que cuidadosamente encerrava no seu seio, rebentavão com visível impetuosidade!
Prodigioso, magnifico e encantador era o quadro que se estendia ante os olhos do vencedor! Bem vasto era o horisonte dos seus dominios! largo círculo limitava o terreno conquistado:Ao N. e N.E.o atlântico; a L, a capitania do Rio Grande do Norte; ao S. as da Parahyba e Pernambuco,ao O. o Piauhy pela serra Ibiapaba!..
O mez de Junho percorria os gráos da escala traçada pelo calendário: o dia 21 se ostentava radiante de beleza!
a atmosphera limpida, sob o céo azul, dava e livre e desembaraçada passagem aos raios do sol; que, cahindo obliquamente sobre verde manto que envolvia a terra, banhavão de luz os gigantesvos picos da serrania, esmaltando-os com as variadas cores do Iris, e prateando os campos ainda ensopados do orvalho matutino!
Erão 7 horas da manhã.
Phebo, radiante de luz, começava a obra maravilhosa de seus encantos: e a terra sob o seu pesado manto, como a pudibunda noiva que se deixa vestir por mão alheia, sedenta de luxo, permanecia placida e silenciosaante o astro rei, que se erguendo no horisonte, fazia refulgir sua belleza occulta nas densas sombras ods seus profundos valles.
Permita-nos o leitor uma ligeira interrupção, indispensavel ao fio da nossa história.
Existia nesse tempo uma lagoa sem nome, nos campos da villa do Aquirás.
Notavel por sua extensão e largura, seguras as suas águas, tornou-se, embora um pouco distante da Villa, a fonte de banhos que se dizião salutares; era, além disto fertil de caças de todo o genero, e por esta e aquella razão muito frequentada pleos altos personagens da capitania, que chegando a capitania lhe tributavão - lhe as hoenagens de uma visita.
Colloque-se pois, o leitor a margem desa importante lagôa, onde apreciando o quadro que descrevemos, assistirá com nosco nesse humido palco, que tem por scenario profundas selvas e por musica o doce trinado dos lindos passaros, ao primeiro acto de nossa historia.
Tudo era silâncio na hora que indicamos!...
Os pássaros, que haviam terminados seus melodiosos gorgeios, pousavão nos ramos das frondosas árvores, abrindo as azas ao calor do sol, e as aves aquáticas ainda ensopadas, sacudindo as penas de cores multiplas, formavão em torno dessa lagôa um largo círculo onde, descuidosas, tiravão do peito o oleoso succo, que o cahto bico untavão o corpo.
A natureza, como pralizada naquella hora, eausta de tão supremo esforço, apenas respirava, emitindo no seu hálito odoríferos efluvios, que nas zazas da tenue e branda viração perfumavão o ambiente.
Tudo era silêncio; quando de repente o estrepido das patas de um cavallo, que galopva sobre as ondulções de um terreno pedregoso, veio despertar a vida naquela solidão!... Um cavaleiro apontou por uma verêda, que se dirigia àquella lagôa, e atraz delle outro, guardando uma certa distancia. O primeiro, Antonio de Loureiro Medeiros, Ouvidor da capitania; e o segundo João de Medeiros Loureiro, que com elle privava.
O repentino apparecimento daquelles cavalleiros produzio alli completa transformação.
Os passaros, como que assustados, saltando de ramo em ramo sumindo se uns e aparecendo outros soltavão notas que, na multiplicidade do genero, fasião, harmonisadas um concerto admiravel e encantador.E as aves aquaticas, emquanto umas se lançavão n'agua, mergulhando aqui e saindo alli, faceiras estremecião as azas, como que rindo do susto que tomarão, outra com estrepitoso voejar, suspendendo-se em bandos de variadas especies, formavão no ar uma densa nuvem remoinhando sobre o pouso sem quere deixá-lo.
O ouvidor apriximou-se da lagôa, e apeiando-se, esperou pelo companheiro, a quem atirou as redeas de seu cavallo...
Antonio de Loureiro Medeiros, nomeado Ouvidor da capitania do Ceará, della havia tomado posse a 2 de Junho desse mesmo anno, 19 dias antes dos factos a que alludimos, e desejando conhecer os principaes pontos da sua jurisdição, tinha emprehendido visita-los.
Nesse sentido, partindo de Fortaleza, se achava no Aquirás. Foi alli que soube do refrigerante banho dessa lagôa; e, como era das etiquêtas, quiz vel-a, e purificar-se nella da languidez, que padecia.
João de Medeiros, ja conhecedor daquella paragem foi o seu guia.
Eil-os portanto no ponto em que os vimos chegar.
Loureiro, pois, de braços cruzados, em posição contemplativa, prestva séria attenção ao imprevisto quadro que se lhe antolhava!...Homem ambicioso e de imaginação aprehensiva, roloando-lhe no cerebro mil pensamentos diversos, prorrompeu nestas palavras: - << Portugal não foi debalde que as tuas armas embora os milhares de bravos que perdeste, conquistarão tão gigantesco Paiz!! Que selvas, que serras, que portentosa vegetação!!! Mas o que vejo?! Terei ante os olhos a celebre Fada - Morgana do Estreito de Messina?! E de feito, aquella bacia forrada de argentea lamina, tendo por tecto a movediça nuvem de milhares d'aves, que ali pairavão, e por paredes as gigantescas árvores, que em arcadas se lhe estendião em torno, forma naquelle momento uma paisagem que, recordando antigos contos offerecia aos olhos uma habitação de Fadas!... Fatigado, o Ouvidor sentou-se sobre um tronco à beira d'água. A idéia de um thesouro o preocupava!João de Medeiros perto delle mudo e quêdo, tinha pelas redeas os dois cavallos. Aquelle silencio augmentava a sua pertubação... ia, pois, quebral -o, quando de subito estremecendo, de um salto se poz de pé!! Tão inesperado movimento espantou as cavalgaduras; e uma dellas, tomando as redeas, deitou a fugir. João de medeiros poz -se -lhe no encalço; e o Ouvidor ficára só... Não se tinha enganado... Uma voz que parecia de um Moribundo no estertor da morte, soou-lhe de novo aos ouvidos: - Serás tu o hoeme que eu procuro!... e abrindo - se uma mouta tecida de trepadeiras, entre as quais o maracujá fazia brilhar as suas encantadoras corollas;appareceo o busto de uma creatura, cujo aspecto mais tinha de uma visão, do que de um ser humano! Loureiro amendrotado recuou alguns passos, balbuciando estas palavras: É encanatad esta lagoa!... A sua imaginação, povoada de pensamentos desencontrados, o encaminhava à crenças superticiosas! - Si aquilo não era uma esphinge, que vinha prognosti - sar lhe na sua estréa um futuro desastroso, era decididamente a Mãi d'Água, senhora daquelle palacio que vinha saborear-lhe o sangue!... So, quiz correr; porem aquella vizão, movendo-lhe no ar um objecto que tinha na mão, fel-o deter. A ambição estacou-lhe o passo. Raugou se então a mouta, estalando os cipós que a emaranhavam, e o vulto de uma creatura, que parecia mulher, surgio daquelle alcatifado recinto. Esbranquiçados cabellos, estirados como as cerdas do Javali, pendião - lhe da cabeça até a cinta; e o corpo vergado, fasendo-os cahir sobre a fronte, deixava ver nelles uma toalha branca meio esfumada, que lhe envolvia o rosto. O resto do corpo era coberto por uma saia curta tecida de penas de pássaros, preza as costelas ocultando-lhe as mamas, e sustentada por duas largas embiras, que enlaçvão os hombros: as espaduas e os braços estavam nús. O andar, entretanto, era ligeiro!...poucos passos deu para aproximar-se do Ouvidor, que recebeu-a de punhal na mão! - Senhor, desculpai a pobre india que infeliz na sua vida, tem hoje a dita de vos fallar. O Ouvidor encolheo os hombros,indicando com a ponta de seu punhal a distancia, que os devia separar... A india comprehendeo naquella resposta muda, naquelle gesto ameaçador o que se passava na mente do Ouvidor; e apesar da sau longevidade, como que reanimando-se em frente do perigo, reunio todas as suas forças, sacodio para traz os cabelos que lhe cobrião o rosto, e, empertigada, retorquio lhe em termos pouzados e energicos: Guarada Senhor a tua lamina... Mais ligeiro nem mais valente serás do que o Juguar!...E elle, neste momento, cahiria com o coração atravessado por duas flechas, antes que sobre pousasse as garras... Na matta quatro olhos que não pestanejão, se fixão sobre o teu corpo...Dois arcos possantes ja se entesão sobre suas flechas; e terás a mesma sorte do Jaguar, se por ventura não te mostrares cavalheiro em presença de uma mulher velha inoffensiva! Diante de ti tenho apenas uma missão - cumprir a disposição de ultima vontade de um guerreiro, que pelejou pelo teu rei. Ouve, pois,a minha história que talvez te possa interessar... O conselho pareceo calar no animo do Ouvidor, pois que occultando o punhal, bondoso declarou que estava , às ordens de sua interlocutôra... Um profundo suspiro, que escapou do peito da india, foi o preludio da sua história, que começou assim: "No anno de 1648, a 24 de agosto, quando nos arraiaes dos Pernambuccanos o prazer transbordava nos caorações pela derrota do exercito do general Segismundo, na baalha dos Guapápes; quando um reforço de 400 homens, ao mando de Figuerôa, por ordem do governador geral se reunia aos guerreiros da minha e da tua raça para fortificar os terços, que sitiavão, no Recife, aquelle pirata Hollandez; quando tudo era alegria, porque parecia aproximar-se o temo de uma luta, que à 18 annos bebeu o sangue humano como o mar as aguas das fontes, uma dor profunda veio empalidecer os rostos dos combatentes Portuguezes, e amargurar a existencia dos indios Tabayares..." "Na matta, onde os sitiates havião levantado suas tendas, em um leito de palhas sob a frondosa copa de uma arvore, que lhe servia de cortinado, um homem, um heroe exhalava seu derradeiro alento." "Esse homem, Senhor, era Antonio Felipe Camamrão, o gurreiro afamado do seu tempo, cujos relevantes serviços forão considerados pelo teu soberano, que em 1635, lhe conferio o titlo de Dom, que ornava o seu nome, e o habito da Ordem de Christo, que lhe pendia do peito!..." "Aquella dor, Senhor, foi o resultado da morte desse heróe brasileiro, sob cujos golpes havião cahido milhares de inimigos; sob cuja bravura e lealdade descansavão teus generaes, e prolongavão a vida os especuladores de tua raça..." Taes recordações, naquelle momento, produzirão acerba dor ao coração daquela mulher! A vehemencia das suas ultimas expressões exprimem precizamente o que se passava em sua alma... Ella parou, suffocada pelos soluços que abastava no peito; e aquelle rosto bronzeado, que a velhice havia amortecido, incendiou-se tomando formas assustadoras! Um movimento convulsivofê-la extremecer, e de repente, como se uma vibora a mordesse, avançou dois passos para o Ouvidor... Pozera-se ao seu alcance. Loureiro aturdido, embora visse naquella mulher um espectro, puchou de novo seu punhal... Então um ruído semlehante ao que produz o vôo precipitado da rôla, rapido como o raio, atravessou o espaço e duas flechas, arremessadas de logares oppostos, cahiram, crusadas entre ambos, ficando no chão as suas agudas e farpadas pontas de ferro! Loureiro gelou... O punhal chiu-lhe da mão! e a india, arrimando-se àquellas duas flechas, que lhe suportavão o pezo, derramou copiosas lagrimas...Depois encarando o Ouvidor, e sem considerar aquelle incidente, continuou: "As lágrimas que vistes rolar por estas descarnadas faces, não foram simplesmente o effeito da recordação de um morto querido! Não!...Camarão, o chefe da Tribu Tabajara, já velho e doente devia pagar seu tributo à natureza... Ellas são lavas que o meu coração vomita, escandecido pela traição e cruêzas d'aquelles que, como tu, apossando-se de um paiz que lhes dá riquezas, ludibrião a Nação, escravisando com a mais negra ingratidão os livres filhos das selvas!!! Camamrão, como ue ha pouco, chorou na hora de sua morte, hora suprema, sentindo ter com o seu braço suerguido por vinte vezes o exercito da tua raça, que sucumbia oas golpes Hollandezes!" "E elle tinha pressentimentos; mas na nobreza de sua alma attribuia uma parte das atrocidades de seus alliados às necessidades da guerra! Foi victima de uma illusão!...Neste momento, senhor, eu sou a imagem da Pátria, que acabrunhada de opressões, reage contra ti, que symbolisas o poder... e a india, altiva,, mantendo-se em um certo pá de dignidade magestosa, em tom prophetico acrescentou: O espetaculo que ora se dá, será reproduzido no futuro: Um grito, como o que se exahlou do meu peito, arrebatará este Paiz às garras de Portugal!...a nação abatida se erguerá!...As suas armas assustarão o despotismo, e a libreddade assumirá os seus direitos." "No Sul se levantarão Leões, e no norte os cordeiro se farão heroes. Uma revolução lenta e pacífica fará reconhecer a dignidade do homem, abolindo a escravidão!" Começa, pois, Ouvidor, essa grande obra, naõ consentindo que no território de tua jurisdição o homeme seja propriedade de outrem!...Compulsa o cartório de Orphãos de S. José do Riba-mar, e nelle encontrarás um escândalo que te fará enrubescer as faces!..." "O sargento -mór João da Cunha Lemos, esse juiz deshumano, foi o primeiro que sanccionou nesta capitania a venda do homem, por uma setença firmada de seu punho no dia, sempre execrável, 17 de Agosto de 1719!" "Lê o inventário que se fez, haverá 10 annos, por morte da mulher de Antonio Mendes Loubato, e n'elle verás que entre os gados vacum e cavallar foi descripta uma relação extensa de indios Calabaças e Cariús, que, avaliados a 13$000rs a 30$000 e 55$00 rs. forão partilhados como escravos entre seus herdeiros!! "Não!...Não foi isso que se prometeu a Camarão, que na guerra respondia ao retira-te que lhe cochichavão as balas, com o avante que lhe ditava seu coração leal e corajoso!..." Alguns minutos se passarão em silêncio... Loureiro não descerrava os lábios: era a imagem do réo; confesso, ou antes prisioneiro, que só tinha a esperar da generosidade do vencedor! A índia , porém, passado este momento, adoçando a voz, e com um olhar compassivo prosseguio: Desculpa, Ouvidor, se te peretubei o espírito; a verdade tem suas rudezas, e o offendido nem sempre tem calma para pautar as suas palavras segundo as normas da etiquêta... Naõ estava em mim deixar de exporte o estado de degradação da Pátria, como não estava em mim, relatando-o, deixar de exceder-me nas expressões. Qaundo a dor aturde-nos, na sua vehemencia faltamos, às vezes, as regras do cavalheirismo... Desculpa. E, dizendo isto, a India arrancou as flechas, quebrou-as em quatro pedaços, que sacodio ao fundo da Lagôa; e, voltando-se para o Ouvidor, accrescentou: Estás livre: fica ou parte, como quizeres; mas, eu te suplico, me concedas ainda alguns instantes... Tenho uma missão a cumprir. O Ouvidor respirou, e olhando para o punhal que lhe estava aos pés, mais socegado, respondeo: Fala, mulher, quando quizeres, já te disse - estou as tuas ordens. - Pois bem, escuta: - Eu me chamo Mecejana, sou filha de Diogo Pinheiro Camarão. Nasci no anno de 1626, no dia 21 de Junho, e hoje completo a idade de 103 annos! Meu Avô foi chefe da Aldeia de Mecejana, onde nasci, nome que meu Pai, por grata recordação, m'o deo, em que recebi nas aguas do baptismo no dia 26 do mesmo mez, officiando no Sacramento, Frei Christóvão de Lisboa. Forão meus padrinhos - Martin soares Moreno e N. Senhora Sant'Anna. Sou, pois, cearense; christã... Tranquiliza-te; nada tens que receiar de mim. Estas palavras produzirão um effeito modificador nas aprehensões do Ouvidor... O Sol ja se tinha levantado bastante; e à sua claridade havião desaparecido as sombras, que união as árvores; estas começavão a balançar-se ao poente sopro do vento, que, lhes torcendo as copas, as destacava, levantando nas águas da lagôa pequenas ondulações, que se estendião nas margens, revolvendo o paúl de mistura com branca espuma; e as aves, já cançadas de seu demorado pairar, formando-se em linhas triangulares, desfilavão no espaço, desapparecendo por detraz dos montes. desfizera-se, pois, a miragem que o Ouvidor tinha tinha ante os olhos, concorrendo este cortejo de circumstancias naturaes para desvanece-lo do seu espanto! Elle voltára ao seu estado normal... Via uma simples lagôa e uma mulher que o pezo dos annos recurvara o dorso desfeiando-lhe as formas, mas dando -lhe subido gráo de uma dignidade respeitosa... Envergonhara-se; mas acalmando - se disse: _ Continua, velha respeitavel; eu te ouvirei sem o menor enfado: senta-te sobre aquelle tronco, pois já deve estar cançada. Um sorriso se deslisou nos lábios da India, imaginando naquelle acontecimento que estableceia entre ella e o ouvidor, uma intimidade complacente, a paz futura de ssua Patria, nos termos da prophecia que fizéra. Aceitando, pois, o offerecimento do Ouvidor, sentou-se balbuciando estas palavras: - Um dia, como eu agora, a Patria repousará descansada; a liberdade surgirá;os povos falarão ao Rei, e as suas queixas serão ouvidas, serão attendidas...E numa rápida trnsição continuou desta maneira: - << Sim, Ouvidor, naquelle tempo, quando tudo era alegria, só Camarão gemia no leito da dor, e eu velavca a sua cabeceira! Meu pai, no impedimento daquelle enfermo, assumira o coamndo de seu terço e partira com Jacaúna para o cerco do Recife, aonde os chamavão a honra e o dever. Triste, penosa foi a despedida daquelles tres heroés!... Aquelles homens, cujos rostos nunca se mancharam com a sobra do susto, sntados sobre folhas, no chão, um ao lado do outro, derramarão torrentes de lágrimas! a amisade os reunira, a dor os humilhára; e a separação, oprimindo seus corações, fisera daqueles leões encanecidos tres creanças timidas, affectuosas!... Os seus largos peitos arpavão; mas um só gemido não desprendião!... aquelle silencio exprimia, em hora tão suprema, quanto havia de mais sublime nos corações daquelles três amigos!Afinal Camarão rompeo: << partão, irmãos; o bom guerreiro não se faz esperar! dois sons bem distinctos chegam neste momento aos meus ouvidos - a cornêta que vos chama aos seus postos, e a voz do senhor que me chama ao seu seio>>... E disendo erstas palavras com tom firme, resoluto cobriu o rosto com a ponta de seu felpúdo lenço!...
Os dois amigos comprehenderam a sua intenção naquelle gesto. Levantarão -se silenciosos, apertaram-me nos seus braços, e partiram apressados!
Meia hora depois se descobrio aquelle rosto venerável... Só eu estava alli! Descrevê-lo é impossível; basta dizer que a dor, a mágoa e um profundo sentimento estavão nelle traçados... Sentei -me a seu lado; e a sua voz fraca e debil se fez ouvir - escuta filha: quiz a sorte que eu, no anno de 1611, me aliasse, no Ceará, a um homem a quem dediquei todas as minhas affeições... esse homem era Martin soares Moreno, teu padrinho, amigo de Jacaúna, o teu avô. - Motivos poderosos o fizerão abandonar o Brasil em 1646; e na sua partida, quando o meu coração pulsava sobre o seu, elle me deu um papel para entregá-lo ao Ouvidor daquella capitania, prevenindo-me de que, antes de faze-lo, estudasse o carater e virtude dessa autoridade.
- Ainda me soão aos ouvidos estas doces palavras: - mais confio em ti, Camarão, que no estrangeiro como eu!
- Quando, pois, me vires morto, tira d'aquella moca um cabacinho embutido em fios untados de resina, no qual o guardei, e dá-lhe o destino. Vive e espera o Ouvidor... Elle não respirava mais!! Morreo como o justo; e a sua alma voou ao céo como um arcanjo querido do Senhor... Só! Fiquei no meio das selvas! Eu contava 22 anos de edade...No dia seguinte Jacaúna meu avô apareceu: e sepultado o morto conduziu-me à taba de seus maiores, na Serra do Gabigi, no Rio Grande do Norte.
Alli vivi, e esperei, como mandou Camarão, até que houvesse Ouvidor nesta capitania, para onde parti a 23 de agosto de 1723, quando tomou posse o 1. Ouvidor José Mendes Machado.
O seu caracter, por suas turbulencias, não me inspirou confiança, como também não me inspirou Mathias Ferreira de Carvalho, que inteiramente o substituio!
Esperei ainda e chegaste tú... a minha idade não me permite maior experiência; e já te procuirava, quando o acaso neste logar, que te pareceo encantado, me fez deparar contigo!
Toma, pois, O' Ouvidor, este deposito que, a 81 annos, me foi entregue! elle encerra atlvez um thezouro... sê digno da confiança que me inspiraste... e a India, já de pé, retirou-se ligeira como a córsa, desapparecendo na matta, que se lhe fechou nas costas!

sábado, 12 de novembro de 2011

QUEM NÃO SE LEMBRA DO PADRE ARAKÉM!

FOMOS AGRACIADOS NESTE MÊS POR UM TEXTO DE PADRE VALDERY DA ROCHA SOBRE PADRE ARAKÉN.
ELE O PRODUZIU PARA O JORNAL A VOZ DE MORRINHOS, MAS NOS PERMITIU PUBLICÁ-LO AQUI
COMO TODA MEMÓRIA, ESTA É PRECIOSA E ÚNICA.
NOSSOS AGRADECIMENTOS AO PADRE VALDERY.



Morrinhos deve muito a um padre já falecido, há 42 anos. Convidado a escrever algo para a Voz de Morrinhos, lembrei-me de prestar a ele minha homenagem, para que não fique no esquecimento ou sem o conhecimento das gerações mais jovens. Ele foi um daqueles testemunhos de sacerdote de que o mundo carece, como falou Bento XVI, na abertura do Ano Sacerdotal que vivemos dois anos atrás. Falo do padre Francisco Arakém da Frota, que chamávamos padre Arakém.


FUI BATIZADO POR ELE

Fui batizado poe ele, ainda quando era vigário de Santana. Conheci-o nas suas andanças por Morrinhos, quando já não era mais Vigário, mas apenas colaborava no pastoreio. Na época, Morrinhos pertencia à paróquia de Marco, fundada no final do ano de 1941. Guardo lembrança do seu jeito simples e humilde de viver. Menino, eu prestava atenção às conversas dele com as pessoas em volta. sempre que se referia ao Valdecy Vasconcelos, aquele do IAPC, de quem era padrinho, dizia que ele era " a quarta pessoa da Santíssima Trindade". Ele o tinha como filho espiritual, a quem queria muito bem. Em Santana, padre Arakém era assíduo à casa dos pais dele, Oscar vasconcelos e Rita.
Ouvi-o várias vezes contando histórias do Seminário e, humilde, dizer que era tão "rude" que seu professores deixavam-no ir em frente nos estudos, só olhando o exemplo do Cura d'Ars que, também quando seminarista na França, era intelectualmente incapaz de assumir o sacerdócio. Admirável. Ele, padre Arakém, nas pegadas de São João batista Vianney, Cura d'Ars, hoje patronop dos sacerdotes e dos Párocos...!
Tudo o que se disser aqui sobre padre Arakém pode ser até novidade para os leitores. Pesquisando a melhor coletânea de biografias que temos sobre os padres do Ceará, desde 1700 a 2004, incorpradas na coleção "Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará" (Editora Premius, 2004), de Aureliano Diamantino da Silveira (Padre), sobre ele encontrei apenas seis linhas, tão resumidas que até omitem a data de seu falecimento, ocorrido em Santana a 5 de Setembro de 1969, com 75 anos. Estão assim escritas: " Nasceu em S.Ana, a 27 de Junho de 1894. Foi solenemente batizado na igreja matriz de S. Ana a 17 de Julho de do mesmo ano. Recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de D. José Tupinambá da Frota, Bispo Dioceasano, no dia 4 de Janeiro de 1920. Vigário de S.Ana, (posse 22 de agosto), de 1920 a 1941. Pais: Manoel Lúcio Carneiro da Frota e D. Úrsula anália da Frota. construiu as capelas de Bom Jesus e Sítio". Só isso.

QUEM ACHOU O SACO DO CASSACO?

o poeta e escritor José Alcídes Pinto, já falecido e que era de Estreito, já escreveu sobre ele, de forma fictícia, em um de seus romances, personificado com o nome de Padre Tibúrcio. Mas suas histórias, seus "causos" reais, deixo que so conte João Lourival Rocha, no livro de suas memórias, a ser publicado em 2014, por ocasião do centenário de nascimento de meu pai. Ali há um capítulo intitulado: " Quem não se lembra do padre Arakém!", do qual transcrevo aqui uma pequena parte:

"Morrinhos era capela de Santana, sendo, portanto, pastoreada pelo Padre Arakém, vigário da Paróquia. Meu avô Joaquim Coriolano era o procurador da capela e o padre se hospedava em sua casa.
Padre Arakém era filho de pais abastados e viveu tão pobremente que, no final de seus dias, sustentou-o a caridosa e fraterna iniciativa do Pároco de Santana que lhe mandava a alimentação. Sempre de batina preta, sofria da coluna. As viagens de um lugar para outro, também nos chamados para confissões dos enfemros, fosse aonde fosse, eram feitas a cavalo.
Tímido e alegre, mas "brabo" no jeito de reclamar. Sua brabeza era só "se fazendo", no dizer popular. Mostrava-se mais assim com as mulheres, e dizia, brincando, que só falava com elas, por que a mãe dele era mulher. Quando ele estava irritado e alguém lhe pedia para se confessar, ele dizia "não vou....não vou". repetia isso, mas indo, tortinho e andando apressadinho, para o confessionário. Era baixinho. Todos os que conhecemos, o tínhamos como homem piedoso, admirado e santo.
Ele gostava de Morrinhos. Aqui havia pouco trabalho para o Vigário, a não ser em tempos de festas da Matriz e nas capelas que eram poucas, mas distantes. Não havia o que chamamos hoje de "comunidades". O trabalho era a Missa, algumas confissões, ou chamado para alguma Extrema - Unção, hoje Unção dos Enfermos. Os padres não faziam tantas reuniões como hoje. a Missa era sempre celebrada pela manhã, e logo cedinho, pois não era permitido missa na parte da tarde ou da noite. só até mais ou menos nove horas da manhã, pois o padre e os fiéis que iam comungar tinham que ficar em jejum, e sem tomar qulaquer líquido, nem água, até a hora da comunhão. Todos obedeciam.
Se por descuido comessem ou bebessem alguma coisa, não podiam comungar. Muita gente, por exemplo, "quebrou" a corrente das nove sextas - feiras por ter tomado água.
O único passatempo e diversão do Padre Arakém era jogar baralho, ou gamão, junto com os filhos do Doca silveira e o genro do meu tio Joaquim Criolano, Francisco Plínio. Era também parceiro dele o tio Francisco Coriolano. Quando o padre ganhava dava muitas risadas; risadas tão compridas que aprecia até estar ele engasgado. Quando perdia no jogo, a gente notava que ele ficava trsitezinho... Os filhos do Doca e o Chico Plínio "se combinaram", de modo a que o padre perdesse poucas vezes. O Jogo era "apostado". Só que o dinheiro envolvido era só uma "mixaria". Quem perdesse, perdia uma rapadura e quem ganhasse. ganhava outra, por exemplo. Era somente para divertir e ajudar ao vigário.
Ele era tão acostumado ao gamão que, quando vinha de Santana a Morrinhos, chageando no final da tardinha, sesus companheiros de jogo já estavam a postos na calçada. Ao descer do cavavlo, nem chegava a entrar na casa, sentando-se nas cadeiras já postas na calçada para a diversão, aliás, bem apreciada por muitas pessoas de Morrinhos.
Quando havia gente "peruando" o jogo, o padre Arakém dizia: - "Olhe, jogar a dinheiro é pecado. Eu jogo porque sou pecador, mas eu me confesso e aconselho que ninguém jogue, pois é pecado!"
Na época, os padres só faziam pregação aos domingos. Padre Arakém só raramente. Sua voz era fraquinha e um pouco fanhosa. Não tinham as igrejas microfone ou som para a amplificação da voz.
Era no tempo da seca. O governo mandou fazer a estrada de piçarra Morrinhos - Acaraú para dar serviço e emprego ao povo. Havia muitos trabalhadores vindo de todos os lugares. Eram chamados de " cassacos do Governo", pois fugiam das agruras da seca. Meu irmão Otacílio, com graça, conta que, certo dia, padre Arakém já tendo descido do latar para a oração de despedida do final da missa, de repente, subiu novamente os batentes e voltou-se para o povo pedindo: "Atenção!" A fala causou admiração. " O que será que ele vai pregar?!". Pensaram as pessoas. Em silêncio, todos puderam ouvir o que ele pusadamente falou: " Uma cassaco perdeu um saco. Quem achou o saco do cassaco, entregue o saco ao cassaco. Quem não tem saco, o que é que quer com o saco do cassaco....?" Só isso! E foi para a Sacristia.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

COMENTÁRIOS AO CAPÍTULO II DE O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA

Este segundo capítulo que transcrevemos é, na verdade, uma segunda parte da introdução á história do município de Santana do Acaraú proposta pelo autor.
Nela, mais uma vez, percebe-se a intenção de ligar a história do município a do Estado do Ceará.
De maneira resumida o autor relata o desligamento do Ceará da Capitania do Maranhão, sua elevação à categoria de Capitania subalterna a de pernambuco,a criação da Vila da Fortaleza, a disputa pela sede da Câmara, travada entre o partido do Aquiraz e o de Fortaleza; A Rebelião indígena de 1713, a elevação da Capitania do Ceará à condição de Capitania independente de Pernambuco, a outorga do título de cidade à Vila de Frotaleza em 1823 e a de Província à Capitania do Ceará, na época do Brasil Império.
Neste bojo,a Rebelião indígena de 1713 é "citada" como um obstáculo ao desenvolvimento da Capitania e os indíos Areriús como bárbaros que espalharam nas plagas do Acaraú grande terror que levou "os habitantes" do vale do Acaraú a buscarem refúgio com os civilizados índios da Serra da Ibiapaba: os Tabajaras, tutorados pelo Padre Ascenso Gago.
Os limites do antigo Curato do Acaraú são descritos para que o leitor compreenda o cenário onde ocorreram os fatos descritos pelo autor. Tal curato deve sua criação às informações fornecidas à coroa pelo custódio da Missão Franciscana Maranhense: Frei Cristóvão de Lisboa que passou pelo dito trritório no ano de 1626, ocasião que já foi bem explorada por nós em postagens anteriores, cujos links aqui colocamos para o melhor acesso do leitor:

MEMORIAL DA PARÓQUIA DE SENHORA SANT'ANNA: A PROPÓSITO DA CARTA DE FREI CRISTÓVÃO TRANSCRITA NO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANT’ANNA.

MEMORIAL DA PARÓQUIA DE SENHORA SANT'ANNA: FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA - CAPÍTULO III: A VIAGEM MISSIONÁRIA DE 1626

MEMORIAL DA PARÓQUIA DE SENHORA SANT'ANNA: FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA - CAPÍTULO II

CAPÍTULO II DO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA

CONFORME PROMETEMOS POSTAGENS ATRÁS, CONTINUAMOS A TRANSCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS DO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANT'ANNA, FAZENDO, APÓS A PUBLICAÇÃO DOS MESMOS, COMENTÁRIOS QUE TÊM POR BASE A MODERNA HISTORIOGRAFIA.
NESTAS TRANSCRIÇÕES MANTEMOS O PORTUGUÊS DA ÉPOCA.

CORRIA O ANNO DE 1655

O Brasil livra-se do poder Hollandez; e o Ceará, desannexado do Estado do Maranhão, voltou a fazer parte, como d'antes, da Capitania de Pernambuco.
Restituido pois, ao seu primitivo estado de colonisação o Ceará já bastante rico de gados, foi elevado à cathegoria de capitania subalterna à de Pernambuco, a 16 de Setembro de 1668.
As condições de seu engrandecimento já se faziam nota; e então por carta regia de 13 de Fevereiro de 1699 se ordenou a creação de uma Villa junto a Fortaleza, que , n'esse tempo, era o centro capital da florescente colonia.
Grande foi o contentamento que produzio a publicação daquella ordem; os seus efeitos não se fizeram esperar!No anno seguinte, a 25 de Janeiro de 1700, se procedeo à eleição da sua primeira Camara, sendo escolhido para sede o sitio Aquiraz, d'onde a 24 de Março do mesmo anno, foi transferida para a povoação de Fortaleza.
Começou então o governo civil.Com a Camara foram eleitos dis juizes ordinarios, que logo assumirão o exercício das respectivas funções.
O acontecimento auspicioso da inauguração da Villa foi logo perturbado com a transferência da sua Séde! E, d'ahi, nascendo a intriga, serias discordias depois atropellarão os interesses reaes da nova capitania!
Existião a esse respeito dois partidos, e o do Aquiraz, sempre pertinaz no seu intento, conseguio por fim, passados 13 annos, a volta da Séde da Villa para seu seio, a 27 de Junho de 1713.
A discordia no poder publico foi sempre fatal aos interesses do povo! Nesse mesmo anno enqunato lutavam os homens do governo pela quaetão da Séde, abandonados gemião so moradores do Acarahú sob a pressão dos índios Areriús, que se havião levantado!
Nada de soccorro!...A fuga tornou-se indispensavel; e foi nella que encontrarão os meios de salvação, sendo aliás bem recebidos na Ibiapaba pelos Tabajaras, que, ainda fieis, se deixavam dirigir pelo Padre Ascenso Gago.
Continuava a pendencia; e outros interesses palpitantes da Capitania ficarão de lado! Nesse mesmo anno - 1713 - e, segundo a chronica do Conseheiro Araripe, até 1716, apenas existia na Capitania uma só Freguesia!
Permanecião, pois, as cousas neste estado, quando para obsta-las o governo ultramarino, por solicitação do governador geral do Pernambuco - Manoel Rolim de Moura - por provisão de 11 de Março de 1725 elevou à Villa a Povoação de Fortaleza. A 13 de Abril do anno seguinte (1726) teve logar a sua installação; e ficou servindo de séde do governo civil da capitania; terminando-se assim, aquella questão, que tão maos effeitos produzio!
Por esse tempo quando apenas havia a Freguesia do Aquirás, e, talvez, a da Fortaleza, desmambrada daquella, já existia um antigo curato no Acarahú. O seu território comprehendia todo o litoral desde o mundahú até a Parayba; d'ahi estendia-se a tá a Ibiapaba, abrangendo em forma de circulo a Serra dos Côcos e as Ribeiras do Aracaty - assú o Mundahú. para esse ponto devem convergir as atenções do leitor:
E se curato foi devido a intervenção de Frei Christovão de Lisboa, quando em 1626, exercia o cargo de custódio do Maranhão; e a sua história alludida: por mais dois minutos a sua benevolência.
Unida esta à capitania de Pernambuco desde 1655, ficou o Ceará dependente della pelo Alvará de 17 de Janeiro de 1779.
O seu 1º governador foi o chefe de esquadra Bernardo Manoel de Vasconcelos, sendo Rolim o último em 1822.
Crescida, e já bastante populosa, a sua Villa foi elevada a cathegoria de cidade em 1823. Erão já decorridos 322 annos da descoberta do Brasil quando uma nova aurora bafejando-o em hora propícia, veio estabelecer uma nova ordem de cousas, mudar a face da governança!
Constituindo-se o Brasil independente, creada a Constituição politica do Imperio, e jurada a 25 de Março de 1824, passou a Capitania à Província; e o seu primeiro presidente foi o Tenente Coronel Pedro José da Costa Barros.
AO LEITOR

A exposição feita, benevolo leitor, que começou em 1611, e como se vê ainda deste número, terminou em 1824, de certo vos terá fatigado a paciência, tomando-vos, por fim,vacilante a cerca da applicação que ela possa ter em relação ao onjeto de sua proposição...
De facto; quem conhece o municipio, e sabe que ele apenas conta com 20 annos de existência, a datar da creação de sua Villa, em 1826, a primeira vista não poderá compreender como elle, tão recente, se possa prender a factos tão remotos, que quasi se perdem na noite dos tempos!
Pois bem; para obviar estas e outras duvidas, de certo já levantadas, é que o folhetinista, dedicando-vos esta página apressa-se, antes de entrar em seu intuito, em declarar que mais antiga, do que se suppõe, é a história do seu Município...Os aconecimentos que lhe dizem respeito, datão de 1626, 15 annos depois da fundação da Colonia Cearense no sitio Aquirás, em 1611: e nestas condições, tratando da sua história, paezar do título a ella dado, entendeo que não devia simplesmente limitar-se aos factos ocorridos da creação do Município a esta parte.
A história de uma localidade, como a de um Paiz, deve descer à sua origem, e d'ahi subir por detalhes até as condições, em que actualmente se achar.
Pensando assim, não duvidou o que ora vos dirige estas linhas, fazer aquella ligeira exposição, que aliás vos offerece como uma introdução da história a que se propõe.
Justifiquem, pois, etas palavras o que até aqui se tem publicado, e permita o complcente leitor que o folhetinista, calouro nesta matéria, e, alem disto, destitutido de conhecimentos literários, tenha algu8ma liberdade em seu estylo, perdoando - se - lhe o seu dezaro em atenção do que se dedica.
_________________
Acarahu, rio das garças, na lingua indigena.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ATA DA REUNIÃO PARA ARTICULAÇÃO DA REDE CEARENSE DE MUSEUS COMUNITÁRIOS

NO DIÁRIO DE BORDO QUE PUBLICAMOS POR ÚLTIMO, RELATAMOS NOSSA EXPERIÊNCIA NA REUNIÃO PARA A ARTICULAÇÃO DA REDE CEARENSE DE MUSEUS.
RECEBEMOS HOJE A ATA DA REFERIDA REUNIÃO, ENVIADA POR JOÃO PAULO GOMES, POR E-MAIL E AQUI A PUBLICAMOS



Movimentos sociais, representantes de museus e comunidades atenderam à convocatória lançada no dia 11 de outubro, e se reuniram no dia 21 de outubro de 2011, no auditório do Museu do Ceará, em Fortaleza, para discutirem a criação da Rede Cearense de Museus Comunitários. Foram mais de quarenta pessoas, representando cerca de trinta entidades e comunidades, entre indígenas, assentados, pescadores, profissionais e ambientalistas. Discutimos as diversificadas e ricas experiências na criação, gestão e dos desafios do exercício museológico sócio-comunitário. O encontro iniciou-se pouco depois de 14hs, com a seguinte pauta: 1. Apresentação dos presentes, com relato de experiências com a museologia social; 2. Apresentação da proposta de criação da Rede Cearense de Museus Comunitários; 3. Debate sobre a proposta; 4. Apresentação e discussão sobre os editais do Ibram, com ênfase no Prêmio Pontos de Memória; 5. Encaminhamentos.
Iniciaram as atividades com as apresentações dos presentes, seguida da apresentação proposta de criação da Rede Cearense de Museus Comunitários, pelos integrantes do Projeto Historiando (Alexandre Gomes e João Paulo Vieira). O debate ocorreu posteriormente, com ampla participação dos presentes: indivíduos de várias regiões do estado do Ceará (Cariri, Litoral Leste e Oeste, Acaraú, serra de Baturité, metropolitana, sertão-central e dos Inhamuns), pertencentes a grupos sociais e étnicos distintos. Dentre as várias questões debatidas, ressaltamos a discussão sobre os desafios e importância de articulação e comunicação entre os integrantes da Rede, em torno do qual se relacionaram vários outros assuntos. É importante salientar que grande parte das comunidades e indivíduos envolvidos nesta reunião, já possuem ampla experiência de mobilização comunitária, dentro dos quais a criação de museus e de processos de musealização surgiram, de algum modo, articulados com a organização local.

Entre os demais assuntos discutidos, destacamos: políticas públicas, editais, comissão de organização, comissões regionais, com caráter descentralizado e auto-organizado; a necessidade de criar canais de comunicação, tanto impressos quanto digitais; a necessidade de escolher um representante da Rede para participar da II Jornada de Formação em Museologia Comunitária (30/10 e 03 / 11, em Santa Maria – RS), para a qual a plenária propôs o nome de João Paulo (Projeto Historiando); necessidade de troca de experiências, para que o grupo construa um sentimento de pertencimento coletivo, para que se conheçam mais; necessidade de discutir as categorias de museus participantes (museus indígenas, ecomuseus, museus comunitários, processos de musealização e museus de território); os acervos arqueológicos sob a guarda destes museus; realizar um encontro da Rede em alguma comunidade; criar visibilidade para estes museus e audiências públicas para discutir o setor museal nas esferas políticas; viabilizar ações museológicas nas comunidades, para qualificar grupos e ações, entre outros. Após isso, finalizamos com a apresentação e discussão dos editais do Ibram, principalmente o Prêmio Pontos de Memória 2011, pouco depois de 18hs.
Assim, foi consensual a criação de uma articulação à nível estadual das iniciativas presentes nesta reunião. O objetivo da Rede Cearense de Museus Comunitários será o de compartilhar experiências, fomentar a cooperação, divulgação e o fortalecimento conjunto de seus integrantes, atuando de forma descentralizada e garantindo a autonomia de seus participantes, a partir da articulação de ações, projetos e programas interinstitucionais. Essa organização possibilitará uma maior visibilidade para nossas demandas e potencializará nosso poder de pressão, proposição e reivindicação junto aos poderes públicos, para a formulação de políticas públicas que reconheçam e assegurem a função social dos museus comunitários. Com o objetivo de concretizar está finalidade, foi formada uma comissão de articulação, com os seguintes membros:
• Região metropolitana: Tiago Schead (Associação dos Moradores do Titanzinho), João Paulo Vieira (Projeto Historiando e Museu do Ceará); Jade (Ecomuseu de Maranguape), Rusty Sá (Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba), Ilza Granjeiro (Museu de Miniaturas);
• Vale do Acaraú: Leandro (Santana do Acaraú);
• Litoral Oeste: Valneide (Comunidade Caetanos de Cima);
• Litoral Leste: Representante da Prainha do Canto Verde (a escolher).
Encaminhamentos:
1. A construção de um site pelo projeto Titanzinho Digital (a comissão de articulação irá pensar a estrutura do site);
2. Criação de uma lista de e-mails para melhorar a comunicação entre os participantes da Rede;
3. Envio de uma carta/oficio a SECULT, solicitando passagens para um representante da Rede na II Jornada de Formação em Museologia Comunitária em Santa Maria/RS;
4. Participação na organização do IV Fórum Estadual de Museus do Ceará, como Rede Cearense de Museus Comunitários;
5. Buscar enviar o máximo de projetos para o edital Pontos de Memória;
6. Próximo encontro: dia 9 de dezembro de 2011, às 14hs no Museu do Ceará;
Ata redigida no dia 27 e outubro de 2001, por Alexandre Oliveira Gomes.

Lista de pessoas, comunidades e entidades participantes:

NOME COMUNIDADE / INSTITUIÇÃO

1. João Paulo Vieira
Projeto Historiando – Museu do Ceará

2. Alexandre Gomes
Projeto Historiando – DAM-UFPE

3. Francisca Marciane W. De Menezes
Tapeba – Memorial Cacique Pena de Pau

4. Rosa da Silva Sousa
Pitaguary – Coypym

5. Margaret Malfliet
Oca da Memória Tabajara – Kalabaça

6. Valneide Ferreira de Sousa
Caetanos de cima e Rede TUCUM

7. Rayane Cristina de Sousa
Caetanos de Cima

8. Jade Nocrato de Oliveira
Ecomuseu de Maranguape

9. Paulo Emílio R. Rocha
Projeto Enxame – Mucuripe

10. Raimunda Gomes Marinho Sampaio
Indígena de Poranga – Oca da Memória

11. Lígia Holanda
ONG Caldeirão

12. Agnelo Queirós
ONG Caldeirão

13. Nádia Almeida
Ecomuseu de Maranguape

14. Leinad Carbogim
Fundação Brasil Cidadão

15. Ilza Granjeiro
Instituto Intervalo / Comunidade Moura Brasil

16. Samara e Silva Amaral Ribeiro
Guarda Municipal – Pronasci – Ponto de memória

17. Francisca Sena
Adelco

18. Francisco José Ribeiro de Abreu
Instituto Histórico da Polícia Militar – Ecomunam

19. Rusty de Castro Sá Barreto
Ecomunam – Eco-Museu Natural do Mangue

20. Francisco Oliveira
MIS – SECULT

21. Alberto Cukier
Representando os Tremembé

22. Everthon Damasceno
Representando os Tremembé

23. Francisco Leandro Costa
Memorial da Paróquia de Santana do Acaraú

24. Maria Socorro dos Santos
Museu de Senhora Sant'Ana

25. Micheli da Silva Abrosio
Museu Potygatapuya

26. Jose Guilherme de Sousa
Colonia Z8 de Pescadores – Mucuripe, Fortal.

27. Eliane Alves Sabino
Museu indígena Jenipapo – Kanidé

28. Heraldo Alves
Museu indígena Jenipapo - Kanindé

29. Cicero Pereira
Kanidé de Aratura – Museu dos Kanindé

30. Thiago Schead de Sousa
Associação de moradores do Titanzinho

31. Luis de Sousa
Associação de moradores do Titanzinho

32. Ricardo M. Arruda
Projeto Resgate – Ponta Grossa

33. Francisco Oliveira Rocha
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim

34. Francisco Márcio
Prainha do Canto Verde

35. Ana Ariel Vidal de Lima
Prainha do Canto Verde

36. Kaio Ribeiro
Prainha do Canto Verde

37. Josué Pereira Crispim
Ponta Grossa

38. Lireida Maria Albuquerque
Barbalha / URCA

39. Antônio Igor Dantas Cardoso
Centro Pró-Memória de Barbalha

40. Maria Aparecida da Rocha
Tapeba ( Memorial Cacique Perna-de-Pau )

sábado, 22 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO - REUNIÃO PARA A ARTICULAÇÃO DA REDE CEARENSE DE MUSEUS COMUNITÁRIOS - FORTALEZA

Fortaleza, 21 de Outubro de 2011

Parti de sobral as 07 horas e 45 minutos. Nosso caminho foi a desafiadora BR 222, com trechos cheios de "remendos" no asfalto, alguns outros com trechos ainda sem asfalto e outros com buracos que são verdadeiras armadilhas provocadoras de acidentes.
Nossa sorte: o motorista estava estagiando e em trechos nos quais podia "pesar o pé" não o fez por conta do olho do instrutor.
Cheguei as 13 horas e 30 minutos, razão pela qual não procurei pousada antes da reunião, indo direto ao Museu do Ceará.
Fomos recebidos por Alexandre Gomes e João Paulo Vieira,a quem havíamos conhecido na ocasião de uma visita a Almofala, na Escola de Educação difrenciada indígena Maria Venância. Os dois não se recordavam de mim, razão pela qual me apresentei e ao projeto que representava: Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Sant'Ana.
Compareceram à reunião cerca de 40 representantes de experiências meuseais comunitárias do ceará, na sua grande maioria os das nações indígenas do Ceará que já desenvolvem ações museais do tipo.
O primeiro momento foi para a apresentação de cada uma das experiências e atores, o segundo de comunicação de alguns informes, o terceiro para a apresentação da proposta da Rede Cearense de Museus e o último momento para a apresentação dos últimos editais do IBRAM.
Após breve e feliz explanação de João Paulo Vieira a cerca da história dos Museus comunitários no mundo, no Brasil e no Ceará; Alexandre Gomes fez uma releitura da Carta convocatória dando-lhe um caráter de manifesto para, em seguida serem feitas as inscrições para o debate da plenária.
O resultado final do debate foram os seguintes encaminhamentos:
1) A CRIAÇÃO DE UM SITE QUE FACILITE A COMUNICAÇÃO E INTERLIGAÇÃO DA REDE
2) A CRIAÇÃO DE UMA COMISSÃO DE ORGANIZAÇÃO E ARTICULAÇÃO COMPOSTA POR REPRESENTANTES DAS REGIÕES DO ESTADO ALI PRESENTES, SENDO O VALE DO ACARAÚ REPRESENTADO POR FRANCISCO LEANDRO COSTA.
3) UMA CARTA - MANIFESTO SOLICITANDO AO SECRETÁRIO DE CULTURA DO ESTADO O ENVIO, COM TODAS AS DESPESAS PAGAS, DO SENHOR JOÃO PAULO VIEIRA A JORNADA DE FORMAÇÃO EM MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA EM SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL.

A próxima reunião foi agendada para o dia 9 de dezembro, ocasião onde se poderá organizar melhor o site da Rede, criar uma logomarca para a mesma, ouvir os repasses da Jornada de formação em Museologia Comunitária e consolidar a rede ainda mais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

COMENTÁRIO SOBRE O PRIMEIRO CAPÍTULO DE O MUNICÍPIO DE SANTANA

No primeiro capítulo de o Município de Santana, o leitor deve observar conosco alguns detalhes pequenos e importantes para a compreensão da obra de José Mendes Pereira de Vasconcelos e seus companheiros: a frase do cabeçalho e outra frase do texto que nos indica que corrente historiográfica os mesmos utlizaram.
As frases do cabeçalho assim introduzem o leitor da época ao texto: "Ligeiros traços históricos e topográficos do município de Sant'Anna. Publicado no 'Município de sant'Anna' jornal que circulou por muito tempo naquella cidade."
Àqueles que hão de ler o livro atualmente precisamos explicar que, antes de ser publicado em livro por Dom José Tupinambá em 1926, O Município de Sant'Anna foi publicado em folhetins de 1882 a 1889 em jornal de mesmo nome que circulou na cidade.
O fato de ter sido publicado em folhetins se deve a formação intelectual de seu redator chefe, José Mendes Pereira, toda ela burilada em Recife, na faculdade de direito, em época de grande ascensão cultural e intelectual da mesma, onde não raras eram as associações literárias organizadas por alunos cearenses, cuja presença era marcante.
Mesmo depois que voltou de Recife, Dr. José Mendes recebeu forte influência, na época de deputado provincial, dos circulos sociais dos quais fazia parte em Fortaleza. Em um deles estava Dr. Carlos Studart Filho, grande historiador cearense.
A outra frase do primeiro capítulo é esta:"(...)o seu fim é DESCREVER com verdade os acontecimentos mais notáveis no Município, acompanhando-os de uma descrição topographica mais ou menos fiel."
Esta frase nos mostra que o autor segue uma corrente historiográfica em voga à época: a positivista. Não há em todo o texto a preocupação em problematizar ou discutir questões, mas em DESCREVER fatos da forma mais "imparcial" possível além do território da cidade, suas ruas e principais edificações.
O positivismo esteve presente em toda a formação de José Mendes em Recife como relatamos em outro artigo deste blog.
Neste primeiro capítulo os autores relatam a história da fundação da Capitania do Ceará com o fim de ligar fatos da história desta fundação à história de Santana do Acaraú.
Tratando das invasões holandesas, os autores de o município de Sant'Anna, apontam a guerra com a Holanda como a razão da migração, para o vale do Acaraú, dos primeiros indivíduos brancos que por aqui habitaram, num espaço de tempo de 1630 a 1654,oriundos da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A ocupação do território que corresponderia ao da atual Santana do Acaraú parece, no entanto, ter ocorrido anos depois do período de tempo surgerido pelos autores supracitados.
Os dados que analisamos nos levam a crer que a ocupação deste, que posteriormente seria chamado de Santana do acaraú, se deu por conta da expansão da pecuária que, destruindo as sociedades indígenas, tomou a terra destas e se deu em duas fases: a primeira ou do absenteísmo, ocorrida entre mais ou menos entre 1680 e 1720; e a segunda fase ocorrida a partir de mais ou menos 1720.
A fase inicial carcterizou-se pelas primeiras lutas entre os colonos e os índios, os quais lutavam contra a expropriação de suas terras; e pelo fato de os fazendeiros não residirem diretamente nos sertões, ficando na Zona da Mata Açucareira de Pernambuco e Bahia, obtendo sesmarias e enviando seus vaqueiros para cuidar das mesmas e do gado que para estas enviavam.
Já a segunda fase teve como principais características: a instalação dos donos de fazenda com suas famílias no sertão (graças ao extermínio dos índios), á decadência da Zona da Mata Açucareira e à elevção de alguns vaqueiros à condição de proprietários, muito embora o absenteísmo não tenha sido totalmente abandonado por alguns fazendeiros.
Até agora, com os dados que dispomos, podemos dizer que a maioria dos indivíduos que ocuparam o território que mais tarde os mesmos, ou seus filhos, denominariam de Santana do Acaraú, foram pernambucanos que trouxeram seus gados pela rota do "Sertão de fora" cujo caminho iniciava pelo litoral, seguia pelo Rio Grande do Norte em direção ao Maranhão de onde os vaqueiros alcançavam o interior do Ceará.
A primeira sesmaria concedida no vale do Acaraú foi dada ao pernambucano Manoel de Góes e seus companheiros em 20 de setembro de 1683. Como era comum na época os sesmeiros oficializarem o pedido muitos anos após terem ocupado as terras, não se pode dizer com precisão se Manoel de Goés; o único a ocupar (ou a mandar ocupar) de fato as terras que lhe foram concedidas, chegou aqui nestas plagas precisamente nesta data.
Antônio Bezerra, em seu livro Notas de Viagem assim descreve como Manoel de Góes mediu as terras que conquistara:

"Conta-se que tendo plantado o primeiro marco no lugar Picada, a três léguas do mar, montara um excelente cavalo, e subindo rio acima, com uma ampulheta na mão, onde deu uma hora, sentou o segundo, que denominou de Marco do Serrote".
"Por êsse sitema mediu ainda nove léguas das vinte e uma que lhe pertenciam, colocando no fim de cada hora de viagem novos marcos,os quais são conhecidos sob os nomes de Marquinho, Marco, antônio, Miguel, Poço Branco, Espinhos, Estreito, Tucanos e Pau - Ferrado, com uma légua de largura para cada lado do rio".

Um fato que confirma isso é a expedição do também pernambucano Leonardo de Sá em 1697 que, segundo o Padre Sadoc Araújo,foi a primeira tentativa de colonização da Ribeira do Acaraú por meio da ocupação de terras inexploradas da sesmaria dos Góes. O dito capitão tinha a intenção de reconhecer o território que desejava pedir como sesmaria, além de "domar e civilizar" os aborígenes.
A sesmaria só foi concedida a Leonardo de Sá em 1702. Muitas das terras desta sesmaria passaram a seus herdeiros que durante toda a sua vida tiveram que lidar com litígios. Destas as que mais nos interessam são aquelas que foram herdadas por seu filho Sebastião de Sá: as que vendeu, juntamente com o filho Antonio de Sá, ao Padre e amigo pernambucano Antonio dos Santos da Silveira; e aquelas que lhe foram seqüestradas pelo governo como a fazenda Sapó, sobre a qual falaremos mais adiante.
Outro pernambucano de muita importância para a história santanense é o Capitão Antônio Coelho de Albuquerque,homem influente em toda a Ribeira do Acaraú,era natural do Cabo de Santo Agostinho, filho do português Pedro coelho Pinto ( Natural da Freguesia de São Martinho da Vila de Monte - mor - o - Velho) e da Pernambucana, da cidade de Goiana, Romualda Cavalcante de Albuquerque.
Foi o primitivo dono da fazenda Baía, hoje distrito de Santana do Acaraú. Não podemos precisar se chegou nesta região antes do século XVIII.Seu primeiro casamento ocorreu em 1745 e o segundo em 1769.Deixou numerosa prole, sendo por isso tronco de inúmeras famílias desta região. Dentre os seus filhos destaca-se José Mariano de Albuquerque Cavalcante que foi o 5º presidente da província do Ceará em 1831.
Filho do pernambucano Gonçalo Ferreira da Ponte (tronco das famílias Ferreira da Ponte e Monte, falecido na ribeira do Acaraú aos 83 anos ), o Capitão Francisco Ferreira da Ponte, natural de Boa Vista, casou-se com Madalena de Sá no dia 20 de Setembro de 1738. Ela é uma das sete filhas do Pernambucano Manoel Vaz Carrasco. O Casal morou na Fazenda Curral Grande, hoje localidade pertencente ao Município de Santana.
Cláudio de Sá Amaral, filho de Antonio Henrique de Araújo e Joana de Abreu Quaresma, naturais do Rio Grande do Norte, casou-se com Maria da Cunha no dia 2 de Fevereiro de 1741.
Comprando terras do Padre Antônio dos Santos da Silveira em 1751, nelas residiu. Estas correspondem ao atual território da cidade de Santana.
Nascido na Paraíba em 1692, Cosme Frazão de Figueroa veio residir na fazenda Sapó. Ele é pai de Teresa de Jesus Vasconcelos que, das terceiras núpcias com João Carneiro da Costa, deu origem aos numerosos membros da família Carneiro desta região.
Pelo exposto, vê-se que a ocupção do território que corresponderia ao do municípo de Santana do Acaraú, deu - se em função das entradas do gado pelos sertões em fins do século XVII e meados do século XVIII. Esta é a razão pela qual pede sesmaria Manoel de Góes e seus companheiros, conforme pode observar aquele que se detiver a ler o documento de petição.
José Mendes, ao fazer referência aos indivíduos brancos oriundos da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco como primeiros povoadores do vale do Acaraú, silencia sobre a existência de indígenas na região, neste capítulo, vindo a referi-los, em capítulo que em breve transcreveremos,como bárbaros e selvagens.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO - BELA CRUZ: VISITA A VICENTE FREITAS E AO MUSEU EMÍLIO FONTELES

DENTRE SEUS OBJETIVOS, O MEMORIAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA SANTANA, TEM O DE SER UM ESPAÇO QUE PROMOVA A MÚTUA COOPERAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS ATORES SOCIAIS DO MÉDIO E BAIXO VALE DO ACARAÚ QUE LUTAM PELA CAUSA DA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA, CULTURA E HISTÓRIA DE SUAS CIDADES.
PARA TANTO, TEMOS BUSCADO ESTREITAR LAÇOS COM ESTES COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS DE LUTA.


Bela Cruz, 12 de Outubro de 2011

Parti de Santana do Acaraú às 6 horas da manhã, temendo não chegar à Bela Cruz no horário que havia acordado com o atencioso senhor João da Secretaria de Cultura de Bela Cruz para visitar o Museu Emílio Fonteles.
Não tendo outro contato do professor Vicente Freitas além daquele da rede social facebook, busquei saber do Professor Plauto Araújo pontos de referência que me levassem á casa de Vicente Freitas. Além do intuito de conhecer o Museu, viajei com a intenção de conhecer Vicente Freitas.
Cheguei à Bela Cruz, terra amada do fundador de nosso Memorial às 7 horas e 30 minutos, tempo menor do que aquele que eu calculei, hora não muito própria para visitas.
"Puxando pela memória", localizei o Museu Emílio Fonteles que, estava situado no mesmo local que eu lembrava quando fui à Bela Cruz para deixar meu parco currículo de enfermeiro na secretaria de Saúde.

Dispondo de uma hora e meia antes daquela maracada para a visita ao Museu, com os pontos "cardeais" que me foram dados, emprrendi a busca pela casa do professor Vicente Freitas.
Como temia, chegamos ainda em ocasião na qual a família tomava os primeiros cuidados matinais para a lida de mais um dia. Porém fomos muito bem recebidos e minha figura, antes virtual tornou-se real, bem como a do professor vicente Freitas a mim também.
Em minha fala inicial pedi desculpas por ter chegado tão cedo e reforcei meu intuito de estreitar os laços da luta pela preservação dos patrimônios locais na região.
Vicente Freitas, em sua fala, partilhou-nos sua trajetória e os rendosos frutos desta como a publicação de seu livro Bela Cruz, Biografia do Município (cujo link de acesso virtual os nobres leitores poderão acessar no final deste texto) e o seu riquíssimo e raro acervo bibliográfico, de livros que nunca sonhávamos conhecer, como o da poetisa Dinorah Ramos onde reuniu as poesias de seu tio Antônio Tomás.
Terminado este primeiro momento de visita fomos ao Museu Emílio Fonteles. Lá fomos recebidos pela senhora Aurinélia que, gentilmente, nos abriu o Museu apesar de ser dia Santo.
A casa onde está situado ainda mantém muito de seus traços originais e o acervo, constituído em grande parte por utensílios do cotidiano das famílias, do comércio,dos serviços públicos, com uma sala que homenageia Monsenhor Odécio; é pequeno para o espaço da casa.
PRIMEIRA SALA DO MUSEU EMÍLIO FONTELES

O Museu existe desde 1999, passou por duas sedes anteriores, por um período onde ficou fechado, estando hoje aberto nos três turnos à visitação pública aos cuidados professores da rede municipal ali lotados para esse fim.


UTENSÍLOS DA SEGUNDA SALA. DENTRE ELES ESTÃO: MOLDES PARA A FABRICAÇÃO DE DENTES DE OURO E UMA MÁQUINA DE DEBULHAR MILHO.

Muitos dos desafios do Museu Emílio Fonteles estão presentes também no Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana como períodos alternados de grande número de visitas e períodos de quase nenhuma visita e a necessidade da capacitação de pessoas para a catalogação das peças museais.

PARAMENTOS DE MONSENHOR ODÉCIO EM SALA DO MUSEU DEDICADA À SUA MEMÓRIA

Findamos nossa visita conhecendo um acervo particular de objetos museais de um vizinho de Vicente Freitas. Contudo, a ausência momentânea do dono não possibilitou conhecer melhor o mesmo.
Nos despedimos do professor Vicente Freitas agradecendo-lhe a generosidade com que nos recebeu e voltamos a Santana ainda mais cientes daquilo que suspeitávamos: o vale do Acaraú tem ainda muita história pra contar e precisa ser enxergado por aqueles que regem o destino dos bens culturais no País.
A Vicente Freitas e à equipe do Museu Emílio Fonteles nosso muitíssimo Obrigado. Esperamos que esse encontro seja o primeiro de muitos.
ACESSE A OBRA DE VICENTE FREITAS COLANDO ESTE LINK NA BARRA DE NAVEGAÇÃO LINK:http://www.agbook.com.br/authors/34319

domingo, 9 de outubro de 2011

AS CARAVELAS PASSAM

CAROS AMIGOS

AQUI PARTILHO COM VOCÊS UM VÍDEO QUE ESTÁ DIVIDIDO EM TRÊS PARTES. ESTE, A QUEM SE ABRIR Á MENSAGEM, MUDARÁ TOTALMENTE O PENSAMENTO QUE TEM SOBRE ÍNDIOS.
MUITOS ÍNDIOS CONVIVEM CONOSCO E NÃO SABEMOS. ÍNDIOS QUE NÃO TÊM VERGONHA DE SEREM ÍNDIOS!
ASSITA E MUDE SEU PENSAMENTO!







sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MUNICÍPIO DE SANT'ANNA - CAPÍTULO I

A PARTIR DESTA DATA TRAREMOS AO LEITOR DESTE BLOG,CAPÍTULOS DO LIVRO O MUNICÍPIO DE SANTANA. MANTEREMOS O PORTUGUÊS ORIGINAL.
APÓS A TRANSCRIÇÃO DE CADA CAPÍTULO FAREMOS COMENTÁRIOS E APRESENTAREMOS AO LEITOR TEXTOS QUE APROFUNDARÃO O CONHECIMENTO DO TEXTO.

LIGEIROS TRAÇOS HISTÓRICOS E
TOPOGRÁFICOS DO MUNICÍPIO DE SANTANA

PUBLICADO NO MUNICÍPIO DE SANTA'ANNA JORNAL QUE CIRCULOU
POR MUITO TEMPO NAQUELLA CIDADE


No meado do século 16º, quando a Capitania de Pernambuco, fundada por Duarte Coelho, em 1530, se fazia notar entre os principaes pontos das Colonias do Norte do Brasil, uma pequena parte do território do Ceará, notadamente a que se estendia pelo seu litoral, já era conhecida; concorrendo para isso as relações que entre si mantinhão aquella Capitania e a do Maranhão, fundada na mesma epocha.
Antes de prosseguir, duas palavras ao respeitavel publico: - Começando assim a historia do Municipio, declara o folhetinista que não entra no seu plano desenvolver a história da Provincia.

Se antes de entrar no seu proposito remonta-se a data anteriores, e relembra o nome de ilustres cavalheiros, que figura na história patria, teve em vistas a de que hora se occupa d'essas circumstancias, como precedentes a fim de que, conhecidos os factos, não desappareção aquellas no continuo perpassar dos tempos, e não passe a memoria destes sem a homenagem que lhes é devida.
Sendo pois este seu pensaemnto, desde já pede mil desculpas ao leitor por essa especie de digressão antecipada, e pellos erros que comemtter, rogando ao critico que o coadjuve, uma vez que o seu fim é descrever com verdade os acontecimentos mais notaveis no Municipio, acompanhando-os de uma descrição topographica mais ou menos fiel.

Dadas estas razões continuemos:
Fechado o círculo de ferro do seculo 16º, fertil em depredações contra os nacionaes do Brasil, appareceo na gerencia da Capitania de Pernambuco, como seu governador - Diogo de Menezes. Tinham cessado de alguma forma as luctas intestinas na sua administração; e no intuito de augmentar seus dominios, lembrou-se esse Governador do honrado cidadão - Martim Soares Moreno, que no posto de Tenente, exercia o comando interino da Fortaleza do Rio Grande do Norte, e o nomeou, em 1608, Capitão - Mor do Ceará.
Noemado, tratou Moreno de investir-se de seu cargo; e nesse pensamento partiu para o Ceará, a cujas plagas chegou no ano de 1609, com dois soldados e um capellão.
Desconhecidos lhe erão os costumes dos indios; e diversas hordas de barbaros habitavão aquellas immediações: Moreno, pois, levou algum tempo estudadndo as imediações destes e a natureza do sitio em que devia estabelecer-se; e em breve mostrou que seus esforços forão coroados de feliz resultado, porque em 1611, dois annos depois, lançou os primeiros fundamentos da Colonia Cearense, no logar ainda hoje conhecido como Villa - Velha.
Este acontecimento fixa a data mais importante do território cearense; d'ahi procedeo o desenvolvimento da Provincia.
O seu capitão Mór, perfeito patriota, era incansavel na defeza e vigilancia da Colonia nascente; em 1613, no designio de evitar o acontecimento dos Francezes, que invadião o Maranhão, esteve com forças expedicionariasna enseada do Jeriquaquara.
Muito teria ganho a nova Colonia, se porventura, tão cedo, não tivesse perdido a intervenção do seu Capitão - Mór. Estacinando Moreno no Jeriquaquara, alli recebeu ordens, e partio para o Maranhão, a fim de examinar o estado de defeza daquella Ilha, e concluída a sua missão, na volta viu-se obrigado a arribar às Antilhas, d'onde seguiu para Madrid.
Ficou, pois, substituindo - o no comando do Fortim do Ceará, que elle havia denominado - de Nossa senhora da Conceição do Amparo - Manuel de Brito Freire, depois substituido por estevão de Campos.
Erão já decorridos13 annos d'auzencia de Moreno, quando este em 1626, regressou ao Ceará.
Acontecimentos estraordinarios se haviam dado durante sua auzencia.
Em 1621, a Hollanda, no intuito de promover o enfraquecimento da Hespanha, creou uma Capitania Mercantil e de caracter bellicoso, que, fasendo o commercio por differentes Paizes, ultimamente invadio com suas forças quasi todo o Norte do Brasil, até mesm o o Ceará, sem enm uma importância naquelle tempo.
este facto, de que se originou o episódio mais importante da historia patria, motivou serias medidas por parte do conselho ultrmarino: Como um meio de evitar a pirataria Hollandeza, aquelle governo resolveo crear em 1626, um estado no Maranhão, separado do resto do Brasil, annexando-lhe o Ceará, e nomeou para seu governador gerala Francisco Coelho de Carvalho, que nesse mesmo anno, coincidindo com a chegada de Moreno, tomou posse no fortim do Amparo.
Moreno era um distincto cavalheiro; e a nuvem do desgosto que pertubou-lhe a alma, não poude offuscar-lhe os sentimentos de seu patriotismo.
Continuou, pois, no seu posto de commandante do fortim; e ajudadndo Jacaúna, irmão de Camarao, repellio nesse mesmo anno a duas tentativas de Piratas Hollandezes, Adberia, entrtanto, por suas antigas relções com o governo de Pernambuco, e, em 1631, indo para alli em socorro de Mathias de Albuquerque, deixou em su logar Domingos de Veiga Cabral, e desde então, não voltou mais ao Ceará.
Partindo Moreno, veiga Cabral teve de empenhar-se logo na luta tremenda, que lhe offereceram os holandeses, dispostos a conquistar o Ceará.
A resistêncai foi tenaz; e n'altura do gênio nacional!Mas, sendo desiguaes as forças, venceram os invasores, que apodrando-se do Fortim do Amparo em 1637, tiverão o litoral do Ceará sob seu domínio até o anno de 1644.
Foi nesta epocha que os indigenas que soffrião dos Hollandezes, animados pela revolta que se opreva no Maranhão, sorpreenderão e degolarão a guarnição do Amparo e dos fortes de Jeriquaquára e Camocim, desprendendo-se deste modo do governo Hollandez, cuja duração foi apenas de 7 annos, sempre de continuas guerrilhas!
Pernambuco, Parahyba e Rio Grande do Norte gemião a esse tempo sob o extermínio da guerra Hollandeza, que durou até 1654 24 anos a contar de 1630; e foi nesse período de guerra que as famílias fugindo às vexações de que eram victimas, tendo antes procurado os sertões vierão algumas dellas, estabelecer-se ao sol do Ceará, e outras do litoral, recebendo, por esse facto, o valle do Acarahú, os seus primeiros povoadores, procedentes destas três regiões.
Os Rios até esse anno - 1654, erão os unicos caminhos, que davão entrada ao interior do Paiz.
Martim Soares Moreno,pois, foi o fundadaor do Ceará, e portanto o Municipio de Sant'Anna jamais lhe poderá esquecer o nome. Se valiósos forão os seus serviços prestados na defesa do seu território, que por algum tempo amparou contra as tentativas hollandezas, naõ menos importantes forão os que prestou na luta travada com estas em Pernambuco.
Amante da Colonia que fundâra e alem disto conhecedor de grande parte do solo cearense, não se poupava para engrandece-la, e muito concorrerão para augmento de sua povoação as informaçãoes criteriosas, que a seu respeito manifestava nas grandes reuniões, à que asistia, entre os notáveis daquella capitania.
Em 1646, porem, quando o Ceará já se havia libertado do jugo Hollandez, publicando-se em Pernambuco uma ordem positiva vindo de Portugal, em que se determinava sua retirada da Capitania, durante a tregoa assentada com a Holanda, desgostoso, Moreno abraçou seus antigos companheiros de luta - João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias, Camamrão e Jacaúna, e poucos Dias depois dessa ordem, partio para Lisboa, aonde dormiu o sono fatal do esquecimento, em que na maioria dos casos, repousão as almas nobres e desinteressadas!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

INSCRIÇÕES RUPESTRES DO SERROTE DA ROLA - CAPÍTULO II


Não se pode ainda precisar quando o povo santanense identificou em seu território as inscrições rupestres do Serrote da Rola. Muito menos ainda se sabe de que período elas são e quantos milênios de história elas contam.
Fato mais curioso ainda é que os meninos de hoje continuam a se aventurar pelas veredas do Serrote da Rola para ver de perto a Pedra do letreiro e deixar ali também suas marcas, num desejo inconsciente de se eternizar, assim como o seus antepassados. Isto pode ser observado pelas inúmeras pixações e rabiscos presentes no painel das inscrições, que só não são maiores graças a vigilância dos cabatões no verão e a dificuldade de chegar que o mato impõe no inverno.

Passear pelas trilhas do Serrote é uma diversão antiga. Ouvimos muitas memórias.
Meu pai, José Cirineu costa, conta que, em seu tempo de menino, enveredava pelas trilhas do Serrote com os companheiros para caçar, colher caju (houve uma época em que os cajueirais do entorno do serrote era muito maiores), tomar banho nos olhos d'água, comer araçá, subir nas partes altas do Serrote para jogar lá de cima grandes pedras soltas e colher pedras de cor verde e violeta que eles achavam ser na época pedras preciosas.

PADRE ANTÔNIO TOMÁS ( 1º PRINCIPE DOS POETAS CEARENSES) EM UM PIC - NIC NO SERROTE DA ROLA

Pessoas que moram ainda nos arredores do Serrote contam, numa lenda, que as inscrições da pedra do letreiro foram feitas por homens do espaço e que ainda hoje, durante a noite, é possível ver luzes de várias cores no lugar onde fica o painel das inscrições. Ainda conforme a história, aqueles que conseguirem decifrar o que dizem as inscrições serão levados para morar com estes "homens do espaço".

PEDRA DA IGREJA


Outra lenda afirma que os que conseguirem decifrar o que dizem as inscrições, devem pronunciar as palavras encantadas para que a pedra da igreja, vizinha à pedra do leteiro, se abra e dê acesso a um grande tesouro.
A primeira notícia oficial das inscrições do Serrote da Rola que conhecemos foi dada pelo artigo de João Franklin de Alencar Nogueira em artigo publicado pela Revista do Instituo do Ceará em 1901.
No governo Municipal do Prefeito José Ari Fonteles, o então Secretário de cultura Audifax Rios, trouxe uma equipe da Universidade Federal do Ceará que ali realizou uma prospecção da qual nenhum resultado se conhece.

DOUTORA MARCÉLIA MARQUES NA OCASIÃO DA PROSPECÇÃO QUE REALIZOU NO SÍTIO DAS INSCRIÇÕES RUPESTRES DO SERROTE DA ROLA

No ano passado, a convite do Memorial da Paróquia, a doutora Marcélia Marques da UECE, realizou uma prospecção preliminar onde mediu o painel das inscrições, fotografou as inscrições e constatou que muitas delas já estão sofrendo sério desgaste pelos intemperismos físico, químico, biológico e "humano".
O programa Riquezas do Ceará gravado em Maio deste ano em Santana, documentou o estado de conservação das inscrições e, na ocasião, sendo entrevistado no local denunciei a ineficiência do órgão Federal responsável que, já tendo sido avisado por nós através de diversos e-mails, nunca os respondeu.

Neste ano, uma equipe da CHESF visitou também o sítio das inscrições rupestres da Pedra do letreiro, realizando ali também uma prospecção preliminar, numa primeira avaliação do território que ficará em volta daquele por onde passarão torres de transmissão de energia. Uma segunda visita está programada em data por nós ainda desconhecida.
Longe de quere ufanar-se dos contatos que já fez,dos amigos que de perto e de longe participam e participaram de sua causa, da bandeira em defesa do patrimônio que levanta e do grito que eleva no deserto de indiferenças, o Memorial da Paróquia de Nossa Senhora Santana quer estimular os ânimos adormecidos para que percebam que, com iniciativas pequenas e voluntárias, podemos ir fazendo diferença.
Preservar a pedra do letreiro é ter respeito pela história daqueles que chegaram milênios antes de nós e oferecer ás nossas crianças e jovens uma oportunidade de crescerem em autonomia.